Entrevista

• 0

Com a morte de Kirchner o partido Justicialista (governista, fundado por Perón) fica mais fraco?

Não, mas existe uma interrogação importante porque Kirchner, além de fundar o "kirchnerismo", também foi um líder que manejou toda a estrutura do que nós chamamos de "armação política", o que gera expectativa sobre quem vai encarar agora a construção política.

Cristina delegou essa responsabilidade ao ex-presidente, e agora pode haver disputas reais de poder entre os seguidores de Kirchner sobre quem vai dar essa nova direção e conduzir o partido.

Por que ela não pode ser esse líder?

Porque ela delegou essa faculdade ao marido, e quando isso acontece surgem outras disputas de poder. Ainda mais num momento em que é preciso começar a definir candidatos a governador, deputado e presidente. Essa era uma tarefa que competia ao ex-presidente.

Será mais difícil agora ao partido eleger um novo presidente no ano que vem?

Acho que não é tanto a questão de quem será o candidato [justicialista] e sim que respaldo político ele terá. O peronismo é um partido de estrutura sindical em que o líder necessita de forte respaldo interno.

Então Kirchner fará falta tanto como candidato quanto como líder?

Sem dúvida, ele era importante mais do que como potencial candidato, como alguém capaz de construir respaldo político. Até para dizer se a candidata seria Cristina.

Quais foram as conquistas de Kirchner?

Coube a ele ordenar uma situação muito complexa em 2003. Ele soube manejar muito bem a situação, com personalidade forte, conquistar governabilidade e conter as tensões sociais.

Fez isso como consequência de sua atitude confrontadora ou apesar dela?

Na Argentina o confronto é algo quase sagrado, e alguém que confronte, saiba brigar, muitos o veem como tendo caráter, coragem.

O país poderia crescer mais se Cristina deixasse os confrontos de lado?

Não só crescer, mas também ver que a resolução de conflitos não precisa ser violenta. A América Latina está preparada para caudilhos, e Kirchner era um. Cristina não pode se transformar em uma, porque os caudilho nascem assim.