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Tabaré Vázquez lidera as pesquisas e busca consolidar a força da esquerda no Uruguai | Andres Stapff/Reuters
Tabaré Vázquez lidera as pesquisas e busca consolidar a força da esquerda no Uruguai| Foto: Andres Stapff/Reuters

Perfis

Nascido em Montevidéu em 1940, Tabaré Vázquez é médico oncologista e tornou-se em 2005 o primeiro governante de esquerda do Uruguai. Terminou o mandato com uma popularidade de 80%, uma marca inédita no país. Luis Lacalle Pou nasceu também na capital Montevidéu, mas em 1973, e é advogado de profissão. Filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990—1995) e da ex-senadora María Julia Pou, foi eleito deputado em 2010.

Parlamento

Além de escolherem um novo presidente, os uruguaios vão eleger membros do Senado e da Câmara dos Deputados e votarão um plebiscito sobre a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Devido ao cenário eleitoral dividido, o próximo governo não deve ter maioria parlamentar, o que irá dificultar acordos entre as principais bancadas sobre temas fundamentais como esse. Lacalle Pou apoia abertamente a redução da maioridade penal, enquanto Vázquez é contra a mudança.

Mujica

Encerrando o mandato com altos índices de popularidade, o presidente José Mujica consolidou uma imagem diferenciada. "Mujica é um personagem carismático, muito inteligente, de temperamento filosófico, com um perfil bem diferente de qualquer estadista mundo afora", diz Patrícia Rivero, professora da UFRJ. Feliciano de Sá Guimarães, professor da USP, define-o como "um presidente cujo legado em políticas sociais e avanços institucionais transcende seu mandato".

Opinião

Presidente deixou uma marca no país e muitos desejam aprofundá-la

Maximiliano Duarte, uruguaio, pesquisador do Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)

Talvez o legado mais importante da presidência de José Mujica seja, também, o mais conhecido: a transcendência que ganhou sua figura, a raiz de sua trajetória e seu estilo de vida, que permitiram ao país ter uma melhor inserção no cenário internacional.

O nome do presidente uruguaio se transformou em sinônimo de coerência e honestidade: condições que não apenas permitiram ao país um reposicionamento político, mas que também se traduziram em possibilidades econômicas.

Nos últimos anos, o país diversificou parceiros comerciais e produtos de exportação. Devido a esses e a outros fatores, as taxas de crescimento econômico se mantiveram acima das médias regionais, as políticas sociais se aprofundaram, aliadas a uma significativa redução da pobreza e a uma melhora na distribuição de renda.

Uma das contribuições do governo Mujica foi a defesa da política como espaço de diálogo, como um meio para canalizar divergências e construir acordos. Nessa esfera pública, Mujica e a Frente Ampla procuraram integrar diferentes segmentos da população; pode-se dizer que democratizaram a política, como propôs José Batlle y Ordoñez no início do século 20.

Um exemplo é a relação entre sindicatos, movimentos sociais e Poder Legislativo: um vínculo que resultou na aprovação das leis do casamento igualitário, descriminalização do aborto e a regulamentação da maconha.

Durante o governo Mujica, o país encontrou soluções para alguns problemas estruturais, como a reforma energética, a consolidação do complexo agroindustrial, a redução da superlotação carcerária, a descentralização do ensino superior e a criação de uma segunda universidade pública. No entanto, outras questões ainda estão sem resposta: a recuperação da malha ferroviária, o déficit viário, a reforma na educação primária e secundária, o crescimento dos crimes violentos.

Apesar da profunda autocrítica que deve fazer a esquerda uruguaia, parece claro que o país seguiu por um caminho no qual deve continuar. Isso se reflete tanto na intenção de voto que tem a Frente Ampla nessas eleições, como no compromisso de manter as linhas centrais do atual governo, assumidas pelo principal candidato de oposição, Lacalle Pou.

Tanto que assessores de Pou e os possíveis ministros de Economia, Segurança Pública e Educação - caso vença a eleição - trabalharam para Mujica. Este, sem dúvida, deixou uma marca no país e muitos desejam que ela se aprofunde.

  • Lacalle Pou é o principal nome da oposição e ele ganhou força nas últimas semanas
  • O presidente Mujica deslocou-se com o seu velho fusca para votar neste domingo no Uruguai

No mesmo dia em que os brasileiros escolhem o próximo presidente da República, os vizinhos uruguaios também vão às urnas. Mais de 2,6 milhões de eleitores estão cadastrados para eleger o sucessor de José Mujica, o presidente que ganhou os holofotes do mundo com uma personalidade carismática e medidas ousadas.

Em jogo na disputa está o legado de "Pepe" Mujica, que inclui avanços econômicos e redução da desigualdade social.

As pesquisas apontam uma polarização entre o ex-presidente Tabaré Vázquez, candidato da Frente Ampla apoiado por Mujica, e Luis La­­calle Pou, deputado que concorre pelo Partido Nacional. Sondagem divulgada na última semana pela consultoria Factum colocava Vázquez com 44% e Lacalle Pou com 32%, o que levaria os dois ao segundo turno. Na terceira colocação aparece o candidato do Partido Colorado, Pedro Bordaberry, com 15%.

Para Feliciano de Sá Guimarães, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), a eleição deste ano colocará à prova a consolidação da Frente Ampla, coalizão de esquerda que em 2005 colocou fim a 175 anos de hegemonia dos partidos Nacional e Colorado.

"Caso Tabaré vença novamente as eleições esse processo se mostrará duradouro", afirma. Já uma vitória da oposição lançaria dúvidas principalmente sobre as políticas sociais do governo. "Se por um lado não há como revertê-las totalmente, um eventual governo de Pou terá de adotá-las com outros formatos e isso também está em aberto".

Avanços

Professora de Relações In­­ternacionais da Uni-ver­­sidade Federal do Rio de Ja­­neiro (UFRJ), Patricia Rivero cita o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), os baixos índices de desigualdade social e de corrupção como exemplos de avanço no governo Mujica.

Por outro lado, acredita que são necessárias melhorias sobretudo nas áreas de segurança e educação. "Nenhum governo democrático tem conseguido recuperar a qualidade pré-ditadura em educação, e há no Uruguai uma percepção de que a garantia de segurança ainda é um problema", diz.

O mito Mujica

Confira cinco fatos marcantes do governo do presidente uruguaio.

Discursos

Em setembro de 2013, ao discursar na cúpula da ONU, Mujica fugiu do lugar comum dos governantes e fez um discurso atacando duramente o consumismo e falando de questões como ciência e paz. Com isso, ganhou a atenção para seus pronunciamentos que usam um tom menos político e mais humanista.

Fusca

Uma das características que fizeram Mujica ganhar simpatizantes mundo afora foi sua simplicidade. Ele não usa carro presidencial e tem como único bem declarado um fusca ano 1985, avaliado em US$ 1 mil. Também dispensou a residência oficial para seguir vivendo em um pequeno sítio.

Casamento

Após a aprovação do Congresso, em abril de 2013, o Uruguai se tornou o segundo país da América do Sul a permitir legalmente o casamento de pessoas do mesmo sexo (o primeiro foi a Argentina). No ano anterior, o país também descriminalizou o aborto, desde que até a 12ª semana de gestação.

Maconha

O Uruguai foi o primeiro país do mundo a regular o cultivo e a venda da maconha. Em maio, após meses de discussão, o Congresso aprovou e o presidente José Mujica assinou a lei que autoriza o "uso recreativo" da droga. Segundo Mujica, a medida visa acabar com o tráfico e, com isso, reduzir a violência.

Salário

Como presidente, Mujica recebe um salário de 260 mil pesos uruguaios, aproximadamente R$ 28 mil. Desse montante, ele fica com apenas 10%. O restante é doado a pequenas empresas e Organizações Não Governamentais (ONGs). Esse é um dos motivos pelos quais foi chamado de "presidente mais pobre do mundo".

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