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Máscara de proteção pendurada em espelho retrovisor em Santiago, Chile, 6 de abril. Países consideram “passaportes de imunidade” para liberar do isolamento pessoas que se infectaram com o novo coronavírus e se recuperaram
Máscara de proteção pendurada em espelho retrovisor em Santiago, Chile, 6 de abril. Países consideram “passaportes de imunidade” para liberar do isolamento pessoas que se infectaram com o novo coronavírus e se recuperaram| Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

Enquanto boa parte do mundo sofre restrições por causa da pandemia do novo coronavírus, muitas pessoas se perguntam por quanto tempo terão que permanecer isoladas e quando a vida poderá voltar ao normal.

Vários países já estão pensando em estratégias para que a população comece a deixar o confinamento. Uma das ideias que têm sido cogitadas é a de um "passaporte de imunidade", um documento que seria entregue a pacientes que tiveram covid-19 e se recuperaram, para que eles possam sair do isolamento e retomar suas atividades. Porém, para o conceito ser colocado em prática, grandes obstáculos ainda precisariam ser superados.

O ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock - que contraiu covid-19 e há alguns dias deixou o isolamento - defende a ideia, dizendo que os britânicos que tiveram o vírus podem receber esse documento, que está sendo chamado de passaporte de imunidade e é comparável a um certificado de vacina.

"Estamos analisando um certificado de imunidade. Pessoas que tiveram a doença, adquiriram anticorpos e portanto têm imunidade, podem apresentar [esse documento] e voltar à vida normal o quanto for possível", disse ele, segundo a CNN. O certificado poderia ser em formato de pulseira. Hancock admite, no entanto, que ainda é cedo para a implementação de medidas como essa.

A Alemanha também considera o conceito de passaportes de imunidade. Institutos de pesquisa alemães estão conduzindo um estudo para saber quantas pessoas estão imunes à covid-19 no país, fazendo testes em massa na população. O governo alemão ainda não comentou oficialmente sobre a proposta de um certificado de imunidade.

Segundo a Spiegel, os cientistas alemães querem descobrir o quanto o vírus já se espalhou e quantas pessoas infectadas ele realmente mata. Os resultados desse estudo tornarão mais fácil decidir quando reabrir escolas e permitir a realização de grandes eventos.

Na região do Vêneto, na Itália, médicos e outros profissionais de saúde que foram infectados pelo novo coronavírus estão sendo testados para descobrir se eles passaram a ter resistência à doença, para assim, voltar ao trabalho.

Obstáculos

O primeiro desafio a essa proposta é que ainda não se sabe com certeza se quem já contraiu a covid-19 está imune contra a doença em longo prazo.

Pacientes infectados com Sars, que também é um tipo de coronavírus, não ganharam imunidade de longo prazo contra a doença, mas sim por um período de até um ano depois da infecção. No caso do novo coronavírus, há casos de pacientes que tiveram resultados positivos quando foram testados uma segunda vez, depois de terem recebido alta.

O segundo obstáculo é a precisão dos testes atuais. Os testes que detectam a presença de anticorpos contra o novo coronavírus no sangue dos pacientes são muito novos e ainda estão sendo desenvolvidos, e não há provas suficientes de que eles funcionariam da maneira necessária para determinar se os pacientes testados têm ou não imunidade contra a doença, segundo o próprio Departamento de Saúde do Reino Unido.

"Estamos no momento trabalhando com várias empresas que estão oferecendo esses testes e avaliando a sua efetividade. Testes de anticorpos oferecem a esperança de que as pessoas que pensam que podem ter tido a doença poderão saber que estão imunes e voltar à vida normal", disse o ministro de Saúde britânico, Matt Hancock, em comunicado. "Mas é fundamental que eles comprovadamente funcionem".

Possíveis benefícios dos passaportes de imunidade incluem a volta mais rápida ao trabalho de profissionais essenciais, como equipes de saúde, que estão isolados. Com isso, os médicos e enfermeiros que tiverem resultados positivos poderiam ser colocados para atender as áreas de maior risco e os materiais de proteção, que estão em falta, poderiam ser distribuídos melhor entre os que mais precisam.

Porém, enquanto os testes não forem precisos o suficiente, existe o risco de que profissionais de saúde que tenham falso negativo no resultado do teste de imunidade voltem a trabalhar e aumentem os riscos de transmissão.

Um aspecto do passaporte de imunidade destacado por críticos do conceito é o seu potencial de provocar divisão e discriminação na sociedade - entre quem pode trabalhar e quem não pode, quem pode sair de casa e quem não pode, de acordo com os anticorpos que carrega no sangue.

Esse sistema, se implementado, "veria um grupo recebendo o direito de retomar as liberdades civis que havia perdido com o lockdown, e outro grupo parado em casa enquanto espera contrair um vírus que mata aqueles que infecta", ponderou o jornal britânico The Guardian em editorial.

Paul Hunter, pesquisador de proteção de saúde da England's University of East Anglia, apontou outro perigo potencial dos passaportes da imunidade. Em entrevista à CNN, Hunter falou sobre o potencial de fraudes. "As pessoas poderão fingir que estão imunes, quando não estão, porque elas precisam sair de casa para ganhar dinheiro?", questionou.

O pesquisador, assim como outros especialistas, também levantaram a hipótese de que algumas pessoas poderiam querer se infectar, com a esperança de se curar e voltar à ativa - o que tornaria a medida inútil.

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