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Equipe de saúde coleta amostras para testar para o novo coronavírus em Wuhan, na China| Foto: Hector RETAMAL/AFP

Dentre as várias teorias sobre a origem do novo coronavírus que estão sob averiguação, o governo dos Estados Unidos está investigando a possibilidade de que o primeiro contato do vírus com um humano tenha ocorrido após um acidente em um laboratório em Wuhan, cidade chinesa onde a epidemia de Covid-19 teve início. A informação foi revelada pela Fox News, confirmada por outros veículos da imprensa americana e posteriormente pelo presidente Donald Trump.

Até o momento, a versão mais aceita pela comunidade científica é de que o novo coronavírus tenha infectado um humano pela primeira vez após o contato de uma pessoa com um animal silvestre que carregava o vírus, o qual provavelmente foi vendido em um mercado de frutos do mar em Wuahn.

A inteligência americana não acredita que o vírus esteja associado ao desenvolvimento de uma arma biológica pela China, mas que pode ter entrado em contato com um humano após um acidente com um vírus de origem natural que estava sendo pesquisado por cientistas chineses em um laboratório em Wuhan.

"Eu diria que, neste momento, é inconclusivo, embora o peso das evidências pareça indicar (origem) natural. Mas não sabemos ao certo", disse o chefe do Estado-Maior Conjunto, Mark Milley, nesta terça-feira.

Autoridades disseram à CNN que também estão investigando uma série de outras teorias sobre o surgimento do novo coronavírus, batizado de Sars-CoV-2, como é de praxe em grandes incidentes como este.

O presidente Donald Trump afirmou nesta quarta-feira (15), quando perguntado sobre um possível acidente biológico, que o governo americano está “fazendo um exame minucioso dessa situação horrível que aconteceu".

Telegramas vazados

O colunista Josh Rogin, do jornal Washington Post, revelou nesta semana que teve acesso a telegramas diplomáticos entre a Casa Branca e funcionários americanos que visitaram o Instituto de Virologia de Wuhan, laboratório onde pode ter ocorrido o acidente, datados de janeiro de 2018.

Esses telegramas, segundo o jornalista, alertavam sobre as fraquezas de segurança e gerenciamento no laboratório e também que o trabalho que os pesquisadores chineses estavam conduzindo com coronavírus encontrados em morcegos criava um risco de pandemia.

Em 2015, este laboratório de Wuhan se tornou o primeiro da China com o mais alto nível de segurança internacional, conhecido pelos pesquisadores como BSL-4.

Quando perguntado sobre esses telegramas nesta quarta-feira, o Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, não os descartou, mas também não disse que eles mostram qualquer ligação legítima com a pandemia de Covid-19. Ele pediu que o governo chinês esclareça como o vírus se espalhou em Wuhan.

China nega

Após a repercussão da teoria nos Estados Unidos, o Ministério das Relações Exteriores da China disse nesta quinta-feira (16) que a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que não há evidências de que o Sars-CoV-2 tenha origem em um laboratório.

Zhao Lijian, porta-voz do ministério, disse que a OMS repetiu várias vezes "que não há evidências de que o novo coronavírus foi criado em laboratório". Ele não comentou diretamente a declaração do presidente Donald Trump sobre a investigação americana, segundo a Reuters.

Especulações sobre a origem

Cientistas divergem amplamente sobre a origem do vírus. No início de abril, Richard Ebright, professor de biologia química e especialista em armas biológicas na Universidade Rutgers, disse à CNN que a possibilidade de o novo coronavírus ter contaminado humanos a partir de um acidente em laboratório não deve ser descartada, mas que não existem provas diretas que possam apoiar esta teoria.

Ebright foi um dos autores de um artigo não revisado sobre a teoria de que a origem do vírus poderia estar relacionada a um laboratório. Ele e o pesquisador Botao Xiao, da Universidade de Tecnologia do Sul da China, justificavam a teoria baseando-se nas proximidade de uma unidade no Centro de Controle de Doenças da China (CDC) e o Instituto de Virologia de Wuhan do mercado de Wuhan. O laboratório do instituto fica a 14 quilômetros do mercado e o CDC, a 600 metros.

Mas Botao posteriormente se retratou diante da falta de evidências. Ele disse ao The Wall Street Journal em 5 de março que retirou o artigo porque "a especulação sobre as possíveis origens se baseava em artigos publicados e na imprensa, e não era apoiada por provas diretas".

Uma reportagem do New York Times revelou que um funcionário do governo Trump, em janeiro, já havia perguntado a agências de inteligência americanas se havia evidências de que o vírus teria origem em um laboratório. Segundo a reportagem, as "agências de inteligência não detectaram nenhum alarme dentro do governo chinês que, segundo os analistas, acompanharia o vazamento acidental de um vírus mortal de um laboratório do governo".

A maioria dos cientistas concorda que o vírus se originou em morcegos e não tem indícios de manipulação humana em laboratório. Um estudo descobriu que o Sars-CoV-2 compartilha 96% de seu código genético com outros coronavírus que circulam em morcegos chineses. Especialistas sugeriram que um animal intermediário pode ter transmitido o vírus a pessoas em um mercado na cidade de Wuhan que vende animais silvestres, mas nem isso é consenso.

Por outro lado, há um grupo cada vez maior de cientistas que descarta a conexão com o mercado de Wuhan. Um estudo revisado e publicado na revista Lancet indica que alguns dos primeiros pacientes com coronavírus não foram expostos diretamente ao mercado. Outras teorias também são consideradas, como a de que o vírus tenha contaminado um humano pela primeira vez em uma fazenda, já que na China muitos agricultores usam fezes de morcego para adubação.

Falta de transparência na China

A China está aparentemente impondo restrições à publicação de artigos científicos sobre a origem do novo coronavírus.

Dois sites das principais universidades chinesas publicaram na semana passada novas orientações, posteriormente deletadas, exigindo que os trabalhos relacionados à Covid-19 sejam submetidos a verificações adicionais pelo comitê acadêmico da universidade antes de serem publicados. Artigos específicos sobre a origem do vírus deveriam passar por aprovação do Ministério de Ciência e Tecnologia.

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