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Eleições norte-americanas de 2016, disputadas entre Donald Trump e Hillary Clinton, foram marcadas por polêmicas.
Eleições norte-americanas de 2016, disputadas entre Donald Trump e Hillary Clinton, foram marcadas por polêmicas.| Foto: Robyn Beck/AFP

Em entrevista concedida em meados de julho à emissora Fox News, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, candidato à reeleição pelo Partido Republicano, recusou-se a dizer se vai aceitar o resultado das eleições de novembro caso seja derrotado pelo candidato democrata, Joe Biden.

A dificuldade de Trump em reconhecer uma hipotética derrota nas urnas já seria, por si só, um ponto bastante polêmico nas eleições presidenciais norte-americanas deste ano. Somado a isso, porém, há a pandemia de Covid-19, que, até o momento, já infectou mais de 6 milhões de pessoas no país; o voto por correspondência que deve ser amplamente adotado, justamente, devido à pandemia; e uma potencial interferência na China são pontos que fazem com que as eleições de 2020 sejam uma das mais polêmicas da história do país.

Essa não será, contudo, a primeira eleição polêmica dos EUA. Pleitos controversos, aliás, fazem parte da história eleitoral da nação. Confira em que outros anos a escolha do chefe do Executivo do país elevou os ânimos da população norte-americana, gerando debates até hoje.

1. Eleições de 1800

A essa altura do campeonato, os partidos eleitorais dos EUA ainda estavam tomando forma e as grandes legendas eram o Partido Democrata-Republicano – o atual Partido Democrata foi fundado em 1828, enquanto a fundação do Partido Republicano data de 1854 – e o Federalista. Na época, as regras eleitorais do país eram diferentes e o Colégio Eleitoral tinha poder para escolher apenas o presidente, enquanto os eleitores votavam em dois nomes, sendo que o vice-presidente seria a pessoa que ficasse em segundo lugar.

Em 1800, porém, houve um empate entre os democratas-republicanos Thomas Jefferson e Aaron Burr, o que fez com que a eleição precisasse ser decidida pela Câmara dos Representantes dos EUA, equivalente à Câmara dos Deputados brasileira. Essa foi a primeira de duas vezes em que isso ocorreu na história do país.

A decisão final, que culminou na eleição de Jefferson, é creditada a Alexander Hamilton, primeiro secretário do Tesouro norte-americano. Federalista, Hamilton detestava as duas opções, mas tinha um desafeto maior com Burr. Fez, portanto, lobby para que Jefferson, que não era o favorito, acabasse eleito. Três anos depois, Burr mataria Hamilton em um duelo – o ponto alto do premiado musical da Broadway “Hamilton”.

2. Eleições de 1824

Essa foi a segunda ocasião em que a Câmara dos Representantes dos EUA precisou decidir um pleito presidencial. Foi, também, a primeira vez em que o candidato que recebeu o maior número de votos populares não foi eleito. Aqui, o Partido Federalista já havia sido dissolvido e todos os candidatos que concorreram eram do Partido Democrata-Republicano: Andrew Jackson conquistou 99 delegados; John Quincy Adams conquistou 84; William H. Crawford conquistou 41; Henry Clay conquistou 37.

Como nenhum dos candidatos recebeu a maioria necessária de delegados (metade mais um), novamente a eleição precisou ser decidida pela Câmara dos Representantes – que, pela regra, deveria escolher um entre os três mais votados.

Adams, então, fez um forte lobby com os apoiadores de Clay, o candidato “excluído”. No fim, esse apoio fez toda a diferença para que Adams chegasse ao posto de sexto presidente dos EUA, mesmo sem ter recebido a maioria dos votos nas urnas. Uma vez no posto, nomeou Clay secretário de Estados dos EUA, em claro agradecimento.

3. Eleições de 1860

Essa foi a primeira eleição dos EUA a dividir, de fato, a nação. O Partido Republicano participava apenas de sua segunda eleição e o candidato escolhido, Abraham Lincoln, abolicionista, tinha muito pouco apoio do Sul, historicamente rural e escravagista. Na maioria dos estados da região, inclusive, seu nome nem sequer apareceu nas cédulas.

Mesmo assim, Lincoln conseguiu a maioria dos delegados do Norte, além de vencer na Califórnia e no Oregon. A vitória de Lincoln levou à formação dos Estados Confederados da América, em 1861, que tinha Jefferson Davis como presidente. Na Guerra de Secessão, porém, que durou de abril de 1861 a abril de 1865, o Sul saiu derrotado.

Pode-se considerar que as eleições seguintes, de 1864, também foram polêmicas, vez que o país se encontrava em meio à Guerra Civil e, mesmo assim, Lincoln optou por não adiar o pleito. Considerava-se que as chances do republicano vencer eram ínfimas, mas a história mostrou o contrário.

4. Eleições de 1876

Disputada entre Rutherford B. Hayes, do Partido Republicano, e Samuel J. Tilden, do Partido Democrata, esta foi a 23ª eleição presidencial dos EUA. No voto popular, Tiden venceu por 3%. Presumia-se, portanto, que ele era o vencedor. Vinte votos eleitorais, os emitidos por delegados dos Colégios Eleitorais, porém, foram contestados pelos republicanos.

Os partidos, então, concordaram em criar uma comissão formada por 15 pessoas, entre membros do Congresso e da Suprema Corte, que estudariam os votos contestados e decidiriam de forma imparcial a quem eles seriam destinados. Nesse meio-tempo, porém, um dos juízes da comissão, que era um político independente, acabou eleito para o Senado e abandonou o grupo. Acabou substituído por um juiz republicano, desequilibrando a formação da comissão e sendo decisivo para a vitória de Hayes.

5. Eleições de 1888

Em 1888, apesar de ter conquistado a maioria dos votos populares, Grover Cleveland, do Partido Democrata, acabou derrotado pelo republicano Benjamin Harrison, que conquistou a maioria dos delegados necessários para ser eleito 23º presidente dos Estados Unidos.

A política tarifária foi o principal assunto da eleição e decisiva para a vitória de Harrison. Enquanto este tomou o lado das indústrias e operários, a fim de manter as tarifas altas, Cleveland considerava as tarifas abusivas aos consumidores. Harrison acabou vencendo porque conquistou Nova York e Indiana, considerados estados decisivos e que eram industriais.

6. Eleições de 1912

A 32ª eleição presidencial dos Estados Unidos elegeu Woodrow Wilson, o único presidente do Partido Democrata eleito no país entre 1892 e 1932. A vitória de Wilson é creditada a um racha no Partido Republicano, que acabou dividindo também os eleitores.

Após deixar a Casa Branca em 1909, o então republicano Theodore Roosevelt partiu para um safári de 10 meses na África. Quando retornou, viu-se tentado a voltar à política. Roosevelt, porém, desentendeu-se com seu amigo e colega de partido William Howard Taft, vez que esse estava cada vez mais próximo da ala conservadora da legenda, o que irritou Roosevelt, mais progressista. O ex-presidente, então, desafiou Taft nas primárias do partido, mas teve sua indicação negada. O episódio levou Roosevelt a formar o Partido Progressista, pelo qual concorreu ao pleito.

As campanhas foram tão insanas que Roosevelt chegou a ser baleado durante um comício em Milwaukee, Wisconsin, mas sobreviveu. No fim, os eleitores republicanos ficaram divididos entre Roosevelt e Taft, o que acabou fortalecendo o democrata Wilson, que saiu vencedor. Roosevelt, que terminou em segundo lugar, permaneceu no Partido Progressista até 1916, quando retornou ao Partido Republicano, no qual permaneceu até morrer, em 1919.

7. Eleições de 2000

Disputada por George W. Bush (Partido Republicano) e Al Gore (Partido Democrata), as eleições presidenciais de 2000 nos EUA pareciam não ter fim. Isso porque houve uma controvérsia a respeito dos votos do Colégio Eleitoral da Flórida, que precisaram ser recontados. As discussões duraram semanas e Bush foi declarado vencedor no estado. Assim, o republicano conseguiu uma vitória estreita, com somente cinco delegados a mais que Gore.

Essa também foi a primeira eleição em 112 anos na qual o vencedor do pleito não recebera a maioria dos votos populares. Nas urnas, o democrata recebeu cerca de 51 milhões de votos, enquanto Bush conquistou 50,5 milhões.

8. Eleições de 2016

As eleições de 2016 foram a segunda da história recente na qual o candidato eleito foi perdedor nos votos populares. Hillary Rodham Clinton, ex-primeira dama, senadora e secretária de Estado dos EUA, conquistou três milhões de votos a mais que Donald Trump nas urnas. Mesmo assim, o republicano foi eleito porque venceu em estados considerados chave, como Flórida e Texas, e conquistou 304 delegados contra 227 de Hillary.

Esse, obviamente, não foi o único ponto polêmico das eleições de 2016. Trump, apesar de extremamente famoso no país, jamais havia exercido um cargo eleito até então, ao contrário de sua opositora. O pleito também foi marcado por teorias da conspiração, como a do Pizzagate, que alegava que membros do Partido Democrata estavam envolvidos em uma rede de pornografia infantil, que teria uma pizzaria de Washington como um de seus “quartéis generais”. Além, é claro, da interferência russa.

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