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Quito – Os equatorianos elegem hoje o seleto grupo de 130 parlamentares constituintes que terão a tarefa de elaborar a 20.ª Constituição de um dos menores e mais instáveis países da América do Sul, mas com importância estratégica por causa do petróleo e que ganha cada vez mais as atenções internacionais devido à aproximação com o governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Apesar de habituados a novas Cartas Magnas – uma a cada nove anos em média – governo, oposição e população parecem perdidos quanto aos rumos que o novo texto deve indicar ao país.

Para os opositores do presidente Rafael Correa, vale quase tudo para conseguir o maior número de vagas possível na Assembléia – oferta de empregos, ingressos para parques de diversão e promessas de que a nova Constituição vai baixar o preço dos alimentos. Projetos para reformas importantes, no entanto, não parecem ter importância na agenda. "O preço da cebola subiu 24% em um ano, o da couve-flor 54%. E a culpa é deste governo. Se eleito para a Constituinte, vou estabelecer regras para baixar o preço dos alimentos", disse Álvaro Noboa, ex-candidato à Presidência e principal candidato do Partido Renovador Institucional Ação Nacional (Prian), com grandes chances de se eleger, segundo analistas.

Outros oposicionistas preferem ter como plataforma não seus próprios projetos, mas o bloqueio de todas as iniciativas do governo na Assembléia. "Quero ser eleita para acabar com a prepotência e o autoritarismo de Correa e lutar pela liberdade. Vou tentar bloquear qualquer projeto proposto pelo governo", disse Anabella Azín, também do Prian. Já a Aliança País (governista), favorita nas pesquisas, apresentou propostas para reformas, muitas delas, no entanto, vagas como os conceitos de socialismo do século 21, a exemplo da Venezuela, e de economia humana, sem dar detalhes do que significam.

Enquanto Correa prega que pretende refundar a República, seu principal candidato à Assembléia, Alberto Acosta, diz exatamente o contrário: "Não vamos refundar o país. Não podemos e nem vamos esquecer nosso passado".

Ao ser indagado sobre a contradição que esse pensamento tem com o que diz o presidente, Acosta responde: "Não somos porta-vozes de Correa. Temos pontos convergentes e também divergências".

Governistas também não sabem explicar o que farão caso não consigam maioria e precisem enfrentar uma oposição interessada no bloqueio da Carta e nem há consenso se, nesse caso, deve-se ou não apoiar a renúncia do presidente. "Os governistas falam de maior participação do Estado na economia, mas não sabemos exatamente o que isso significa", disse o presidente do Comitê Empresarial, Patricio Donoso. As poucas propostas mais claras, no entanto, estão assustando empresários e investidores estrangeiros.

Uma é a revisão dos contratos de exploração de petróleo. Uma das afetadas pode ser a Petrobrás, que já investiu desde 1996 cerca de US$ 400 milhões. Na contramão do que agora prega, Correa declarou no início do governo que gostaria de ver a Petrobrás ampliando seus negócios no país.

Tendo que escolher entre mais de 3 mil candidatos, parte da população, sobretudo a mais pobre, se vê mal informada e tentada a priorizar presentes e favores oferecidos. "Nenhuma Constituição mudou a situação dos pobres e essa não vai ser diferente. Por isso vou votar em quem me prometeu um emprego", disse o ambulante Roberto Sanz. Já o publicitário Juan Mendes pretende escolher os candidatos com as melhores propostas, mas diz que a falta de informação é grande: "Estamos vivendo um momento de profundas mudanças. O problema é que essas mudanças não estão claras, nem mesmo para muitos políticos".

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