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| Foto: Ronaldo Schemidt/AFP

Em uma jornada violenta, o número de mortos em meio a protestos contra a eleição da Assembleia Constituinte na Venezuela podem ter chegado a 14 nas últimas 48 horas. O Ministério Público reconhecia oficialmente 9 vítimas, mas relatos da imprensa independente apontavam pelo menos outras cinco.

O Conselho Eleitoral da Venezuela informou, no início da madrugada desta segunda-feira (31), que 8,09 milhões de pessoas compareceram às urnas na véspera para escolher os membros da Assembleia Constituinte convocada pelo ditador Nicolás Maduro. O número informado pelo órgão corresponde a 41,53% do eleitorado e é superior ao dobro do estimado pela oposição - entre 2 e 3 milhões de votantes - e por observadores independentes - 3,6 milhões, no máximo.

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Às 18h (19h em Brasília), o órgão eleitoral venezuelano anunciou que haveria uma hora extra para o fechamento das urnas, que estava marcado inicialmente para 20h (21h de Brasília); o anúncio foi acompanhado de uma mensagem de Maduro pedindo que as pessoas fossem aos centros de votação "porque ainda havia tempo". Até as 21h15 locais (22h15 de Brasília), ou seja, além do prazo estendido, ainda havia eleitores votando.

A primeira reunião dos novos legisladores deve ocorrer em 72 horas. O governo não explicou como será a convivência dos constituintes com o atual parlamento -de maioria anti-chavista e que não reconhece a legitimidade da eleição deste domingo (30).

"Trata-se de uma fraude e Maduro está cavando a própria tumba", disse o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges.

Maduro, que foi um dos primeiros a votar, às 6h (7h de Brasília), afirmou que a nova Constituição trará "tranquilidade e paz" para o país, e alfinetou o presidente americano, Donald Trump: "Quis o imperador Trump proibir o povo de exercer o direito ao voto e eu disse, chova ou faça sol haverá eleições e Assembleia Constituinte".

VIOLÊNCIA

Entre as mortes confirmadas pelo Ministério Público estão a de Ronald Ramírez González, agente da Guarda Nacional Bolivariana, que morreu depois de receber um tiro em um protesto em Táchira.

Morreram também Luis Zambrano, baleado na cabeça durante uma manifestação em Lara, e Ricardo Campos, 30, no Estado de Sucre. Campos era secretário local para juventude do partido Ação Democrática (AD). Segundo o deputado opositor Henry Ramos Allup, ele foi morto a tiros.

No sábado (29), José Félix Piñeda, candidato à Assembleia Constituinte, foi assassinado no Estado de Bolívar.

Segundo o jornal "El Nacional", houve ainda dez mortes de manifestantes entre os Estados de Mérida e Táchira, onde vêm ocorrendo os confrontos mais graves do país. Teriam sido assassinados pelos "coletivos", força paramilitar apoiada pelo Estado, Marcel Pereira, Iraldo José Gutiérrez e dois menores de idade, entre outros.

Em Caracas, a Guarda Nacional Bolivariana reprimiu duramente uma marcha que sairia a partir das 10h (11h de Brasília) a partir de quatro pontos da capital. Uma bomba que explodiu na praça Altamira deixou feridos e várias motos queimadas.

Os organizadores do protesto decidiram suspendê-lo por causa da repressão. "Foi brutal em todos os pontos de Caracas e, por isso, decidimos suspender a mobilização, mas se as forças de segurança continuarem impedindo as manifestações através do uso da força, serão então mantidas as barricadas. Nós acompanharemos os manifestantes, porque a repressão não nos fará retroceder nem um milímetro", disse o deputado opositor Freddy Guevara.

Por meio das redes sociais, o líder recém-libertado Leopoldo López disse: "alertamos a comunidade internacional sobre a repressão brutal e o assassinato de venezuelanos que protestam de forma pacífica".

DUAS CIDADES

Durante uma visita pela manhã deste domingo aos dois lados da cidade -os bairros de classe média e alta, anti-chavistas, e o centro, pró-governo-, a reportagem constatou a diferença do nível de tensão entre os dois polos.

Do alto dos viadutos e pelas avenidas que levam à região central, o que mais se via logo no começo do dia eram motos. Pouca gente tirou o carro da garagem, para não correr o risco de ficar preso entre as barricadas levantadas pelos opositores.

No meio de um dos viadutos, a reportagem conversou com um manifestante, que ali havia estacionado sua moto e orientava grupos com informações transmitidas por meio de um microfone instalado em seu capacete.

"Estão reprimindo em Las Mercedes, agora a concentração está indo na direção de Bello Monte", informava ele, por meio de um microfone instalado em seu capacete, a um grupo que se encontrava perto desse bairro.

Depois, disse à reportagem, "os coletivos estão rodando em motos individuais para ver onde estão os manifestantes, aí informam a Guarda Nacional Bolivariana e eles chegam em grupos mais numerosos", afirmou.

De fato, enquanto o homem, que não quis se identificar, dizia isso, na pista debaixo do viaduto se via uma imensa fila de oficiais sobre motos, vestindo o uniforme negro da GNB e se dirigindo para um dos locais de concentração opositora.

Enquanto isso, no centro da cidade, governada pelo chavismo, havia mais gente caminhando pelas ruas. Muitos iam rumo aos mercados, onde havia filas para comprar comida. Também abundavam as barracas de venda informal de pães, frutas, ovos. Dos centros residenciais populares construídos pelo chavismo se ouvia música, e crianças jogavam e brincavam diante deles.

Os postos de votação estavam mais cheios nessa região do que os dos bairros onde a oposição predomina. Em nenhum, porém, a reportagem observou filas muito numerosas. O que, sim, havia em todos eram carros e oficiais da GNB, que impediam a aproximação da imprensa.

Na região central, via-se mais propaganda da Constituinte, cartazes dizendo: "a Constituição sim, vai ocorrer", e muitas pessoas com a camiseta com os mesmos dizeres ou com imagens e broches de Hugo Chávez (1954-2013).

Ao redor do palácio de Miraflores, as pessoas transitavam normalmente á pé, em moto ou em carro, mas tinham de desviar das trincheiras e cercas improvisadas de arame farpado que vigiam as vias de entrada da sede de governo.

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