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Imagem de satélite mostra a base aérea de Ain Al-Asad, no Iraque, após ataque de mísseis do Irã, 8 de janeiro de 2020
Imagem de satélite mostra a base aérea de Ain Al-Asad, no Iraque, após ataque de mísseis do Irã, 8 de janeiro de 2020| Foto: Planet Labs Inc. / AFP

O conflito entre Estados Unidos e Irã parece ter esfriado, pelo menos por enquanto, após dias de tensão crescente.

Como era esperado, o Irã retaliou o ataque comandado pelos Estados Unidos que matou o general Qasem Suleimani na semana passada em Bagdá, lançando mísseis e foguetes contra bases militares ocupadas por tropas norte-americanas no Iraque.

A ação do Irã parece ter sido calculada para não levar o presidente Donald Trump a atacar alvos dentro do seu território, ao mesmo tempo que dá uma resposta à execução de Suleimani. Além disso, o primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdul Mahdi, disse que o Irã alertou o Iraque antes de disparar os mísseis.

Logo após os ataques, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, declarou que o país adotou medidas "proporcionais" e que o governo iraniano não busca a guerra com os EUA, mas estava se defendendo de uma agressão.

Trump também se afastou de um maior confronto militar com o Irã em seu pronunciamento na manhã desta quarta-feira. Ele afirmou que os americanos deveriam estar "gratos e felizes", já que não houve americanos ou iraquianos mortos no ataque. Trump acrescentou que o Irã "parece estar se acalmando, o que é uma coisa boa".

O republicano elogiou as forças militares de seu país, "mais fortes do que nunca", mas afirmou que espera não precisar utilizá-las na hipótese de um conflito com a nação persa. Mesmo assim, disse que o Exército dos Estados Unidos está preparado para "qualquer coisa".

Em troca pelos ataques às forças americanas, portanto, o Irã recebeu apenas ameaças de novas sanções econômicas do governo americano.

O discurso de Trump contrastou com os seus comentários logo após a morte de Suleimani, quando ele ameaçou bombardear patrimônios culturais iranianos, um possível crime de guerra.

Os ataques moderados provocaram desconfiança entre alguns especialistas. "A minha avaliação é que houve um acordo entre os dois governos para chegar a essa situação", disse à Gazeta do Povo Gunther Rudzit, professor de relações internacionais na ESPM e na Sustentare Escola de Negócios. "É impossível em duas bases militares grandes com tantos soldados, ninguém sair ferido. Essa ação foi importante para o regime iraniano - para dar uma resposta para a população iraniana - e também para o presidente Trump, para mostrar que ele foi lá, matou, e nenhum americano morreu", avaliou Rudzit.

Analistas acreditam que o ataque pode ter intencionalmente evitado mortes de norte-americanos, para não ultrapassar a "linha vermelha" de Trump.

No entanto, o general de mais alto escalão nos EUA descartou a hipótese e disse nesta quarta-feira que ele acredita que o Irã pretendia matar militares americanos nos ataques. "Eu acredito, com base no que vi e no que sei que [os ataques] tinham o objetivo de causar danos estruturais, destruir veículos, equipamentos e aeronaves, e matar pessoas. Essa é a minha avaliação pessoal", o general Mark Milley disse a jornalistas, segundo sites de notícia locais.

Embora Teerã e Washington tenham demonstrado que não querem partir para um confronto militar total - especialmente o Irã, que não estaria em condições de enfrentar uma guerra com os EUA, analistas são cautelosos e apostam que o Irã continuará buscando maneiras de expulsar os americanos do Oriente Médio e que está analisando as suas opções de retaliação, que podem ocorrer em curto ou médio prazo.

Na tarde desta quarta-feira, pelo menos dois foguetes atingiram a Zona Verde de Bagdá, a região de alta segurança onde estão localizadas a embaixada dos EUA, outras missões estrangeiras e prédios do governo. Até o momento não foram divulgados muitos detalhes sobre o caso, mas autoridades informaram que não houve vítimas.

Acordo nuclear

Em seu discurso nesta manhã, Trump criticou o acordo nuclear feito com o Irã, e fez um apelo a Reino Unido, Alemanha, França, Rússia e China para que reconheçam a necessidade do Irã "abandonar ambições nucleares e o apoio ao terrorismo".

Os cinco países fazem parte do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), assinado em 2015 junto com EUA, Irã e União Europeia. O acordo, chamado no discurso de Trump de "muito defeituoso", impõe limites aos programas nucleares nacionais. Os EUA abandonaram o Plano em 2018. Depois da morte de Qassim Suleimani, o Irã declarou que não irá mais cumprir as limitações impostas.

Na prática, os europeus já haviam se retirado do acordo, explica o professor Rudzit. "Os governos europeus haviam prometido que as empresas do continente continuariam negociando com o Irã, mas isso não aconteceu, porque as empresas temem as sanções financeiras do governo Trump", afirmou.

Rudzit descarta a possibilidade de negociações para um novo acordo nuclear com o Irã. "Não tem como, diante da repercussão e dos protestos da população, o aiatolá Khamenei dizer que vai sentar para negociar com o 'Grande Satã', como eles chamam os Estados Unidos", disse. Para o especialista, o Irã deve voltar à sua estratégia anterior, de ficar no limite de desenvolver uma arma nuclear, para pressionar governos europeus e dos EUA e fazer acordos em posição mais vantajosa.

Trump é contestado em casa

A Câmara dos Deputados dos EUA votará na quinta-feira uma resolução apresentada pelos democratas para limitar a capacidade de Trump de usar força contra o Irã. A oposição ficou insatisfeita porque Trump não consultou o Congresso antes de realizar o ataque que matou Suleimani e agravou as tensões com a região - levando ao ataque de mísseis iranianos e à decisão do parlamento iraquiano de expulsar os militares americanos do país.

Se aprovada, a legislação faria Trump interromper as hostilidades contra o Irã, a menos que o Congresso as autorizasse explicitamente ou que fossem necessárias para defender as tropas americanas contra um ataque, de acordo com um esboço do projeto de lei.

Os congressistas ouviram nesta quarta-feira explicações de autoridades militares e de inteligência sobre a decisão unilateral de Trump de matar Suleimani. Alguns deles saíram da sessão a portas fechadas insatisfeitos com a falta de justificativas para a ação.

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