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Grupos de esquerda realizaram protestos contra o acordo nesta semana em frente à Casa Rosada
Grupos de esquerda realizaram protestos contra o acordo nesta semana em frente à Casa Rosada| Foto: EFE/Enrique García Medina

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, retornou nesta quarta-feira (9) ao país após compromissos oficiais na Rússia, China e Barbados e já busca apoio político para que o Congresso ratifique o acordo alcançado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para a renegociação de uma dívida de mais de US$ 40 bilhões com a entidade.

Fernández desembarcou em Buenos Aires após visitar o país caribenho, onde se reuniu com a primeira-ministra, Mia Mottley. Antes, ele esteve em Moscou e Pequim e teve encontros com o presidente russo e o ditador chinês, Vladimir Putin e Xi Jinping.

Justificada pelo estreitamento dos laços políticos e econômicos com o gigante asiático e com a ex-república soviética, a viagem gerou críticas na Argentina pela postura do presidente argentino na reunião com Putin, em meio à reta final da negociação com o FMI, organização em que os Estados Unidos têm o maior poder de voto.

As críticas se devem ao momento da viagem, em meio às tensões entre EUA e Rússia por causa da crise militar na fronteira russa com a Ucrânia.

“Estou convencido de que a Argentina tem que deixar essa grande dependência em relação ao fundo e aos Estados Unidos e tem que abrir caminho em outras direções, e me parece que a Rússia tem um lugar muito importante [nisso]”, disse Fernández durante o encontro com Putin.

O presidente argentino iniciou a viagem internacional em 1º de fevereiro, quatro dias após anunciar um entendimento com o FMI para refinanciar a dívida de mais de US$ 44 bilhões (R$ 232 bilhões) contraída em 2018, durante o mandato de seu antecessor, Mauricio Macri.

Para entrar em vigor, o programa de quitação - que o governo insiste que não resultará em ajustes na economia nacional -, deverá ser ratificado formalmente pela direção do FMI e pelo Congresso do país, onde nenhum partido conta com maioria absoluta, mas o peronismo é a força com mais cadeiras.

Nos últimos dias, integrantes do kirchnerismo, que é a corrente peronista mais crítica em relação ao FMI, manifestaram dúvidas sobre apoiar um plano que acreditam ser nocivo ao país.

“Há setores que sempre foram muito críticos aos acordos com o FMI. Assim, terminar de concluir o memorando com o fundo, levá-lo ao Congresso e conseguir apoio da própria coalizão são os grandes desafios”, disse à Agência Efe a analista política Anabella Busso.

Na segunda-feira, Fernández, que havia dito na véspera da viagem que os acordos comerciais com Rússia e China estavam “condicionados” ao novo programa do FMI, disse estar certo de que a aliança Frente de Todos, que o levou ao poder, apoiaria o pacto para o refinanciamento.

“Foi alcançado o melhor dos acordos possíveis”, disse nesta quarta-feira o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Daniel Filmus, que disse estar convencido da aprovação no Congresso, devido à necessidade da Argentina de “encontrar estratégias para continuar crescendo”.

Críticas da oposição

A Juntos pela Mudança, principal coalizão opositora e da qual Macri faz parte, ainda não definiu uma posição comum, mas parece ter uma postura majoritária de impedir que o acordo não seja aprovado antes de março, o que obrigaria a Argentina a enfrentar uma cobrança que não poderá pagar.

“Pode chegar a ser uma posição, digamos, difícil de prever, porque alguns declararam que é necessário apoiar a negociação com o FMI, e outros disseram que não”, avaliou Anabella Busso.

Nesta terça-feira, Patricia Bullrich, uma das principais lideranças de oposição, criticou a possibilidade de o acordo resultar em um “ajuste de impostos para a classe média”, além de criticar a viagem de Fernández.

“Me deu vergonha que nosso presidente, diante de Putin, criticou os Estados Unidos e o FMI, sendo, além disso, a Rússia parte do FMI. É algo que não se faz, porque é o mesmo que ir aos Estados Unidos e criticar a Rússia”, disse a representante da Juntos pela Mudança.

Busso considera que, embora o papel dos EUA seja determinante devido ao peso que têm nas decisões do FMI, também é importante a postura de outros países que são parte da organização ou que podem fazer investimentos na Argentina. Por isso, ela acredita ser benéfico “diversificar” os vínculos.

“Porque, no caso de o acordo com o fundo não ser confirmado, uma das coisas importantes para evitar as dimensões de ajuste é que o país cresça e possa cumprir com seus compromissos com crescimento, mesmo com ajustes”, concluiu.

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