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O ex-piloto da Marinha dos Estados Unidos, Don Boecker, não está orgulhoso em admitir que ele estava "morrendo de medo" em um dia de julho de 1965, no Laos, quando se pendurou com um braço no trem de pouso de um helicóptero, enquanto soldados inimigos faziam a pontaria do solo.

Boecker passou a mais longa noite da sua vida numa selva cerrada, escapando da captura e da certa execução enquanto esperava o resgate. O piloto da marinha foi ejetado do seu caça após uma bomba que ele pretendia lançar sobre a trilha de Ho Chi Minh, no Laos, ter explodido prematuramente e derrubado o avião. A Guerra do Vietnã aconteceu entre 1959 e 1975 no Vietnã, Laos e Camboja.

Já a equipe de resgate que tirou Boecker da selva não era formada por militares norte-americanos, que não poderiam ser surpreendidos ao executar uma missão secreta de bombardeio a uma trilha de suprimentos aos comunistas do Vietnã, a partir do Laos.

Eram empregados civis da Air America, uma empresa aérea privada que na prática era operada pela Agência Central de Inteligência (CIA).

Boecker, agora um almirante de 71 anos da reserva, planeja contar a história que viveu em 1965 em um seminário organizado para o próximo sábado, que pretende esclarecer o público norte-americano sobre eventos históricos pouco compreendidos.

O evento na Universidade do Texas, em Dallas, coincidirá com a liberação, pela CIA, de 10.000 informações antes classificadas obtidas pela Air America. A coleção de informações da Air America será doada à universidade.

Paul Oelkrug, coordenador do departamento de coleções especiais da Universidade de Dallas, disse que as informações da Air America falam sobre o "lado secreto da Guerra Fria".

"Esses documentos da Air America são muito importantes para entender uma grande história não contada, o envolvimento dos EUA no Sudeste Asiático", disse Oelkrug.

Os documentos incluem relatos sobre a caótica retirada de pessoal pelos norte-americanos em 1975, após a queda de Saigon, a investigação de uma misteriosa queda de avião em 1964, aparentemente provocada por sabotagem, e uma carta do então presidente dos EUA Richard Nixon, anunciando condecorações por bravura a agentes do governo dos EUA no Laos.

Entre 1964 e 1965, a Air America resgatou 21 pilotos norte-americanos que tiveram os caças derrubados no Laos.

A fachada da Air America era a de uma empresa de transporte aéreo de cargas e passageiros no Sudeste Asiático. Formada logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a Air America prestou no começo serviços aos nacionalistas chineses. Após os comunistas tomarem o poder na China continental em 1949, a empresa continuou a operar, embora secretamente controlada pela CIA, com voos entre a Ilha de Taiwan e o Sudeste Asiático.

Uma das imagens mais fortes como ícones da Guerra do Vietnã mostra um helicóptero da Air America, em Saigon, durante a desastrada retirada norte-americana de 1975, após a derrota para o Vietnã. O helicóptero está em cima de um pequeno prédio, enquanto várias pessoas, em uma escada, esperam pela possibilidade de embarcar antes da chegada das tropas comunistas

Brian K. Johnson, um ex-piloto de helicóptero da Air America, lamenta que a imagem da empresa esteja mais relacionada à heroína que ao heroísmo, em grande parte graças ao filme "Air America", de 1990, estrelado pelos atores Mel Gibson e Robert Downey Jr. Os dois protagonistas, na história do filme que se passa durante a Guerra do Vietnã, descobrem que a empresa para a qual pilotavam era usada por agentes do governo dos EUA para traficar heroína.

Segundo ele, isso magoou os antigos empregados da Air America.

"Nós fizemos tudo o que pudemos para mudar essa percepção e acho que chegaremos lá", disse Johnson.

As informações são da Associated Press.

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