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Pessoas se reuniram em um hotel próximo à escola para onde foram levados os alunos após o tiroteio que ocorreu nesta quarta-feira (14) | MARK WILSONAFP
Pessoas se reuniram em um hotel próximo à escola para onde foram levados os alunos após o tiroteio que ocorreu nesta quarta-feira (14)| Foto: MARK WILSONAFP

A única coisa que a estudante brasileira Melissa Camilo, de 15 anos, pode fazer ao ouvir os tiros foi correr em direção à parede e ficar em silêncio. "A gente ficou bem quietinho para ele não escutar nada, não saber que tinha gente na nossa sala", afirmou ela, em entrevista à reportagem, por telefone.

Ela é uma das estudantes da escola Marjory Stoneman Douglas e, nesta quarta (14), estudava em uma sala em frente ao local onde começou o ataque que deixou 17 pessoas mortas. Pouco antes do término das aulas, um ex-aluno, Nikolas Cruz, 19, invadiu o local e disparou contra estudantes e professores com um fuzil AR-15. Ainda há feridos internados em hospitais.

O colégio, que tem 3.000 alunos, fica em Parkland, Flórida, a 70 km ao norte de Miami, numa região que concentra migrantes brasileiros. Muitos filhos de imigrantes estudavam na escola.

O consulado do Brasil em Miami informou que nenhum estudante brasileiro está entre as vítimas. Mas muitos estavam no local no momento dos tiros.

Camilo, que está em seu primeiro ano no colégio, estudava numa sala no primeiro andar. Foi ali que Cruz começou a disparar contra alunos e professores. Depois, ele subiu ao segundo e ao terceiro piso, sempre atirando, de acordo com os relatos de alunos e pais ouvidos pela reportagem.

"Quando a gente saiu no corredor, era só sangue e corpo", afirmou Camilo.

O colégio estava preparado para enfrentar uma situação do tipo: em janeiro, depois de um ataque a tiros numa escola do Kentucky, professores e alunos fizeram um treinamento contra tiroteios. A orientação era simples: fechar a porta da sala; correr na direção oposta, para evitar a visão do atirador; e se abrigar embaixo de carteiras ou mesas.

Em um vídeo obtido pela Folha, é possível ouvir uma professora pedindo, repetidamente, em meio aos soluços de alunos: "Permaneçam calmos". "Nós fizemos o que deveríamos fazer. Estamos bem", dizia, já depois da saída do atirador da escola. Em outra sala, alunos viram colegas serem baleados, e havia marcas de tiros em notebooks e cadeiras.

Na sala de Camilo, sob orientação da professora, todos se abaixaram num canto da sala, e ficaram em silêncio.

"A polícia gritava, falava assim: Larga a arma, vem para cá, tentando chamar ele [o atirador]", contou a brasileira, cujo relato apareceu primeiro na Gazeta Brazilian News. "Tinha umas meninas que gritavam, pediam ajuda, e a gente não podia fazer nada."

Depois que o atirador deixou a escola e os tiros cessaram, muitos alunos continuaram em choque. A polícia precisou arrombar várias salas para resgatar os estudantes, que não queriam abrir as portas, com medo.

"Os policiais falaram: Sigam essa linha e não olhem para trás. Mas muita gente olhou. Eram só corpos", afirmou a brasileira Fabiana Santos, 41, cuja filha também estava na escola.

A estudante, Kemily Santos Duchini, 16, saiu só com a roupa do corpo e o celular, com o qual mandou mensagens de texto à mãe. "Ficou bolsa, carteira, chave do carro. Estamos em choque até agora", disse Santos.

A Marjory Stoneman Douglas suspendeu as aulas pelo resto da semana e já ofereceu o suporte de psicólogos aos alunos e famílias.

As identidades das vítimas deste que foi um dos dez ataques mais mortais da história americana ainda não haviam sido reveladas até a noite desta quarta-feira (14).

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