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Terroristas do Estado Islâmico em um veículo blindado na província de Anbar, no Iraque
Terroristas do Estado Islâmico em um veículo blindado na província de Anbar, no Iraque| Foto: AL-FURQAN MEDIA/ AFP

Em uma série de campanhas sangrentas de 2014 a 2019, uma coalizão militar multinacional expulsou o grupo Estado Islâmico, também chamado de EI, de grande parte do território iraquiano e sírio que era governado brutalmente pela severa teocracia militante.

Mas o Pentágono e a Organização das Nações Unidas (ONU) estimam que o grupo ainda tenha cerca de 30 mil insurgentes ativos na região. Outros milhares de combatentes alinhados ao EI estão espalhados pela África e Ásia, desde as savanas do Mali e Níger aos desertos do Iraque e montanhas do Afeganistão, e até as selvas das Filipinas.

Eu monitoro a aliança informal de vários afiliados e grupos insurgentes globais conhecidos coletivamente como Estado Islâmico. A atividade faz parte de minha pesquisa que narra as guerras dos Estados Unidos em terras remotas onde trabalhei para a CIA e o Exército dos EUA. Também monitoro as atividades do Estado Islâmico em todo o mundo para um projeto da Universidade de Massachusetts-Dartmouth coordenado por mim, chamado MappingISIS.com.

Nos últimos meses, o grupo do Estado Islâmico se reconstituiu na região da Síria e do Iraque e continua a inspirar o caos em todo o mundo.

Iraque, a pátria da jihadocracia

O "Dawla Islamia", ou Estado Islâmico, começou como um grupo insurgente muçulmano sunita no Iraque, em meio ao turbilhão de violência sectária que se seguiu à invasão liderada pelos EUA em 2003. Até então, o Baath, partido de Saddam Hussein que estava no poder, havia suprimido grupos jihadistas islâmicos de todas as estirpes, limitando a influência no Iraque do Irã dominado pelos xiitas e da Arábia Saudita fundamentalista sunita.

Em 2014, o EI explodiu em toda a região e assumiu uma ampla faixa de território do Iraque e da Síria, onde atuava como um governo de fato. Ele também mantinha uma feroz força de combate, sempre buscando expandir o alcance do seu regime islâmico fundamentalista autointitulado "califado".

Desde grandes derrotas em 2017, o grupo do Estado Islâmico se retirou para um santuário praticamente inacessível nas remotas montanhas Qara Chok, Hamrin e Makhmoul, no nordeste do Iraque. A partir de lá, eles atacam regularmente tropas dos EUA e do Iraque, forças curdas e milícias xiitas locais. Eles também atraem novos recrutas sunitas, ressentidos com a discriminação e repressão do governo iraquiano atualmente dominado pelos xiitas.

As campanhas de terror do grupo incluem passar-se por tropas do governo em postos de controle falsos para executar "traidores", matar anciões de tribos e vilas pró-governo e executar funcionários do governo em ataques noturnos em suas casas.

No verão de 2019, os combatentes do EI no norte do Iraque também queimaram centenas de acres de plantações pertencentes a aldeões suspeitos de serem pró-governo que foram rotulados de "infiéis".

Mais recentemente, os combatentes do EI foram encorajados pelo ataque com drones dos EUA que matou o major-general iraniano Qasem Suleimani, que liderou milícias xiitas iraquianas contra eles. A morte de Suleimani, que os líderes do Estado Islâmico saudaram como "intervenção divina", levou a uma interrupção das operações conjuntas entre EUA e Iraque contra o Estado Islâmico. O parlamento e o primeiro-ministro do Iraque pediram que todas as tropas dos EUA deixassem o Iraque, o que proporcionaria uma oportunidade para que as forças do EI expandissem suas operações.

Síria, a antiga capital do terror

De 2015 a 2019, o Estado Islâmico administrou um governo no território sírio que ocupava, com base na província de Raqqa, no nordeste da Síria. Essa organização colapsou aos poucos sob os ataques de forças curdas apoiadas pelos EUA, e do Exército Sírio, apoiado por Rússia e Irã. Enquanto recuavam, os líderes do EI esconderam armas e milhões de dólares no vasto deserto da Síria e reconstituíram seu movimento como uma força de guerrilha.

Desde a derrota de seu estado físico, insurgentes resistentes do EI na Síria mataram soldados russos pró-governo, massacraram drusos pró-governo e atacaram combatentes curdos e oficiais de inteligência anti-EI com carros-bomba e bombas na estrada.

Desde o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, em outubro de 2019 de que as tropas americanas recuariam de suas bases no norte da Síria, muitos combatentes do Estado Islâmico presos pelos curdos também saíram de suas prisões.

No entanto, cerca de 70 mil membros e apoiadores do Estado Islâmico - homens, mulheres e crianças - ainda permanecem em seus campos de internação protegidos pelos curdos, que se tornaram centros de treinamento para uma nova geração de "filhos jihadistas do Califado".

Uma operação da Força Delta dos EUA em novembro de 2019 levou à morte de Abu Bakr al-Baghdadi, o líder messiânico do Estado Islâmico - mas o grupo já escolheu um sucessor e prometeu vingar a morte de al-Baghdadi.

Nigéria, o bastião da selva

Em 2015, os membros do grupo terrorista islâmico Boko Haram, conhecido por sequestrar meninas estudantes, juraram lealdade ao Estado Islâmico.

Cerca de 4 mil de seus combatentes operam nas selvas do nordeste da Nigéria, atacando postos avançados do exército, vilas remotas e até cidades. Eles sequestram civis e matam soldados não apenas na Nigéria, mas nos países vizinhos do Chade, Níger e Burkina Faso, desafiando os esforços militares multinacionais para combater as atividades do grupo.

Afeganistão, a fortaleza nas montanhas

Em 2015, ex-membros do Talibã insatisfeitos e radicais do Paquistão e da tribo dominante do Afeganistão, os pashtuns arianos, formaram uma filial afegã do Estado Islâmico nas montanhas remotas e arborizadas da província de Nangarhar, leste do país.

A partir dessa base, eles realizaram uma onda mortal de atentados suicidas em Cabul e em outros lugares. Eles também executaram publicamente membros de tribos e até mesmo do Talibã, a quem acusavam de ter crenças islâmicas insuficientemente extremas.

No seu auge, o grupo tinha cerca de 3 mil combatentes, mas ataques dos exércitos dos EUA e do Afeganistão, incluindo um que usou a maior bomba não nuclear do mundo, reduziram esse número para cerca de 300. Um líder afegão, Abdullah Abdullah, os descreveu para mim como "fanáticos que estão além dos limites e são incapazes de participar de uma negociação".

Egito, a fortaleza do deserto beduíno

Desde 2014, um grupo de beduínos na península do Sinai, no norte, irritado com as políticas seculares do governo egípcio e com a percepção de discriminação econômica, realizou vários ataques em nome do Estado Islâmico. O grupo explodiu um avião russo que transportava mais de 200 pessoas, massacrou dezenas de cristãos coptas em suas igrejas e matou mais de 200 fiéis em uma mesquita muçulmana sufi no Sinai.

O grupo continua ativo, apesar das operações antiterroristas das forças armadas egípcias, às vezes com assistência da Força Aérea de Israel.

Filipinas, posto avançado do Pacífico

Em 2016, vários grupos de terroristas e sequestradores jihadistas locais nas selvas sem lei das ilhas predominantemente muçulmanas de Basilan e Mindanao prestaram um juramento de lealdade ao Estado Islâmico.

O ataque mais notável desses grupos foi a sangrenta conquista da cidade de Marawi em 2017. Eles queimaram igrejas católicas e tomaram mais de 1.700 pessoas como reféns antes de serem expulsos por um exército de 10 mil soldados filipinos apoiado pelos EUA. A batalha assistiu aos combates mais intensos do país desde a Segunda Guerra Mundial e levou à morte de mais de 900 insurgentes. Apesar disso, a franquia do EI nas Filipinas continua ativa e, mais recentemente, explodiu uma igreja católica em janeiro de 2019.

Líbia, a capital alternativa

Os jihadistas do norte da Líbia juraram lealdade ao Estado Islâmico em 2015 e receberam assistência, treinamento e apoio financeiro dos comandantes do EI enviados da Síria. Os terroristas capturaram a cidade costeira de Sirte, no norte da Líbia, que eles apelidaram de "Raqqa do litoral", como uma capital alternativa caso o EI perca suas terras principais na Síria e no Iraque.

No início de 2015, militantes do EI da Líbia decapitaram dezenas de cristãos coptas e cristãos etíopes que tinham sido capturados.

Após meses de intenso combate urbano, milícias apoiadas pelos EUA da cidade vizinha de Misurata retomaram Sirte e regiões vizinhas no final de 2016. Os combatentes do Estado Islâmico recuaram para o remoto deserto do sul, agora sua base para ataques insurgentes ousados, como a tomada de uma cidade e a decapitação pública de um líder local em abril de 2019. O Pentágono continua a realizar ataques aéreos contra as bases do grupo.

Existem outros afiliados do Estado Islâmico em terras tão distantes quanto o Níger, Mali, Iêmen e Somália. Células terroristas que reivindicam afiliação ao EI realizaram ataques em nome do Estado Islâmico em lugares como Turquia, Sri Lanka, Bangladesh, Tunísia, Arábia Saudita, Irã, Daguestão e Caxemira.

Entre os apoiadores resilientes do EI, estão os obstinados que veem os reveses militares não como derrotas permanentes, mas como testes de fé em uma eterna guerra transgeracional, projetada para provocar o apocalipse.

*Brian Glyn Williams é professor de História Islâmica na Universidade de Massachusetts Dartmouth.

Artigo publicado originalmente em inglês no site The Conversation.

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