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A derrota da coalizão conservadora de Shinzo Abe renovou as esperanças do surgimento do bipartidarismo em um Japão governado pelo mesmo partido, praticamente sem interrupção, há mais de meio século.

O Partido Liberal Democrata (PLD), de Abe, perdeu no domingo quase metade de suas cadeiras no Senado, o que significou uma derrota histórica sem precedentes desde sua criação em 1955. Agora, o PLD não é mais o principal partido em uma das duas Câmaras do Parlamento.

Ao punir o grande partido da direita japonesa, os eleitores garantiram a vitória do Partido Democrata do Japão (PDJ), uma aliança singular de centro esquerda fundada em 1998, que toma o controle de uma assembléia pela primeira vez.

"A política japonesa vive uma virada crucial", explicou o cientista político Hidekazu Kawai, evocando "o começo do fim do 'regime de 1955'" que consagra a dominação sem rivais do PLD no cenário político.

De fato, desde o final da Segunda Guerra Mundial, o Japão vive praticamente sob o regime do partido único. Exceto por um breve período de dez meses, os Liberais Democratas sempre governaram o Japão com o apoio de uma base muito ampla, que agregava empresários, camponeses e a onipotente burocracia ministerial.

Mesmo com a derrota de domingo, o PLD pode se manter no poder, já que dispõe, até 2009, de esmagadora maioria na Câmara dos Deputados, que dá a última palavra em matéria legislativa.

O presidente do PDJ, Ichiro Ozawa, um hábil estrategista que planejou brilhantemente a vitória da oposição, é um dissidente do PLD, oriundo do mesmo grupo político de Shinzo Abe. Ele soube explorar a aversão de uma parte do eleitorado tradicional do PLD contra as reformas liberais de Abe e de seu predecessor Junichiro Koizumi.

De qualquer modo, ainda não está claro se isso é suficiente para governar o país, já que o PDJ, fruto de uma união improvável entre ex-socialistas e dissidentes do PLD, corre risco de ruptura a todo momento devido às suas contradições.

"Não foi um voto para que o PDJ chegasse ao poder. Era um voto contra Abe", resumiu Gerald Curtis, especialista em Japão, da Universidade de Columbia.

"O PDJ ainda não está maduro para chegar ao poder. Ele deve rezar para que Abe fique no poder o máximo de tempo possível e lhe dê tempo de se preparar para a batalha", completou Curtis.

Shinzo Abe se recusou a entregar o cargo, alegando que os japoneses teriam expressado sua insatisfação com os escândalos que mancharam seu governo, e não com seu programa neoconservador. De fato, a ideologia do PDJ não é muito diferente daquela de Abe.

"É muito cedo para dizer se um sistema bipartidário se estabelecerá no Japão", avaliou o cientista político Tetsuro Kato.

"Próxima etapa: as eleições gerais (em 2009). Resta saber se o PDJ poderá manter o ritmo até lá", completou.

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