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Transmissão do debate entre os dois candidatos na última quarta-feira (20): abstenção no primeiro turno foi a maior em 20 anos, e quase metade do eleitorado acredita que pode ocorrer fraude
Transmissão do debate entre os dois candidatos na última quarta-feira (20): abstenção no primeiro turno foi a maior em 20 anos, e quase metade do eleitorado acredita que pode ocorrer fraude| Foto: EFE/EPA/LUDOVIC MARIN

No domingo (24), o atual presidente Emmanuel Macron e a direitista Marine Le Pen repetem a disputa de 2017 no segundo turno da eleição presidencial na França em meio a um clima de desconfiança e desânimo por parte do eleitorado.

No primeiro turno, realizado em 10 de abril, 26,31% dos eleitores registrados para votar não compareceram às urnas (o voto no país não é obrigatório), a maior abstenção na primeira votação para presidente na França desde 2002. Curiosamente, naquele ano, chegaram ao segundo turno também um chefe do Executivo que buscava reeleição (Jacques Chirac) e um membro da família Le Pen (Jean-Marie, pai de Marine).

O não comparecimento há duas semanas foi bem mais alto entre o eleitorado mais jovem. Uma pesquisa feita pelo instituto Ipsos apontou que a taxa de abstenção foi de 46% no primeiro turno entre eleitores de 25 a 34 anos, e de 42% entre os de 18 a 24 anos.

“Para as gerações mais jovens, a relação com o voto é diferente, é mais intermitente. O voto é visto como uma prática de participação menos efetiva”, disse Tristan Haute, professor sênior de ciência política da Universidade de Lille, ao site da Euronews.

“Você tem pessoas que não se sentem politicamente legitimadas, que não votam porque não se sentem representadas, ou que não se sentem politicamente competentes para opinar”, acrescentou.

Em entrevista à rádio RFI, o cientista político Vincent Tiberj afirmou que, assim como tem ocorrido em outros países, os franceses têm encontrado outras formas de participar da vida pública, como o movimento dos Coletes Amarelos, e há um sentimento de desilusão com a política.

“Agora os cidadãos estão desafiando as elites e não seguem mais suas proclamações eleitorais”, destacou. “A cidadania não passa mais apenas pelo voto.”

Tiberj afirmou que essa desilusão com a política decorre também do fato de muita gente votar em um candidato apenas para que outro não vença, e não por identificação com propostas e perfil político.

“Quando você força as pessoas a escolherem o menor de dois males, isso causa um forte estresse na utilidade do voto”, ponderou o especialista. “Se não resolvermos essa questão, no futuro acabaremos com um número cada vez menor de cidadãos votando.”

A desconfiança sobre o processo eleitoral, a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos na eleição de 2020, é outro problema. Uma pesquisa realizada pelo instituto Ifop para a Fundação Reboot, divulgada na última terça-feira (19), mostrou que 48% dos entrevistados acreditam que a eleição francesa pode ser alvo de algum tipo de fraude, enquanto 14% foram mais diretos e afirmaram que o pleito será fraudado.

Entre eleitores de Marine Le Pen, pelo menos 30% acreditam na possibilidade de uma fraude eleitoral. Já dos que disseram votar em Macron, apenas 7% manifestaram a mesma desconfiança.

No primeiro turno, Macron obteve 27,85% dos votos, e Le Pen, 23,15%. Pesquisas divulgadas nesta sexta-feira (22) apontam o atual presidente com uma vantagem de dez a 14 pontos percentuais para o segundo turno.

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