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Referendo

Em região cocaleira da Bolívia, anti-Morales são hostilizados

Presidente boliviano tem cerca de 84% de aprovação na área rural. Morales possui redutos com plantações de coca

No fundo de um pequeno restaurante, no centro do município de Coroico, oeste da Bolívia, um homem de cabelos pretos e pele branca senta sozinho numa mesa. Começa a puxar assunto com todas as pessoas à sua volta, mas ninguém presta atenção. "Ele votou contra Evo. É anti-Morales e aqui todo mundo o detesta", conta-me no ouvido Glória Mamani Poma, filha de plantadores de coca e descendente dos índios aymara. Em Coroico, assim como em muitas outras regiões onde a população vive do plantio e da venda da folha de coca, ser contra o governo do primeiro presidente indígena cocaleiro da Bolívia é uma agressão.

As mil pessoas que vivem no povoado de Cruz Loma, a poucos quilômetros de Coroico, votaram por Morales no referendo revogatório deste domingo (10), afirmou o sub-prefeito Bernabé Mamani. "Ontem festejamos até o amanhecer a vitória de nosso presidente", disse. Os resquícios da festa podiam mesmo ser vistos pela região. Em apenas três horas, pelo menos dez bêbados tentaram parar o carro da reportagem para pedir carona ou para dizer que "estavam felizes".

Segundo o secretário-geral do sindicato dos cocaleiros do povoado, que concedeu a entrevista no bar ainda com um copo de pinga na mão, a festa é merecida, já que "o povo mostrou que quer mudar, que quer nosso líder no governo". Ramiro Calle contou que desde que Morales chegou à Presidência, tudo mudou na vida deles. "Antes a coca era muito barata e, às vezes, até proibida. Hoje o preço quase dobrou e nos sentimos valorizados."

Ao sair de La Paz em direção à Coroico, o caminho de montanhas é todo marcado com pichações e cartazes pró-Morales. Nos povoados próximos é difícil encontrar uma só casa que não tenha algo que se refira ao presidente. A bandeira da Bolívia também é marca registrada de qualquer bar, restaurante ou mesmo moradia.

Sem coca não há vida

As plantações de coca nesta região são de pequenos produtores que mantêm a produção com o trabalho de toda a família. Glória Poma explica que depois que Morales chegou ao poder a renda de sua família melhorou muito. "O preço da coca subiu demais, ficou valorizada, podemos exportar. E ainda há o programa Renda Dignidade, em que cada pessoa com mais de 65 anos recebe 200 bolivianos ao mês [o equivalente a R$ 46]."

Enquanto trabalha colhendo coca na plantação de sua família, Mercedes Zkuezu, de 53 anos, explica que antes era difícil viver só com o plantio. "O saco custava cerca de 30 bolivianos [cerca de R$ 6,9] na minha época! Evo é cocaleiro, entende o que passamos. E ele ainda tem suas plantações."

Para ela, assim como para a maioria das pessoas de Coroico, a coca é o único meio de subsistência possível. Como disse Zkuezu, depois de reclamar da dor nas costas por ficar oito horas agachada colhendo a folha: "A coca é nosso alimento, nos mantêm. Sem coca não há vida".

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