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| Foto: JOE RAEDLE/AFP

A primeira mensagem que Mina Justice recebeu de seu filho na manhã de domingo pareceu inócua. “Mamãe eu te amo”, foi a mensagem enviada por Eddie Justice, às 2h06.

As próximas palavras, no entanto, foram de arrepiar. “No clube”, escreveu. “Eles estão atirando”.

Assustada e confusa, Mina tentou ligar para seu filho, mas ele não atendeu, relatou à Asssociated Press. Ela, então, enviou uma mensagem perguntando se o filho estava bem. “Trancado no banheiro”, Eddie escreveu um minuto depois. “Pulse. Centro. Chame a polícia”.

Mina não sabia ainda, mas seu filho estava no meio do que se tornaria o pior ataque a tiros da história dos Estados Unidos. Naquele instante, Omar Mateen, um segurança de 29 anos, estava na Pulse, uma popular boate gay de Orlando, com um rifle de assalto e uma pistola. Ele mataria 50 pessoas e feriria outras 53 antes de ser morto em uma troca de tiros com a polícia.

Dormindo um momento antes, Mina tinha sido jogada em um pesadelo. Por 44 minutos, ela sentou no escuro, olhando para o telefone e vendo o ataque acontecer em mensagens aterrorizantes enviadas pelo filho. Até que as mensagens pararam.

As mensagens, primeiramente reportadas pela Associated Press, são uma janela do homem para uma tragédia que assola o país e reacendeu os debates sobre migração, Islã, direitos dos gays e controle de armas.

Antes do ataque chegar às manchetes internacionais, entretanto, notícias do incidente se espalharam pelas redes sociais e em mensagens de pânico de quem estava escondido dentro da boate.

“Saiam todos da Pulse e continuem a correr”, foi a mensagem na página do clube no Facebook, às 2h09. Segundos depois, Eddie Justice escreveu para sua mais mais uma vez. “Eu vou morrer”, dizia a mensagem. A mãe ligou para o 911, número de emergência.

Eddie era bonito e atlético, com tatuagens e uma queda por joias chamativas, de acordo com suas fotos do Facebook. Ele gostava de fazer os outros rirem. Seu trabalho como contador lhe proporcionou morar em um condomínio no centro de Orlando, a mãe disse à AP.

“Morava em uma casa do céu, como os Jeffersons”, disse a mãe. “Ele vivia bem”. Agora, seu belo e bem-sucedido filho precisava desesperadamente da sua ajuda. Assim que falou com a emergência, ela mandou uma mensagem para Eddie. “Você ainda está aí”, ela escreve. “Atenda seu maldito celular”.

Finalmente, às 2h39, ele respondeu. “Chame-os mamãe”, ele escreveu, em uma aparente referência à polícia. “Agora”. Ele contou que estava no banheiro da Pulse. “Ele está vindo”, Eddie escreveu. “Eu vou morrer”.

Quando Mina perguntou se havia pessoas machucadas, seu filho respondeu. “Muitas. Sim”. Quando as mensagens do filho pausaram, mais uma vez, ela, esperançosa, perguntou se a polícia havia chegado e encontrado o filho.

“Não”, ele respondeu. “Ainda no banheiro. Ele nos achou. Eles precisam chegar e nos buscar”.

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Mãe e filho não sabiam que a polícia já estava do lado de fora do clube, mas precisavam atrasar seu ataque por causa da situação dos reféns, conforme um oficial de justiça explicou. Por três horas, o atirador esteve no telefone com a polícia e nenhum tiro foi disparado.

Então, quando Mina escreveu uma mensagem para o filho, às 2h49, pedindo para que ele avisasse caso visse a polícia, ele respondeu com pânico. “Depressa”, ele escreveu. “Ele está no banheiro com a gente”.

“É um homem que está no banheiro com vocês”, a mãe perguntou. “Ele é um terrorista”, Eddie escreveu às 2h50, antes de responder a sua questão. “Sim”.

“Você está machucado?”, Mina perguntou. “Fique aí, ele não gosta de gays”, ela escreveu novamente. “Me escreva por favor”, ela implorou. “Eu te amo”. Eddie nunca respondeu.

Mina dirigiu até a Pulse, no centro, para aguardar as informações da polícia. Quando ela chegou sem respostas ao domingo de manhã, ela fez seu caminho para a vizinha Hampton Inn & Suites, uma área improvisada para as famílias daqueles que estavam na balada esperarem.

Alguns parentes de Eddie usaram as redes sociais para dizer que tinham esperança de que ele estivesse vivo. “Por favor, façam uma oração para meu priminho. Deus, traga-o para casa são e salvo”, escreveu Jeffrey Robinson no Facebook. “Esta é uma tragédia para todas as famílias envolvidas e é tempo para nos unirmos e tomarmos posição, independentemente de cor, raça, sexo ou preferência sexual”.

“O medo é algo poderoso”, escreveu Nerelsha Justice-Macklin, irmã de Eddie, assim que ela chegou a Orlando. “Viajei com todos os meus pensamentos guardados... É maior que meu corpo... Preciso de alguém para dar as mãos... esperar e rezar por um milagre do incansável Jesus... esperando em Sua glória, Senhor!!! Me desculpem... tentando seguir neste banco de trás”.

No lobby do hotel, havia cenas de intenso sofrimento, na medida em que famílias descobriam que seus amados parentes tinham morrido dentro do clube. Uma mulher, sentada em uma cadeira próxima a uma pilha de caixas de pizza, chorava e gritava. Outra mulher estava tão abalada que vomitou em uma lata de lixo.

Mina ainda não tinha tido notícias de seu filho. “Seu nome ainda não apareceu e isso é assustador”, ela contou. “É apenas...”, ela disse, parando e batendo no peito: “é apenas um pressentimento. Eu tive esse mau pressentimento”.

Mais tarde, no domingo à noite, seu mau pressentimento foi confirmado. O nome de Eddie Jamoldroy Justice foi adicionado na lista dos mortos. Mina não foi encontrada para comentar o fato no domingo à noite. Mas seu sobrinho sintetizou o sentimento da família no Facebook. “Terrível tragédia para a minha família”, escreveu. “Um grande jovem homem se foi cedo demais”.

Uma página de financiamento coletivo está coletando fundos para o seu funeral. “Eddie amava a sua mãe”, diz a página, “e ele era o filhinho da mamãe no coração”.

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