O diretor do FBI, Christopher Wray, supostamente forneceu, na semana passada, um briefing secreto detalhado ao Comitê de Inteligência do Senado dos EUA sobre a intromissão da China nas eleições do país. Além disso, na última sexta-feira (7), William Evanina, diretor do Centro Nacional de Contrainteligência e Segurança, emitiu uma declaração pública com detalhes de como a China, Rússia e Irã estavam de olho nas eleições norte-americanas.
A interferência do regime comunista chinês inclui o hackeamento de bancos de dados de registros de eleitores e a tentativa de influenciar membros do Congresso, informou o site de notícias Axios.
O briefing de Wray também vem à tona no momento em que o TikTok, rede social cada vez mais popular e que é considerada uma ferramenta potencial de interferência eleitoral, não apenas enfrenta uma proibição nos EUA, mas pode ser vendido para a Microsoft ou outra empresa norte-americana.
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Especialistas dizem que a China não seria capaz de mudar os votos depositados pelos americanos, mas podemos estar diante de uma guerra cibernética para a qual os EUA podem não estar preparados. Há, ainda, potencial para criar o caos e colocar em xeque a confiança na integridade dos resultados eleitorais.
Aqui estão quatro possíveis maneiras de a China interferir nas eleições americanas:
1. Como a interferência da China se compara à da Rússia?
A intromissão da Rússia nas eleições de 2016 levou a longas investigações no Congresso, bem como a uma investigação especial. Os russos hackearam o Comitê Nacional Democrata e compraram anúncios nas redes sociais.
Greg Barbaccia, ex-sargento de inteligência do exército com experiência em contraespionagem, ameaças internas e espionagem corporativa, afirmou ao The Daily Signal que com o hackeamento do Equifax, bureau de crédito dos Estados Unidos, a China acessou informações de 145 milhões de pessoas. Segundo ele, contudo, as empresas de mídia social que estavam vulneráveis na campanha eleitoral de 2016 estarão mais preparadas.
"O Facebook tem um grande interesse em conter a interferência [estrangeira] desta vez", disse Barbaccia. "Eles sabem que sua própria reputação está em jogo".
É um tanto difícil comparar a Rússia e a China em relação à interferência eleitoral, afirmou Karla Mastracchio, ex-analista de inteligência que faz trabalhos de consultoria para o Departamento de Defesa nas áreas de comunicação e influência.
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"A Rússia e a China têm capacidades diferentes", informou Mastracchio, que também é professora adjunta do Departamento de Jornalismo da Universidade de Iowa. "São como dois valentões do Ensino Médio. Um é grande e forte, enquanto o outro é muito inteligente. Mas ambos podem fazer da sua vida muito miserável".
Ela disse que a Rússia e a China são boas em desenvolver deep fakes, vídeos que parecem reais, muito mais atraentes do que as notícias falsas divulgadas pela Rússia no Facebook em 2016.
"Um deep fake não envolve apenas uma boa tecnologia; é uma tecnologia que se liga à cultura para se tornar verossímil", alertou Mastracchio. "Deep fakes procuram validar as crenças das pessoas".
A professora observou que a China tem laços comerciais suficientes com os Estados Unidos e outras regiões do mundo para possuir uma compreensão cultural - política ou não - para mensagens de relações públicas eficazes.
"Devemos parar se pensar em países como limites e pensar em sua 'pegada digital'", afirmou Mastracchio. "A China tem 'pegadas digitais' no Oriente Médio, África e América Latina, bem como nos EUA".
Hans von Spakovsky, jurista sênior da Heritage Foundation, disse que a China é claramente uma ameaça maior do que a Rússia. Ele citou a invasão ao Escritório de Gestão de Pessoal dos Estados Unidos, por meio da qual a China acessou informações sobre funcionários do governo federal norte-americano.
"As pessoas que estavam preocupadas com a interferência russa deveriam ter em mente como a China é uma ameaça maior. O hack do Escritório de Gestão de Pessoal foi a maior violação de dados do governo federal da história. Se eles quisessem causar grandes problemas, teriam conseguido", pontuou.
2. Qual é o objetivo da China?
Os especialistas dizem que os chineses até podem hackear informações dos eleitores e tentar emitir votos falsos ou levantar dúvidas sobre a integridade do pleito, afirmou Barbaccia. Isso, contudo, não alteraria os resultados - mas poderia fazer com que alguns cidadãos "perdessem a fé" no processo eleitoral.
"Semear a discórdia é o objetivo número um [da China]", comentou Barbaccia, ex-oficial de inteligência do exército. "Provavelmente se trata de uma disputa para ver qual candidato é capaz de semear mais discórdia".
Os alvos mais fáceis seriam as informações públicas de registro eleitoral dos norte-americanos, como os bancos de dados das zonas eleitorais. Saber quais foram os principais doadores das campanhas também seria uma informação valiosa.
Karla Mastracchio concordou que o objetivo principal da China é semear a discórdia. Ela disse que os chineses não estão escolhendo um lado nas eleições, republicano ou democrata, mas criando uma ruptura. Para ela, a guerra de informações instaurada no governo dos EUA não alcançou a China - e pode ser que nunca alcance.
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"Os hackers chineses estão alguns anos à nossa frente. Eles não seguem as mesmas regras e pode ser que nunca consigamos alcançá-los. Podemos até argumentar que temos uma vantagem moral e ética, mas não temos vantagem quando estamos diante de um ataque", opinou.
3. O que a China diz?
De forma não surpreendente, o governo chinês nega quaisquer planos de interferência na eleição dos EUA em novembro de 2020, embora as agências de inteligência norte-americanas concluam que a China se intrometeu nas campanhas de 2016 e 2018.
Um funcionário do governo chinês disse que seu país "não está interessado" na interferência eleitoral dos EUA.
"Reiteramos muitas vezes que a eleição norte-americana é assunto interno dos próprios EUA. A China não está interessada em interferir", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, de acordo com o portal de notícias Voice of America. "Ao mesmo tempo, esperamos que o povo dos Estados Unidos não arraste a China para a sua política eleitoral".
As agências de inteligência dos Estados Unidos concluíram que os hackers chineses se intrometeram nas eleições de 2016 e 2018, e dizem que os hackers aliados aos chineses já começaram ataques contra alvos políticos norte-americanos ligados às eleições deste ano.
4. O voto por correspondência é mesmo mais vulnerável?
Christopher Wray, diretor do FBI, e outros oficiais de segurança nacional disseram ao Congresso dos EUA que a China está trabalhando para interferir nos sistemas eleitorais locais dos EUA, relatou o site de notícias Axios.
"Eles poderiam hackear o banco de dados de registro de eleitores estaduais como uma forma de bagunçar as eleições", disse Hans von Spakovsky, da Heritage Foundation.
Esse poderia ser um problema específico em relação à votação por correio em algumas zonas eleitorais. Se uma operação de espionagem estrangeira quisesse criar um caos em massa e longos atrasos no processo eleitoral norte-americano, afirmou Spakovsky, as listas de eleitores seriam obtidas facilmente na maioria dos estados.
Organizações sem fins lucrativos, por exemplo, frequentemente obtêm essas listas. Assim, China, Rússia ou qualquer outra entidade estrangeira poderiam muito bem estabelecer uma organização fictícia, até com site de registro eleitoral apartidário.
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Além disso, governos estrangeiros poderiam hackear as informações de registro eleitoral para obter nomes. A entidade fictícia poderia enviar cédulas falsas, com base em cédulas de amostra oficiais, para eleitores registrados ou selecionados em determinadas regiões, alegou Spakovsky.
As autoridades eleitorais estaduais conseguiriam, muito provavelmente, detectar as cédulas fraudulentas. Receber mais de uma cédula, porém, uma verdadeira e outra falsa, deixaria os eleitores confusos.
"Dependendo de quão boa for a falsificação, a agência de espionagem poderia até conseguir que uma porcentagem de suas cédulas fraudulentas seja aceita como real", afirmou Spakovsky por e-mail ao Daily Signal. "Mas gerar caos e abalar a confiança da sociedade no resultado da eleição já seria um objetivo válido para adversários estrangeiros".
Karla Mastracchio disse não ter certeza sobre como a votação poderia ser, efetivamente, afetada, mas afirmou que os chineses poderiam, muito bem, promover uma narrativa sobre essa modalidade de votação nas redes sociais, por exemplo.
"Eu consigo enxergar uma campanha de informação a fim de fomentar nas pessoas a ansiedade sobre os votos por correspondência. Os chineses podem muito bem inundar o Facebook e o Twitter com postagens exigindo protestos nas ruas para exigir a votação presencial".
* Fred Lucas é correspondente do Daily Signal na Casa Branca.
© 2020 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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