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Tropas americanas na Síria
Veículo blindado dos EUA durante uma manifestação contra ameaças turcas, na província de Hasakeh, na Síria| Foto: Delil SOULEIMAN/AFP

Os Estados Unidos começaram a retirar tropas americanas da fronteira da Síria com a Turquia nesta segunda-feira (7), após uma declaração da Casa Branca de que os Estados Unidos não interviriam em uma ofensiva turca no norte da Síria.

O anúncio sinaliza o fim abrupto de um esforço americano de meses para intermediar a paz entre dois importantes aliados - os curdos e a Turquia. Ele ocorreu após uma ligação entre o presidente Donald Trump e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

Erdogan disse em um discurso na segunda-feira que a retirada de tropas americanas começou logo após o telefonema. Uma autoridade americana confirmou ao Washington Post que as tropas deixaram postos de observação nas aldeias fronteiriças de Tel Abyad e Ras al-Ayn às 6h30, horário local.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Stephanie Grisham, disse que o líder turco "em breve estará avançando" com o envio de tropas para combater as forças curdas que Ankara vê como terroristas, mas que foram os principais parceiros dos EUA contra o Estado Islâmico.

"As forças armadas dos Estados Unidos não apoiarão ou se envolverão na operação, e as forças dos Estados Unidos, tendo derrotado o 'califado' territorial do Estado Islâmico, não estarão mais na área imediata", afirmou Grisham em comunicado.

Atualmente existem cerca de 1.000 soldados dos EUA no nordeste da Síria.

Reação de Trump

Em um uma série de tuítes nesta segunda-feira (7), o presidente Donald Trump sugeriu que os Estados Unidos estavam carregando muito do fardo - e do custo - de combater o Estado Islâmico na Síria.

Ele repreendeu as nações europeias por não repatriarem os cidadãos que haviam se juntado ao grupo extremista e que agora estão presos, alegando que os Estados Unidos estavam sendo feitos de "otários".

Também criticou seus próprios aliados curdos, que, segundo ele, receberam "enormes quantias de dinheiro e equipamentos" para combater os militantes.

"É hora de sairmos dessas ridículas guerras sem fim, muitas delas tribais, e levar nossos soldados para casa. Lutaremos onde é para o nosso benefício, e somente lutaremos para vencer", tuitou.

O presidente republicano também disse que destruirá a economia da Turquia se o país de Recep Tayyp Erdogan fizer algo que ele "considere estar fora dos limites", referindo-se se à planejada ofensiva militar da Turquia contra os curdos no norte da Síria. "Se a Turquia fizer algo que eu, em minha grande e inigualável sabedoria, considere estar fora dos limites, destruirei e obliterarei totalmente a economia da Turquia (já fiz isso antes!)".

Resposta dos curdos

As Forças Democráticas da Síria (FDS), um grande grupo curdo que lutou ao lado das forças armadas dos EUA, disseram que as tropas americanas já começaram a se retirar e as criticaram por não cumprirem suas obrigações.

"As forças dos Estados Unidos não cumpriram suas obrigações e retiraram suas forças da área de fronteira com a Turquia", afirmou o comunicado. "Esta operação militar turca no norte e leste da Síria terá um grande impacto negativo em nossa guerra contra o Daesh [Estado Islâmico] e destruirá toda a estabilidade alcançada nos últimos anos". As FDS acrescentaram ainda que reservam o direito de se defender das agressões turcas.

O SDF também previu que os combatentes do Estado Islâmico iriam sair dos campos de prisioneiros que administra em diferentes áreas da Síria.

O plano da Turquia

Tropas turcas no norte da Síria
Garoto sírio observa veículos militares turcos participarem de uma patrulha conjunta com os EUA na vila síria de al-Hashisha, ao longo da fronteira com a Turquia | Foto: Delil Souleiman/AFP| AFP

Erdogan, que afirma que uma incursão turca é necessária para proteger as fronteiras de seu país, tem falado, nas últimas semanas, de um plano para reinstalar milhões de refugiados sírios na Turquia em uma "zona segura" no norte da Síria, um plano que também foi criticado por defensores de refugiados e por curdos sírios locais.

No sábado (5), Erdogan disse que a invasão poderia começar "hoje ou talvez amanhã". A operação - que ele chamou de "fontes de paz" - seria realizada por via aérea e terrestre.

Ibrahim Kalin, porta-voz de Erdogan, escreveu no Twitter que a zona de fronteira proposta pela Turquia manteria a Turquia segura, permitindo que os sírios deslocados retornassem. "A Turquia é forte e determinada", disse ele.

Contexto

A retirada das tropas americanas e ofensiva turca ameaçam uma nova conflagração militar em uma grande faixa do norte da Síria, que se estende do leste do rio Eufrates até a fronteira com o Iraque. Os curdos sírios estabeleceram uma zona autônoma na área durante os mais de oito anos da guerra civil da Síria.

Ankara, no entanto, é cada vez mais avessa à presença curda e aos laços estreitos entre combatentes curdos sírios, aliados dos EUA, e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo militante que lutou contra o estado turco. Ankara vê as FDS como uma entidade ligada ao terrorismo.

Durante meses Erdogan ameaçou invadir a zona curda, enquanto funcionários do governo Trump tentavam encontrar uma alternativa que antedesse às demandas turcas de segurança nas fronteiras e ao mesmo tempo proporcionasse proteção para os curdos.

Mas no domingo, os Estados Unidos pareciam ter desistido de tentar encontrar esse equilíbrio. A secretária de imprensa da Casa Branca, Stephanie Grisham, anunciou a retirada das tropas americanas da Síria e disse que o líder turco "em breve estará avançando" com o envio de tropas para combater as forças curdas.

O impacto da decisão dos EUA

As autoridades americanas descreveram os desenvolvimentos como uma dramática reviravolta após sua tentativa prolongada de estabelecer um acordo que atenuasse as preocupações dos turcos sobre as forças curdas sírias perto de sua fronteira, enquanto também evitava uma batalha que pode ser sangrenta para os combatentes curdos, a quem o Pentágono vê como aliados fiéis.

Oficiais militares apontam que a assistência curda ainda é necessária para evitar o retorno do Estado Islâmico na Síria e para proteger instalações onde militantes do Estado Islâmico e suas famílias estão detidos.

Uma autoridade sênior dos EUA, que falou sob condição de anonimato, disse que o governo americano "não tem ideia" de como seria a operação turca, se seria uma pequena incursão simbólica ou uma grande ofensiva destinada a adentrar 30 ou 40 quilômetros na Síria.

Autoridades dos EUA disseram que uma operação na Síria poderia comprometer ainda mais a segurança das prisões do Estado Islâmico. "Existem muitos resultados desastrosos em potencial", disse o funcionário.

Após meses de aviso sobre a turbulência que tal medida poderia ter, autoridades dos EUA disseram que agora estão assistindo às ações da Turquia para tomar suas próprias decisões sobre a rapidez com que devem mover as centenas de tropas que devem ser afetadas.

"Vamos sair do caminho", disse outra autoridade dos EUA.

A Casa Branca disse ainda que "a Turquia agora será responsável por todos os combatentes do EI" que estão presos nessa área. "Os Estados Unidos não os manterão por um período de muitos anos e a um grande custo para o contribuinte dos Estados Unidos", disse Grisham.

A ofensiva planejada ocorre em meio às já intensas tensões dos EUA com seu aliado da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a Turquia, sobre os planos de Ancara de operar um sofisticado sistema de defesa aérea russo.

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