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Um cartaz onde se lê "Esta embaixada pertence ao governo eleito da Venezuela" aparece na embaixada da Venezuela em Washington, EUA | Foto: Andrew CABALLERO-REYNOLDS/AFP
Um cartaz onde se lê “Esta embaixada pertence ao governo eleito da Venezuela” aparece na embaixada da Venezuela em Washington, EUA | Foto: Andrew CABALLERO-REYNOLDS/AFP| Foto: AFP

Um cartaz de protesto na janela de um prédio de quatro andares em Georgetown informa: "Esta embaixada pertence ao governo eleito da Venezuela".

Mas qual governo é esse exatamente?

Nicolás Maduro e Juan Guaidó – os dois homens que reivindicam a presidência do conturbado país sul-americano – estão agora engajados em uma luta para controlar os cargos diplomáticos da Venezuela. De Washington a Berlim, de Viena à Cidade do Panamá, suas disputas por legitimidade estabeleceram um conflito internacional entre corpos diplomáticos rivais, que afirmam ser os possuidores legítimos das embaixadas, consulados, credenciamento e acesso da Venezuela.

Enquanto lutam pela influência e pelos imóveis, eles estão reunindo aliados e encontrando inimigos.

Mesmo em Washington – onde o governo do presidente Donald Trump tomou a dianteira no apoio a Guaidó – Maduro ainda tem amigos. Recentemente, enquanto o último dos diplomatas de Maduro se preparava para deixar a imponente embaixada venezuelana, quase uma dúzia de manifestantes americanos entraram no local e prometeram impedir que os representantes de Guaidó se instalassem.

Para entrar e sair do prédio, ativistas de vários grupos de esquerda estão usando cartões-chave dados a eles pelo pessoal pró-Maduro. Medea Benjamin, cofundadora do grupo antifraude Code Pink, juntou-se a outros ativistas para bloquear o saguão da embaixada com bandeiras venezuelanas e retratos presidenciais de Maduro e seu antecessor, Hugo Chávez.

"Se alguém quiser vir dessa maneira, vai se deparar imediatamente com fotos de Maduro e Chávez", disse Benjamin na terça-feira (23). "Pensamos que seria apropriado".

 <br />Medea Benjamin, cofundadora do grupo antifraude Code Pink, juntou-se a outros ativistas para bloquear o saguão da embaixada com bandeiras venezuelanas e retratos presidenciais de Maduro e seu antecessor, Hugo Chávez | Foto: Andrew CABALLERO-REYNOLDS/AFP

Medea Benjamin, cofundadora do grupo antifraude Code Pink, juntou-se a outros ativistas para bloquear o saguão da embaixada com bandeiras venezuelanas e retratos presidenciais de Maduro e seu antecessor, Hugo Chávez | Foto: Andrew CABALLERO-REYNOLDS/AFP
| AFP

Guaidó, o líder da oposição que assumiu a presidência da Venezuela em janeiro, foi reconhecido não apenas pelos Estados Unidos, Brasil e outras nações, mas também por organismos internacionais, incluindo a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Maduro, que reivindicou a vitória nas eleições do ano passado, amplamente fraudulentas, ainda é reconhecido pela Rússia, China, Cuba e a Organização das Nações Unidas (ONU).

Pagando a própria conta e enfrentando protestos

Mesmo em muitos países onde a reivindicação de liderança de Guaidó foi reconhecida, seus embaixadores se viram envolvidos em uma dança diplomática bizarra.

Agindo mais como lobistas do que como emissários, eles são essencialmente diplomatas voluntários: pagam por suas próprias viagens, ficam em casas de parentes e, às vezes, recebem dos governos estrangeiros apenas pseudo-títulos que frequentemente ficam aquém do status diplomático pleno. Em muitos casos, eles estão coexistindo nas mesmas capitais que os emissários de Maduro.

"É definitivamente uma situação estranha", disse William Davila Valeri, emissário de Guaidó para a Áustria. Ele voa de classe econômica de sua casa, em Madri, para Viena com seu próprio dinheiro duas vezes por mês para cumprir suas obrigações diplomáticas lá. Ele dorme na casa de um primo durante o período que faz lobby junto aos austríacos, para que eles tomem uma posição mais dura contra Maduro, a quem a oposição culpa por uma crescente crise humanitária que deixou milhões de venezuelanos famintos.

Viena reconheceu a reivindicação de Guaidó à presidência. No entanto, como a maioria das nações da Europa, não retirou credenciais dos diplomatas de Maduro, criando um estranho limbo diplomático.

"O embaixador de Maduro ainda está por aí, como um Darth Vader da revolução", disse ele. "Mas eu tenho acesso ao governo e à mídia, o que é importante".

Fabíola Zavarce, representante de Guaidó no Panamá, chegou cedo a um fórum regional de nações na capital daquele país para fazer um discurso.

Ela estava tomando seu café da manhã, quando uma equipe de funcionários pró-Maduro chegou. Eles a avisaram que o ex-embaixador da Venezuela no Panamá estava a caminho, e que ela deveria partir – embora ele tenha sido destituído de seu status diplomático pelo governo panamenho.

"Eles entraram com comportamento hostil", contou Zavarce. Para evitar problemas, ela deixou a sala. Ao seu protesto juntaram-se os representantes de outras nações, incluindo Colômbia e Peru, o que resultou no cancelamento da reunião.

O Panamá reconheceu Zavarce como embaixadora da Venezuela e despojou os altos funcionários de Maduro de seu status diplomático. No entanto, a embaixada permanece sob o controle do governo de Maduro.

Esta situação é semelhante à que ocorre no Brasil e no Canadá.

O governo de Jair Bolsonaro reconheceu a indicada de Guaidó, Maria Teresa Belandria, como embaixadora da Venezuela em fevereiro deste ano, mas a embaixada em Brasília ainda está ocupada por diplomatas de Maduro.

O Canadá reconheceu Orlando Viera como embaixador, também no início de fevereiro, mas os consulados venezuelanos em Toronto, Montreal e Vancouver, bem como um escritório consular em Ottawa, ainda são dirigidos por funcionários de Maduro.

"Ser credenciado me dá a capacidade de me reunir com autoridades estrangeiras regularmente para comunicar a emergência humanitária da Venezuela e pressionar por um tratamento especial para os venezuelanos que moram no Canadá, que muitas vezes têm problemas de passaporte devido à ineficiência dos consulados", disse Viera. "Mas os funcionários de Maduro ainda controlam todos os dados. E nós não queremos gerar um conflito."

Viera trabalha em casa em Montreal e paga seu próprio transporte para reuniões em outras cidades. Ele fica com uma equipe de cerca de 30 voluntários.

"Nenhum de nós tem um salário", disse ele. "Não há orçamento para isso. Pagamos tudo do nosso bolso."

Viera disse que seu time tem sido confrontado há semanas por manifestantes pró-Maduro, que empunham cartazes onde se lê "deixe a Venezuela".

Tais protestos ocorreram também na Alemanha. O representante de Guaidó, Otto Gebauer, contou que estava chegando a uma reunião com venezuelanos que moravam em Hamburgo quando foi recebido por cerca de 16 pessoas segurando placas, chamando sua equipe de "fantoches dos EUA" e gritando que eles eram "golpistas".

"Houve insultos, mas nenhuma violência, já que havia policiais lá", disse Gebauer.

Controle dos edifícios da diplomacia venezuelana nos EUA

Quatro diplomatas pró-Maduro, ligados à OEA, que ainda estavam na embaixada de Washington perderam seu status depois que a organização reconheceu o enviado de Guaidó, no início deste mês. O Departamento de Estado dos EUA deu a eles duas semanas para partir – um prazo que termina na quarta-feira. Outros dois funcionários pró-Maduro que têm cidadania americana e venezuelana permanecem nos EUA. Eles se recusaram a falar com um jornalista e não ficou claro se eles continuariam a trabalhar na embaixada após a saída dos demais diplomatas.

Os representantes de Guaidó nos Estados Unidos já assumiram o controle de três edifícios nos Estados Unidos pertencentes ao governo venezuelano – dois prédios militares em Washington e o consulado venezuelano em Nova York – depois que diplomatas de Maduro ligados a essas missões se juntaram à oposição.

Benjamin disse que os manifestantes em Washington estavam tentando evitar que isso acontecesse no complexo da embaixada em Georgetown.

"Eu sei que os venezuelanos estão em crise, e eu sei que há muitas coisas que o governo (Maduro) fez de errado", disse ela. "Mas também sei que o caminho que estamos seguindo levará a derramamento de sangue e talvez uma guerra civil e décadas de violência".

"Estamos aqui para dizer: 'Não vamos piorar uma situação ruim'".

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