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O presidente da Argentina, Alberto Fernández, fala durante coletiva de imprensa na Casa Rosada, em abril de 2022.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, fala durante coletiva de imprensa na Casa Rosada, em abril de 2022.| Foto: EFE/ Juan Ignacio Roncoroni

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, enfrenta o último ano e meio de seu mandato navegando entre a incerteza econômica deixada pela alta inflação e a polêmica por uma festa que promoveu no pior momento da pandemia. Fernández vivencia forte queda de sua imagem nas pesquisas e se tornou alvo de críticas dentro e de fora do partido governista.

O presidente argentino participou nesta quarta-feira (25) do tradicional Tedeum por ocasião do 25 de maio, dia em que se comemora a formação do primeiro governo nacional argentino. No discurso, ele pediu "unidade". "A unidade depende de nós, é uma decisão individual e não quero que pensem como eu, mas as pessoas vêm em primeiro lugar", disse à imprensa.

O analista político da consultoria Clivajes, Esteban Regueira, afirmou que a principal causa do declínio da imagem presidencial se deve aos problemas estruturais econômicos que a Argentina atravessa desde 2019 e ainda não foram resolvidos.

“O governo priorizou o acordo com os credores, o que, embora fosse algo muito importante e necessário, acabou sacrificando a contenção da economia local, e, se somados os conflitos internos travados na coalizão governista Frente de Todos, acaba sendo uma combinação letal", explicou o especialista.

Um relatório publicado no início deste mês pelo estudo D'Alessio IROL indicou que o governo Fernández tem uma avaliação negativa de 73%, a mais alta desde que assumiu o cargo.

A preocupação dos argentinos, independentemente de sua ideologia, é a inflação e o aumento dos preços dos produtos básicos. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), a taxa de inflação registrou um aumento interanual de 58% no mês passado, o maior avanço desde janeiro de 1992, quando o país começava a sair da hiperinflação.

Conflito de interesses

Por outro lado, o conflito interno entre o chefe de Estado e a vice-presidente e ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015) dificulta a gestão, em geral, e a resolução da crise econômica, em particular.

Na última segunda-feira (23), o secretário de Comércio Interno, Roberto Feletti, que tinha papel fundamental no controle de preços e era próximo à vice-presidente, pediu demissão.

Feletti tomou a decisão depois que Fernández decidiu na sexta-feira passada (20) que a Secretaria do Comércio Interno deveria sair da órbita do Ministério do Desenvolvimento Produtivo para depender do Ministério da Economia, sob as ordens de Martín Guzmán, ministro cuja política econômica é publicamente contestada por Cristina e o setor que a ex-presidente lidera na Frente de Todos.

“(Cristina) quer se distanciar da atual gestão porque esta não se enquadra nos objetivos da economia social que o kirchnerismo usou para se fortalecer enquanto estava no poder", ponderou o analista político.

Estopim político

A homologação do acordo entre o presidente argentino e o Ministério Público para encerrar o caso sobre a festa de aniversário de sua companheira, Fabiola Yáñez, também tem sido criticada pela oposição. O evento ocorreu na residência presidencial em julho de 2020, em pleno confinamento total devido à pandemia de covid-19.

O procurador Rodolfo Domínguez, do Ministério Público Federal de San Isidro, considerou "razoável" a doação de 1,6 milhão de pesos (cerca de R$ 65 mil) para encerrar o caso que afetou a imagem pública do presidente.

O caso explodiu no ano passado, às vésperas das eleições legislativas, quando várias fotos da festa do 39º aniversário de Yáñez na residência presidencial de Olivos vazaram para a imprensa.

Isso levou à abertura de uma investigação judicial pela suposta violação das restrições sanitárias vigentes na época, pela qual foram acusados ​​o presidente e sua companheira, além dos nove amigos com quem comemoravam o aniversário.

Segundo Regueira, a festa em Olivos acabou sendo uma espécie de "golpe de misericórdia" para o presidente argentino. “Incomodou muito as pessoas que não podiam sair para trabalhar. Na Argentina, a economia informal é muito grande e, se não saem para trabalhar, não trazem dinheiro para casa. Esse foi um estopim político muito importante para a Frente de Todos, de alguma forma foi o início do colapso da coalizão", comentou.

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