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A Assembleia Constituinte do Chile deve ser composta, em sua maioria, por membros da esquerda e centro-esquerda favoráveis a uma Carta Magna que priorize os direitos sociais e aumente a participação do Estado.
Dados preliminares da eleição dos constituintes, que ocorreu neste fim de semana, mostram que grupos deste espectro ideológico e grupos independentes conquistaram mais de dois terços da Assembleia, enquanto que a lista endossada pelo presidente Sebastián Piñera, de direita, obteve apenas 37 assentos, longe de alcançar os 52 necessários (⅓) para bloquear artigos da constituição, que será redigida pelos eleitos até junho de 2022.
“Os cidadãos nos enviaram uma mensagem clara e forte ao Governo e também a todas as forças políticas tradicionais: não estamos nos sintonizando adequadamente com as demandas e anseios dos cidadãos”, disse o presidente ao comentar o pífio resultado eleitoral dos partidos tradicionais na eleição constituinte.
Claudia Heiss, cientista política chilena, afirmou que entre as grandes surpresas do resultado da eleição constituinte está a grande quantidade de independentes que vão fazer parte da Constituinte. Juntas, as listas não vinculadas a partidos políticos obtiveram 48 das 155 cadeiras da assembleia. A maioria desses nomes independentes são de esquerda, centro-esquerda e críticos ao establishment político, segundo ela – embora seja necessário considerar que as listas independentes podem não apresentar uma visão tão homogênea quanto às partidárias, sendo difícil classificá-las dentro de uma ideologia política – esquerda ou direita.
A lista independente que obteve mais votos (24 cadeiras), a “Lista Del Pueblo”, por exemplo, é composta por candidatos independentes de esquerda de vários distritos chilenos que se articularam após as manifestações de 2019 para construir uma constituição com “igualdade de gênero e com um Estado Plurinacional e digno”. Eles também tentaram promover uma campanha pela destituição de Piñera. A "Nova Constituição", que conquistou 11 cadeiras na assembleia, também tem propostas mais alinhadas à esquerda, enquanto as demais listas são mais difíceis de categorizar.
Heiss avaliou, em entrevista para o programa de rádio Mejor Hablar, que a combinação destes dois cenários – uma grande participação de independentes e o fato de que a direita não conseguiu o número de cadeiras necessário para conseguir bloquear artigos da nova constituição – vai fazer com que a "Assembleia seja muito diferente do que vimos no sistema político nos últimos 30 anos".
“A negociação, a conversa será algo completamente novo. E a isso devemos somar também os povos indígenas, as mulheres que estarão em paridade. É realmente um nível de novidade para o sistema político, o que torna o que vai acontecer na Convenção bastante imprevisível".
Claudio Fuentes, também cientista político chileno, acredita que, essas características da Assembleia Constituinte resultarão em uma nova Constituição chilena bastante diferente da que está em vigor.
“O que pode ser feito é uma Constituição que estabeleça direitos sociais, que fortaleça a questão do Estado. Vai haver uma Convenção que vai deslocar o eixo do que é a Constituição atual para uma Constituição, digamos, de um Estado de Bem-estar mais forte e com maior regulação dos [mercados] privados”, observou Fuentes em entrevista à rádio Sonar FM.