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O cenário paradisíaco da ilha de Chipre esconde uma memória triste dos conflitos entre a maioria grega e a minoria turca | Creative Commons
O cenário paradisíaco da ilha de Chipre esconde uma memória triste dos conflitos entre a maioria grega e a minoria turca| Foto: Creative Commons

Nicósia - A bala de um executor deixou um buraco do tamanho de uma moeda no crânio de Huseyin Mehmet Buba, um soldado do Exército turco-cipriota cujo esqueleto e restos mortais foram encontrados em um poço há dois anos, uma geração após sua morte.

"Eles colocaram a arma contra o rosto e atiraram, e a marca da bala está em cima do crânio", disse o filho de Buba, Omer Huseyin. Um comerciante que vive em Londres, ele viajou ao Chipre no mês passado e jogou um pouco de terra molhada sobre o caixão com o esqueleto do seu pai, durante o funeral militar que se seguiu às identificações dos restos mortais, um processo lento que incluiu análise do DNA.

Chipre tem um passado violento, mascarado por ser uma ilha mediterrânea conhecida pelos turistas pelas praias e o forte sol. Mas, após anos de inatividade, uma das raras instituições da ilha que inclui tanto greco-cipriotas quanto turco-cipriotas está aliviando um pouco da dor das pessoas que perderam familiares na guerra.

O Comitê de Pessoas Desaparecidas no Chipre, apoiado pelas Nações Unidas, fez progresso gradual em localizar e identificar os restos mortais de quase 2 mil cipriotas, três quartos dos quais gregos étnicos, que desapareceram no caos dos conflitos de 1963 e 1974.

Buba, que tinha 40 anos, estava vestido com roupas civis quando desapareceu após saltar de um ônibus perto do hospital geral de Nicósia em dezembro de 1963. Um acordo de divisão de poder na ex-colônia britânica havia entrado em colapso e a luta havia irrompido entre a maioria étnica grega, que perfazia 80% da população, e a minoria étnica turca.

Muitas das vítimas no começo da violência no Chipre, em 1963, eram turco-cipriotas, mas os greco-cipriotas sofreram mais baixas após a Turquia ter invadido a ilha no verão de 1974 e ter tomado a sua parte norte, depois de uma conspiração para unir politicamente o Chipre à Grécia ter fracassado. Ocorreram acusações de execuções sumárias feitas por ambas as partes.

O Comitê para Pessoas Desaparecidas no Chipre não tem um mandato para tratar um local de sepultamento como uma "cena de crime", explicou Christophe Girod, que também precisa de cooperação imparcial nas delicadas acusações de violações de direitos humanos, mesmo que as duas partes ainda argumentem sobre como reunificar a ilha.

As negociações estão enroladas em disputas sobre um governo conjunto, a presença das tropas turcas no norte e o destino da posse das propriedades abandonadas por civis em fuga em 1974.

O Chipre passou a integrar a União Europeia em 2004, mas apenas a parte sul, grega, aproveita os benefícios.

O painel que busca as pessoas desaparecidas inclui geneticistas, arqueólogos e antropólogos do norte do Chipre, controlado pelos turcos étnicos, e do sul da ilha, controlada pelos greco-cipriotas.

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