
Caracas acusa plano da direita espanhola
O governo venezuelano possui "excelentes relações" com a Espanha e estas não poderão ser destruídas pela "direita espanhola", afirmou ontem o chanceler Nicolás Maduro, que denunciou uma "campanha de difamação" contra o presidente Hugo Chávez.
"Temos uma boa relação em todos os sentidos, não apenas no campo judicial ou policial, mas no energético, político e cultural. Excelentes relações", declarou o titular das Relações Exteriores ao canal venezuelano Venevisión. "Não poderá esta direita espanhola obcecada com o presidente Chávez destruir estes laços que estamos dispostos a acrescentar", enfatizou Maduro, que denunciou uma "campanha de difamação" contra o governo venezuelano devido às recentes declarações de supostos membros do ETA.
Chávez chamou de "disco arranhado a divulgação, pela Espanha, de que integrantes do grupo separatista basco ETA confessaram ter recebido treinamento na Venezuela em 2008. Na segunda-feira, a Chancelaria espanhola pediu informações a Caracas a respeito dos depoimentos de Xabier Atristain e Juan Carlos Besance, presos na semana passada. Os dois disseram que têm como contato na Venezuela Arturo Cubillas, suposto integrante do ETA, no país desde 1989 e funcionário de um ministério chavista.
Madri - A Espanha explicou ontem que o fato de supostos membros do grupo separatista basco ETA terem declarado que foram treinados na Venezuela não denota uma relação entre o governo do presidente Hugo Chávez e esses exercícios militares.
O ministro do Interior do país europeu, Alfredo Pérez Rubalcaba, fez essa declaração logo depois que Chávez refutou e desmentiu qualquer vínculo com aquele grupo armado, além de ter criticado veementemente essa organização.
"Para o ETA, a Venezuela, durante algum tempo, foi um certo respiro... mas, insisto, de um tempo para cá, as coisas tem melhorado", acrescentou o ministro.
Logo depois de divulgado um processo na Justiça espanhola, que citava declarações de Juan Carlos Besance e Xabier Atristain, a Espanha pediu na segunda-feira informações à Venezuela. Os dois sustentavam que haviam sido treinados em território venezuelano depois de terem recebido cursos de formação na França.
Besance e Atristain se encontram sob prisão provisória por portarem explosivos e armas e por fazerem parte da organização terrorista.
As autoridades venezuelanas minimizaram as declarações dos supostos membros do ETA, aos quais os classificou de "criminais e sanguinários desprovidos de qualidade moral e humana". O embaixador da Venezuela na Espanha, Julián Rodríguez, afirmou que as declarações dos detidos poderiam ser desconsideradas em um tribunal e não tinham credibilidade. Rodríguez disse ainda duvidar de que as afirmações dos presos tivessem sido "totalmente voluntárias", o que provocou protestos do principal partido de oposição da Espanha, o Partido Popular, que considerou que as palavras do embaixador questionavam a integridade das forças de segurança da nação europeia e do tratamento dado aos detidos.
O suposto vínculo do ETA com a Venezuela já provocou uma crise diplomática entre Madri e Caracas em março, quando o juiz espanhol Eloy Velasco acusou, em um processo, o governo Chávez de cooperar para que o grupo separatista basco e a guerrilha colombiana das Farc operassem em seu território.
De acordo com esse processo, em 2007, membros do ETA teriam sido escoltados por um militar venezuelano a um lugar da selva, onde teriam recebido cursos de manuseio de explosivos de integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).