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A publicação na internet pela Santa Sé de seus procedimentos para casos de pedofilia, com a garantia de que as denúncias serão acompanhadas de processos na Justiça comum, pode não acalmar totalmente os ânimos dos críticos, que veem a cada nova denúncia uma prova de que a Igreja está em sua maior crise desde a Reforma Protes­­tan­­te, no século 16.

"A publicação ainda é uma ação muito interna à Igreja. As pessoas questionam como será feita a punição civil daqueles considerados culpados", opina o pesquisador da UFPR de História da Religião Euclides Marchi.

Em especial, os céticos criticam a opção por manter padres ofensores trabalhando para a Igreja, caso se arrependam. Para Marchi, "a Igreja tem muito forte essa questão do arrependimento. Cria uma situação para ele (o padre que cometeu abuso) ficar recluso, não ter contato com pú­­blico, mas não o joga às traças".

Por outro lado, o texto do Va­­ticano traz a vantagem de esclarecer que a Igreja não é contra "entregar" o criminoso à Justi­­ça. Ao defender o Papa em artigo pu­­blicado no jornal londrino Ti­­mes, no mês passado, o ar­­ce­­bis­­po de Westminster Vin­­cent Ni­­ chols já dizia que "nada no direito canônico proíbe ou im­­pede levar casos de ofensas à po­­lícia".

Outra crítica comum relaciona a pedofilia ao celibato.

"No mundo moderno e hipersexualizado em que vivemos, o celibato não é visto como uma opção pessoal (e espiritual) legítima e respeitável", responde o colunista da Folha de São Paulo João Pereira Coutinho em artigo em que apresenta números: na Alemanha, desde 1995, só 0,2% das denúncias de abuso contra menores tiveram relação com padres católicos. "É um problema moral, de conduta", reforça Marchi.

Processo

O colunista considera um apelo com objetivo midiático o processo contra o Papa Bento XVI, por omissão, que ingleses ateus prometem abrir.

Na hipótese de a ideia vingar, seria necessária uma cadeia de acontecimentos para que o líder católico viesse a ser condenado. Na Jus­­tiça inglesa, seria preciso haver o entendimento de que a Santa Sé não é um Estado (já que chefes de Estado têm imunidade). Já no Tribunal Penal Inter­­nacional, outro foro aventado, seria mais complicado ainda, já que apenas Estados signatários podem ter cidadãos julgados ali. Restaria como opção a ONU pe­­dir o processo contra o Papa. "Nes­­se caso, a França, que é um país ca­­tólico, não permitiria", diz a professora de Direito In­­ternacional da Uni­­Brasil La­­rissa Ramina.

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