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| Foto: CHIP SOMODEVILLA/AFP

Contra todas as previsões, Donald Trump venceu as eleições presidenciais nos Estados Unidos realizadas nesta terça-feira (8). Até as 5h33 desta quarta-feira (9) (3h33 em Washington DC), o republicano tinha 48% dos votos contra 47% da candidata democrata Hillary Clinton, o que garante 276 delegados para Trump e 218 para Hillary. Ainda falta a apuração de cinco estados, mas Hillary não consegue mais alcançar o republicano. O resultado precisa agora ser confirmado no próximo dia 19 de dezembro, quando o colégio eleitoral formado pelos delegados deve validar a voz das urnas.

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O resultado contesta as pesquisas de intenção de voto que indicavam que Hillary seria eleita, apesar da disputa acirrada. O “milagre” prometido por Trump aconteceu e a grande pergunta neste novo cenário é se ele colocará em prática as promessas polêmicas de campanha, principalmente as relacionadas a dificultar a presença de imigrantes no país. E também se empreenderá uma política externa de ruptura com o passado, como a intenção de aproximar-se do presidente russo Vladimir Putin ou de voltar atrás no acordo de cooperação entre Estados Unidos e Cuba firmado pelo presidente Barack Obama.

“Como Trump se contradiz muito, é difícil saber o que ele realmente pensa sobre qualquer assunto e como será o seu governo”, afirmou Michael Touchton, professor de Ciência Política, da Universidade de Miami. “Um personagem como ele na presidência dos Estados Unidos é algo totalmente novo para nós”.

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Muitos republicanos afirmam, no entanto, que Trump não cumprirá suas propostas extremistas. “A maior parte dos republicanos está decepcionada por ser esse o nosso representante e por todas as coisas que ele disse. Mas ele não vai construir um muro com o México e nem fazer nada extremista. Trump falou muitas coisas que o povo quer ouvir, mas que ninguém tem coragem de admitir. Mas só isso. O governo dele será mais centrista do que se imagina”, acredita Al Taubenberger, republicano e presidente da câmara dos vereadores de Philadelphia.

As peças-chaves da vitória de Trump foram principalmente os estados de Flórida, Carolina do Norte e Ohio, onde as pesquisas mostravam muitos indecisos e uma leve vantagem para Hillary. A votação em Flórida surpreendeu pelo fato de o estado ter a maior proporção de eleitores latino-americanos, 2,6 milhões de pessoas, 18% da do total da região, e se esperava que eles votassem de forma significativa a favor de Hillary, o que não aconteceu. A principal causa para essa escolha pelos latinos é o seu descontentamento com a política econômica adotada pelos democratas nos últimos anos que, segundo eles, é responsável pelo crescimento do desemprego no país. “Além disso, a maior parte dos eleitores cubanos, por exemplo, o maior grupo entre os latinos, não gosta da aproximação dos Estados Unidos com Cuba, porque vê nisso uma ajuda ao governo castrista sem conseguir uma contrapartida para o povo”, explica Jorge Duany, professor da Universidade de Flórida.

O dia de votação foi tenso, com discussões nas ruas e intervenções policiais em vários estados, reflexo de uma campanha altamente competitiva e polarizada. Um tiroteio próximo a um local de votação foi registrado em Azusa, no estado da Califórnia, chegando a paralisar o pleito eleitoral, mas ainda não está confirmado se a ocorrência teve motivos políticos. Um exército de democratas e republicanos saiu às ruas para batalhar voto por voto e a participação nesta eleição foi maior se comparada a de 2012, com filas para principalmente nos estados em que não se podia votar por antecipação. No total, 46 milhões de pessoas votaram antes, pelo correio, até a última segunda-feira (7).

Derrota para os institutos de pesquisa

O resultado das eleições nos Estados Unidos é uma derrota não apenas para a democrata Hillary Clinton, mas também para os institutos de pesquisa. Até terça-feira (8), o jornal ‘New York Times’ afirmava que Hillary tinha 85% de chances de vencer e, ao perceber a ascensão de Trump, mudou a manchete em seu site para “virada impressionante”. Para o site ‘538’, considerado por especialistas como o que reunia informações de maior credibilidade no país, dava 71,4% de certeza da vitória da democrata até o início da noite de terça-feira.

Especialistas comparam o fenômeno Trump à votação do Brexit na Inglaterra, quando a maior parte da população optou pela saída da Inglaterra da União Europeia, e a votação do referendo na Colômbia, quando a maioria foi contrária com o acordo com as Farc, ao contrário do que estava previsto nas pesquisas.

“A análise é que os meios de informação e os institutos de pesquisa tradicionais perderam o contato com os cidadãos, como aconteceu com o Brexit e a votação na Colômbia. E os cidadãos também confiam menos neles e mais em suas redes de comunicação”, afirmou Clemencia Rodriguez, professora de comunicação e mídia na Universidade da Temple University, em Philadelphia. “Esse quadro tende a aumentar a radicalização de ideias contrárias e a dificuldade de diálogo entre os dois lados”.

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