• Carregando...
china coronavirus
Policiais chineses patrulham uma área perto da Praça da Paz Celestial, em Pequim| Foto: NICOLAS ASFOURI/AFP

A China “ocultou intencionalmente a severidade” da pandemia do novo coronavírus no início de janeiro, segundo um relatório de inteligência de quatro páginas do Departamento de Segurança Interna obtido pela agência de notícias Associated Press neste domingo (3).

O documento, datado de 1º de maio, afirma que autoridades chinesas já sabiam sobre o potencial de contaminação da Covid-19, mas inicialmente esconderam o fato para estocar suprimentos médicos necessários para responder à epidemia. A China teria aumentado a importação e ao mesmo tempo freado a exportação desses itens. Segundo a inteligência americana, na época, o país negou que houvesse restrições à exportação, mas atrasou a publicação de seus dados comerciais.

O relatório americano ainda afirma que a China deixou de informar a Organização Mundial de Saúde (OMS) de que o coronavírus "era contagioso" durante boa parte do mês de janeiro para, assim, solicitar suprimentos médicos do exterior. Importações de máscaras, aventais cirúrgicos e luvas aumentaram acentuadamente, acima do normal.

Origem do vírus

A divulgação do relatório vem em um momento em que os Estados Unidos estão acirrando a disputa com a China. Neste domingo, o secretário de Estado, Mike Pompeo, alegou que há “enormes evidências” de que a pandemia do novo coronavírus começou em um laboratório em Wuhan, na China.

“Dissemos desde o início que este era um vírus originário de Wuhan, na China”, disse Pompeo em entrevista à emissora ABC News. “Mas acho que o mundo inteiro pode ver agora. Lembre-se, a China tem um histórico de infectar o mundo e possui um histórico de funcionamento de laboratórios abaixo do padrão. Não é a primeira vez que o mundo é exposto a vírus como resultado de falhas em um laboratório chinês”, continuou Pompeo.

O oficial norte-americano disse ainda que concorda com um relatório de inteligência do governo americano de que o vírus tem origem natural e não foi modificado pelo homem. O Departamento de Inteligência Nacional informou na quinta-feira passada (30) que está investigando se a pandemia de coronavírus começou após um acidente em um laboratório em Wuhan, cidade onde o surto começou.

“Toda a comunidade de inteligência tem consistentemente prestado suporte crítico aos formuladores de políticas dos EUA e aos que respondem ao vírus Covid-19, originário da China. A Comunidade de Inteligência também concorda com o amplo consenso científico de que o vírus não foi produzido pelo homem ou geneticamente modificado”, afirmou uma declaração do escritório do diretor interino de Inteligência Nacional, Richard Grenell, segundo a Fox News.

O que diz a China

Respondendo aos comentários de Mike Pompeo, o jornal estatal chinês Global Times afirmou em um editorial nesta segunda-feira (4) que o secretário de Estado "surpreendeu o mundo com acusações infundadas" e que estava blefando.

"Como Pompeo disse que suas reivindicações são apoiadas por 'enormes evidências', ele deve apresentar essas chamadas evidências ao mundo e, especialmente, ao público americano que ele continuamente tenta enganar", disse o editorial.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, ainda não se manifestou sobre os comentário de Pompeo, porém, na sexta-feira, disse que “o governo dos EUA ignorou os fatos, desviou a atenção do público e se envolveu em uma tentativa de se esquivar de sua responsabilidade pela incompetência na luta contra a epidemia".

Narrativa contestada

A China informou a OMS sobre o surto de uma nova doença em 31 de dezembro, mas os primeiros casos datam, pelo menos, do início de novembro, segundo pesquisadores chineses - embora o “paciente zero” não tenha sido identificado. Em 27 de dezembro um médico oftalmologista que tentou alertar para uma nova doença semelhante à Sars (Síndrome respiratória aguda grave) foi reprimido pela polícia e autoridades locais por espalhar boatos.

Segundo a narrativa chinesa, autoridades locais falharam em reportar os casos, enquanto a exigência do governo central era a total transparência quanto a eventos epidemiológicos. Alguns oficiais foram rebaixados por causa disso. Porém, se realmente não houve uma coordenação de Pequim para esconder o surto, é possível dizer que o próprio sistema de governo da China ocasionou esses erros iniciais, com burocracia excessiva e controles rígidos de informação que levaram as autoridades locais a hesitar em denunciar algo que seria negativo para o governo de Xi Jinping.

Contra a narrativa de Pequim também pesa o fato de que documentos do próprio governo revelaram que o presidente Xi Jinping esperou seis dias para alertar publicamente sobre o surto de coronavírus em Wuhan. A decisão veio quase uma semana depois que funcionários determinaram que a situação "provavelmente se tornaria um grande evento de saúde pública". Acredita-se que 3.000 chineses tenham sido infectados durante esse período de seis dias.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]