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O apagão elétrico ocorrido em novembro do ano passado é assunto de um dos cerca de 600 documentos lançados publicamente pelo Wikileaks contendo telegramas de embaixadas norte-americanas. Classificado como "secreto", o texto relata conversas da embaixada com técnicos brasileiros do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e do Ministério de Minas e Energia.

A hipótese de ataques de hacker – que ganhou apelo na época devido a uma reportagem do programa "60 minutes" – foi descartada. Segundo informações da ONS dadas à embaixada, o sistema tem uma rede separada e é protegido de tal forma que uma invasão seria facilmente rastreável.

O apagão ocorrido no dia 10 de novembro do ano passado provocou a interrupção na transmissão de 28.800 Megawatts de energia no Brasil e de 980 Megawatts no Paraguai. Segundo relatório da ONS, o desligamento ocorreu no sistema de transmissão entre Foz de Iguaçu (PR) e Tijuco Preto (SP), provocando um efeito cascata nos sistemas de transmissão e substransmissão de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. No total, 18 estados foram afetados.

O documento da embaixada revela alguns detalhes do sistema elétrico brasileiro, resume as hipóteses e versões dadas para a causa – do governo, de entidades privadas, da imprensa e inclusive a hipótese de hackers, que o texto admite ter sido "levantada pela coincidência com o programa ’60 minutes’".

Dois dias antes do apagão, o programa investigativo "60 minutes" afirmou que hackers haviam atacado o sistema elétrico em 2007. O programa foi criticado pela imprensa especializada por falta de provas. Um especialista consultado pelo G1 à época também negou a hipótese de um ataque hacker ter causado o apagão.

Os técnicos do Ministério de Minas e Energia e da ONS se dizem felizes pela resposta adequada do sistema. O único problema seria político. Ildo Wilson Grüdtner, secretário de energia do ministério, é citado no documento dizendo que "embora o setor elétrico esteja feliz, os políticos não estão".

Cooperação

O texto da embaixada americana diz que as hipóteses de ataques, apesar de inverídicas, junto da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, contribuem para uma preocupação de segurança no governo brasileiro. "Pode haver um aumento na preocupação com segurança durante os jogos, particularmente depois que esse incidente chamou a atenção para possíveis vulnerabilidades no sistema", escreveu a embaixada em Brasília para o governo norte-americano.

Durante os jogos do Pan-Americano em 2007, o documento revela que não houve nenhuma proteção física a mais no sistema elétrico, apenas medidas preventivas contra falhas ou aumento inesperado na demanda.

O governo brasileiro estaria interessado em cooperador com EUA para obter informações sobre o sistema de alerta emergencial (EAS, na sigla em inglês). Esse sistema permite ao governo enviar alertas por ondas de rádio e TV no caso de problemas graves de infraestrutura ou quaisquer ataques.

"Saberemos mais sobre a causa imediata do apagão em algumas semanas, mas por enquanto existem oportunidades para que o governo dos EUA tire proveito da abertura do governo brasileiro, enfatizando o blecaute como uma razão para parceriase também preparações para a Copa de 2014 e para as Olimpíadas de 2016", diz o documento. "Seria uma ocasião excelente para encorajar o Acordo de Comunicação e Segurança da Informação Militar para Militar (CISMOA, na sigla em inglês)", diz o texto. O CISMOA é um acordo que permite comunicações de equipamentos militares entre si, que facilita operações conjuntas.

"Poderíamos ainda considerar a criação de um grupo de cibersegurança [em parceria com o governo brasileiro]", pondera o documento. "Está claro que a segurança física não tem sido até agora uma preocupação do governo, mas oficiais admitem a possibilidade de um ataque e que estão trabalhando para desenvolver proteções – outra área de possível parceria [com o governo americano]".

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