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Comboio de veículos blindados das forças dos EUA dirige perto da aldeia de Yalanli, na periferia oeste da cidade de Manbij, no norte da Síria, em 2017 | DELIL SOULEIMAN/AFP
Comboio de veículos blindados das forças dos EUA dirige perto da aldeia de Yalanli, na periferia oeste da cidade de Manbij, no norte da Síria, em 2017| Foto: DELIL SOULEIMAN/AFP

O governo do presidente dos EUA, Donald Trump, pretende retirar todas as tropas americanas da Síria, segundo informou uma autoridade da defesa do país na quarta-feira. A decisão é a mais recente reviravolta na tentativa fracassada dos líderes americanos de criar uma solução para o longo conflito civil na Síria, que atraiu aliados e adversários dos EUA, incluindo Turquia, Rússia e Irã. 

Trump há muito prometeu concluir a campanha contra o Estado Islâmico, também conhecido como EI ou ISIS (na sigla em inglês), e questionou o valor de missões militares dispendiosas e perigosas no exterior. Mas as tropas dos EUA, trabalhando ao lado de forças sírias, lutam para erradicar bolsões de militantes no centro da Síria. Uma retirada americana abrupta levantaria questões sobre se os militantes seriam capazes de recuperar forças. 

Depois que a notícia veio à tona, Trump, em uma mensagem no Twitter, disse que os Estados Unidos "derrotaram o Estado Islâmico na Síria, minha única razão para estar lá durante a Presidência Trump". 

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O EI já perdeu cerca de 90% das áreas que ocupava na Síria e no Iraque. Um relatório de uma autoridade do Departamento da Defesa calcula que haveria cerca de 30 mil membros do grupo na Síria e no Iraque.

Oficiais de defesa, falando sob condição de anonimato para discutir uma decisão que ainda não foi anunciada, disseram que a retirada deve ocorrer o mais rápido possível e afetaria toda a força de mais de 2.000 membros do serviço dos EUA. As forças americanas estão localizadas principalmente no norte e no nordeste da Síria, mas também têm uma presença menor no sudeste, ao longo da fronteira com a Jordânia. 

O secretário de Defesa, Jim Mattis, e outras autoridades de segurança vinham tentando dissuadir Trump de uma retirada completa. Eles consideram que significaria uma mudança em política de segurança nacional que poderia levar a uma maior influência da Rússia e do Irã na Síria.

“Uma mudança na política dos EUA que removeria as tropas americanas do nordeste da Síria colocaria em risco os ganhos que as tropas dos EUA e suas Forças Democráticas Sírias parceiras, ou SDF, lutaram – e sacrificaram – para conseguir”, escreveu Gayle Tzemach Lemmon, membro do Conselho sobre Relações Internacionais, em texto publicado no site Defense One

A saída também prejudicaria esforços futuros dos EUA de ganhar confiança de combatentes locais no Afeganistão, Iêmen e Somália, por exemplo.

A retirada das tropas da Síria, porém, era promessa de campanha de Trump. Em abril, o presidente relutou, mas concordou em dar ao Departamento de Defesa mais tempo para concluir a missão no país.

Tanto a administração Trump quanto a de Obama resistiram em se envolver demais na guerra civil da Síria, mas muitos altos funcionários – incluindo o Departamento de Estado e o Pentágono – apoiaram a presença de tropas na Síria até que as condições de segurança melhorem e uma solução política possa ser alcançada. Segundo eles, uma movimentação do tipo representaria uma traição aos aliados curdos que lutaram ao lado dos EUA na Síria.

Turquia x EUA

A inesperada mudança da Casa Branca acontece em um momento em que as tensões entre EUA e Turquia, aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aumentaram drasticamente. 

O presidente turco Recep Tayyip Erdoğan disse, na semana passada, que “é claro que o propósito dos pontos de observação dos EUA na Síria não é proteger nosso país dos terroristas, mas proteger os terroristas da Turquia”. Ele se referia aos postos avançados dos EUA ao longo da fronteira entre Síria e Turquia, os quais a Casa Branca afirmou serem um fator de segurança para prevenção de ataques terroristas em território turco. 

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Pesa também o apoio entre curdos e americanos na Síria. A Turquia considera as forças curdas um grupo terrorista, por causa de sua conexão com o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Os sírios curdos, que controlam cerca de 30% da Síria, querem criar uma região autônoma no nordeste da Síria, semelhante a uma que existe no Iraque.

Na semana passada, Erdogan prometeu lançar uma ofensiva militar contra os curdos e alertou os Estados Unidos. Segundo o Soufan Center, a Turquia vê uma presença curda considerável ao longo de sua fronteira sul como uma ameaça muito maior do que qualquer proposta pelo Estado Islâmico.

“Ignorar as preocupações da Turquia não é uma opção. Mas este é um momento para focar a energia diplomática dos EUA para acalmar as preocupações da Turquia sem remover as tropas dos EUA”, observou Lemmon.

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