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Reunião de encorajamento a pastores e líderes perseguidos, realizada pela Portas Abertas na Colômbia
Reunião de encorajamento a pastores e líderes perseguidos, realizada pela Portas Abertas na Colômbia| Foto: Divulgação/Portas Abertas

A Colômbia apareceu em 30º lugar na lista de 2022 dos países que mais perseguem cristãos, ranking elaborado anualmente pela organização cristã internacional Portas Abertas. A entidade aponta que as principais ameaças são líderes de comunidades indígenas, que alegam que os cristãos tentam impor sua visão de mundo, e as guerrilhas que disputam territórios e rotas do tráfico de drogas.

No ano passado, poucos dias após a celebração do quinto aniversário do acordo de paz firmado entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo do país, o Departamento de Estado dos Estados Unidos confirmou a retirada das antigas Farc da sua lista de grupos terroristas, na qual haviam sido incluídas 24 anos antes, e a inclusão de duas dissidências da antiga guerrilha.

Ex-guerrilheiro das Farc, o colombiano Jasar (pseudônimo, adotado por questões de segurança) está no Brasil desde o final de janeiro, onde presta testemunho em igrejas cristãs de várias cidades – entre elas São Paulo e Cascavel (PR) – sobre sua vida na guerrilha e sua conversão à fé cristã.

Em entrevista à Gazeta do Povo, ele relatou que as dissidências das Farc e outros grupos guerrilheiros seguem perseguindo cristãos no seu país. “Toda vez que a guerrilha cresce, novos comandantes surgem e por conta disso as igrejas continuam sendo perseguidas, porque eles querem território. Tivemos um caso em 2 de janeiro, foram à casa de um pastor e o mataram, e há mais quatro irmãos desaparecidos”, contou.

Jasar, que prefere não especificar onde mora e nem ser fotografado por questões de segurança, nasceu numa região dominada pelas Farc. Sua mãe morreu logo depois e o pai o entregou a famílias que apoiavam a guerrilha. Com seis anos, já treinava táticas de guerrilha com armas de madeira. Quando participou da sua primeira ação em que ocorreram mortes, tinha sete anos. Com oito, já era comandante guerrilheiro.

Chegou ao auge dentro das Farc aos 17 anos, quando passou a comandar um grupo de 300 guerrilheiros. Nessa época, já atuava fortemente na repressão aos cristãos.

“As Farc tinham a concepção de serem filósofos e materialistas, nada de espiritual, e até hoje os guerrilheiros acreditam que os cristãos vêm para a Colômbia através dos Estados Unidos, ou seja, seriam espiões americanos para entregar a localização dos comandos”, explicou Jasar.

“As igrejas não trabalham com os guerrilheiros, os cristãos não levam nem trazem coisas, não ajudam, ou seja, ficam à parte. Portanto, são considerados inimigos porque não trabalham com eles. Os cristãos entram nos campos para visitar as pessoas, os pastores, e ajudar a levantar igrejas, e isso a guerrilha não permite. Essas pessoas não podem entrar, e quem desobedece a essa ordem é morto”, acrescentou.

Apesar de ser ateu à época, Jasar já havia tido experiências com Deus por meio de sonhos, visões e pessoas que lhe falavam sobre Jesus, mas relatou que a partir dos 17 anos ocorreram três episódios que levaram à sua conversão.

O primeiro foi quando ameaçou um jovem que pregava na região dominada pelas Farc. “Eu tinha um [fuzil] AK-47 e uma pistola, e aquele rapaz tinha só uma Bíblia na mão”, recordou. “Ele me disse: ‘Se você me matar, Deus vai levantar você para pregar no meu lugar’. Desde aquele momento, não consegui fazer mais nada direito, porque em toda ação militar, vinha à minha mente a conversa que eu tive com aquele homem.” Jasar poupou o rapaz.

A segunda experiência foi quando se isolou para “invocar e fazer um pacto com Satanás”, para se tornar um guerrilheiro “igual ou até maior do que Che Guevara”. Sem resposta, Jasar tentou então invocar “o Deus daquele rapaz com a Bíblia na mão”, mas também nada aconteceu. Na mesma noite, Jasar sonhou com uma luz muito forte e uma voz, dizendo ser Jesus de Nazaré, ordenando-lhe que se arrependesse. “Acordei chorando, desesperado, como nunca tinha chorado antes”, afirmou.

A experiência derradeira foi quando foi cercado pelo Exército numa área de neblina. Já pensando em se matar para não se entregar, pediu a Deus para tirá-lo dali, e em troca iria “servi-lo até morrer”.

“Eu senti um vento forte, um calor, e perdi a consciência. Quando recobrei a consciência, estava a 1 km de distância do cerco militar. Eu estava de joelhos, chorando amargamente, e ouvi uma voz vinda do céu: ‘Jasar, sou Jesus de Nazaré, que tirou você daquela batalha; levante-se, me sirva e não volte atrás’. E desde então me tornei um seguidor de Jesus e prego a palavra onde fazia a mesma perseguição aos cristãos. Eu era um perseguidor, agora sou um perseguido pela causa de Cristo”, afirmou.

Jasar hoje dirige uma igreja cristã. Pelo caráter apartidário das Portas Abertas, ele preferiu não fazer comentários sobre o acordo das Farc com o governo da Colômbia, nem sobre o partido Comunes, formado por ex-integrantes da guerrilha.

Mas fez uma advertência para países onde os cristãos não são perseguidos. “Meu conselho, enquanto cristão praticante e perseguido, é que aproveitem o tempo que têm para servir ao Senhor e não o desperdicem, porque nos países onde não existe perseguição, ela pode chegar. Meu conselho é que aproveitem essa oportunidade, se consagrem diante do Senhor e assim estarão fortalecidos, independentemente do que venha a acontecer”, concluiu.

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