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O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, participa da sessão de liderança do BRICS, em Brasília, no dia 14 de novembro de 2019| Foto: EFE/JOÉDSON ALVES

Milhares de pessoas se manifestaram, nesta segunda-feira (20), em várias cidades da África do Sul para exigir a renúncia do presidente do país, Cyril Ramaphosa, como parte do protesto nacional convocado pelo partido de oposição Combatentes da Liberdade Econômica (EFF, na sigla em inglês).

Com faixas nas quais podiam ser lidas palavras de ordem como "Renuncie, Ramaphosa", os manifestantes responderam ao apelo da EFF, um partido de esquerda radical e terceira força política sul-africana, vestidos com as camisas vermelhas que caracterizam aquela formação.

"Hoje estamos aqui para protestar. Temos um encontro marcado com as ruas. Não vamos correr. Vamos caminhar muito bem para mostrar nossas preocupações", disse o líder da EFF, Julius Malema.

"Ramaphosa tem de sair", exigiu Malema em uma marcha até ao Union Buildings, sede do governo sul-africano em Pretória, onde denunciou a "ditadura" que atribuiu ao chefe de Estado.

Na sua carta semanal, o presidente admitiu nesta segunda-feira (20) que a Constituição garante o direito de manifestação, mas advertiu que "o direito de protestar não dá a ninguém o direito de assediar, intimidar ou ameaçar ninguém. Não dá a ninguém o direito de danificar bens ou causar dano a qualquer pessoa".

Pelo menos 87 pessoas foram detidas por atos de violência entre este domingo e esta segunda-feira na África do Sul, como parte do protesto nacional convocado pela EFF, disse o ministro da Polícia, Bheki Cele, em entrevista coletiva em Joanesburgo, afirmando que serão apresentadas acusações contra os detidos.

Corrupção, desemprego e crise energética

A África do Sul amanheceu em estado de alerta contra o apelo à greve nacional lançado para esta segunda-feira pelo partido de Malema em conjunto com a Federação de Sindicatos da África do Sul (Saftu), uma das principais organizações de trabalhadores do país.

Os organizadores pedem a renúncia do presidente sul-africano e protestam contra a elevada taxa de desemprego sofrida pelo país que, embora tenha caído no final de 2022 pelo quarto trimestre consecutivo, ainda se situa nos 32,7%.

Da mesma forma, opositores e ativistas reclamam da grave crise energética que atravessa a África do Sul, cuja economia foi atingida por constantes apagões rotativos durante o último ano, fenômeno conhecido como "load shedding" ("corte de energia") e causado pelo mau estado de sua rede elétrica, dependente quase totalmente da endividada companhia estatal Eskom.

A corrupção, o deficiente planejamento diante do aumento da procura energética, as avarias e o impacto da criminalidade (por exemplo, roubo de equipamentos e cabos) são alguns dos fatores que explicam esta crise, que levou Ramaphosa a declarar o “estado de calamidade nacional” e criar um novo Ministério da Eletricidade.

Desde a última sexta-feira até ao próximo dia 17 de abril, membros da Força Nacional de Defesa da África do Sul (SANDF, na sigla em inglês) foram destacados para apoiar a polícia no dispositivo de segurança contra os protestos, segundo a imprensa local.

História se repete

A tensão em torno das mobilizações de hoje evoca os convulsivos protestos desencadeados em julho de 2021 depois que o ex-presidente Jacob Zuma foi preso por desacato, após se recusar repetidamente a testemunhar na grande investigação conhecida como "Captura do Estado" sobre suposta corrupção no aparato público sul-africano sob seu mandato.

Dias depois de sua prisão, no início daquele mês, eclodiram no país motins e saques em massa que, embora tenham começado como protestos de apoio ao ex-presidente, degeneraram em violência generalizada, impulsionados pelos graves problemas socioeconômicos do país, que causou 354 mortos.

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