• Carregando...

Em depoimento publicado no jornal espanhol "El País", neste sábado (6), a blogueira cubana Yoani Sánchez contou detalhes sobre suas 30 horas de prisão em Cuba. A ativista ia cobrir, para o veículo europeu, o julgamento do espanhol Ángel Carromero, acusado pela morte do dissidente cubano Oswaldo Payá, quando foi detida pela polícia em Bayamo, capital da província de Granma, na última quinta-feira (4).

"Quiseram me impedir de chegar ao julgamento de Ángel Carromero", começa a blogueira no texto escrito pela própria. Em seguida, Yoani conta que um homem vestido "todo em verde-oliva" disse: "Vocês querem boicotar o tribunal", logo antes de detê-la, seu marido e também um amigo que os acompanhava.

Segundo ela, a operação montada pela polícia era tão grande quanto as utilizadas para prender traficantes ou assassinos em série, "mas, em vez que pessoas ameaçadoras, havia apenas três pessoas que queriam participar de uma audiência judicial".

A ativista comenta que as agressões começaram assim que ela foi levada para um local reservado. "Primeiro, três mulheres uniformizadas me cercaram e levaram meu celular. Depois, essas mesmas senhoras me levaram para um quarto e tentaram me despidir. Mas há uma parte de si mesmo que ninguém pode arrancar. Não sei, talvez a última folha de figueira a qual nos apegamos quando se vive sob um sistema que sabe tudo sobre as nossas vidas. Em um verso pobre e contraditório, seria como 'você pode ter minha alma ... o meu corpo não'. Então eu resisti e paguei as consequências", relata a blogueira no artigo.

Durante as primeiras três horas de detenção, a blogueira aepnas repetiu a frase: "Eu exijo que você deixe-me fazer uma chamada telefônica, é meu direito".

"O refrão me fez sentir forte contra as pessoas que estudaram na academia de métodos para acabar com a vontade humana. Uma obsessão era tudo o que eu precisava para enfrentá-los", escreveu.

A dissidente cubana ainda se recusou a comer ou beber qualquer líquido, a fazer o exame médico ou a dormir na cama que lhe foi oferecida. "Eu só fiz um pedido nas 30 horas de detenção: preciso ir ao banheiro. Eu estaria preparada para levar a batalha até o fim, mas a minha bexiga não", lembra Yoani, antes de acrescentar: "Eu tinha certeza de que não podia confiar em nada do que acontecia entre aquelas paredes. A água podia não ser água, a cama mais parecia uma armadilha e o pedido do doutor estava mais próximo ao do delator do que do médico. Tudo o que restou foi mergulhar nas profundezas do 'eu', fechar as portas para o exterior, e foi isso que fiz. A fase de 'hibernação' levou a um sono auto-induzido. Eu não disse mais uma palavra sequer".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]