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Ex-presidente do Peru Alan García | Foto: Cris BOURONCLE / AFP
Ex-presidente do Peru Alan García | Foto: Cris BOURONCLE / AFP| Foto: AFP

O ex-presidente do Peru Alan García se suicidou na manhã desta quarta-feira (17) com um tiro na cabeça quando policiais chegaram em sua residência, no bairro de Miraflores, em Lima, para prendê-lo por conexões com uma investigação sobre suborno no caso Odebrecht.

Os dirigentes da Aliança Popular Revolucionária Americana Omar Quezada e Nidia Vílchez confirmaram a morte.

García, de 69 anos, foi levado ao Hospital de Emergências Casimiro Ulloa às 6h45 (8h45 no horário de Brasília) com diagnóstico de "impacto de projétil de arma de fogo, com orifício de entrada e saída do crânio", informou o Ministério da Saúde. Ele passou por uma cirurgia, mas não resistiu ao ferimento.

De acordo com o hospital, o ex-presidente morreu às 10h05 em decorrência de hemorragia cerebral e parada cardiorrespiratória.

"Esta manhã aconteceu este acidente lamentável: o presidente tomou a decisão de atirar", disse o advogado de García, Erasmo Reyna na entrada do hospital.

Segundo o jornal peruano El Comércio, agentes da Divisão de Investigação de Crimes de Alta Complexidade iriam detê-lo na manhã desta quarta-feira. A prisão preliminar por 10 dias foi autorizada pela Justiça a pedido do promotor da equipe especial da Lava Jato no Peru, José Domingo Pérez, que está investigando García por supostos crimes de lavagem de dinheiro, tráfico de influência e conluio no caso da Odebrecht.

A polícia chegou à casa de García às 6h25. O ex-presidente, então, teria subido até seu quarto, dizendo que iria telefonar para seus advogados. Em seguida, os guardas ouviram o disparo, encontraram-no ferido e o levaram para o hospital.

É o primeiro caso de suicídio envolvendo um político acusado no escândalo Lava Jato. A prisão preliminar seria um passo anterior a uma prisão preventiva, o que significa que a Justiça considera que o suspeito pode obstruir a investigação e ainda está recolhendo provas.

Repercussão

O presidente do Peru, Martín Vizcarra, disse pelo Twitter que estava consternado pelo falecimento de García. "Envio minhas condolências à sua família e entes queridos", escreveu.

Presidente da Bolívia, Evo Morales, também lastimou a morte de García.

"Comovido pela morte do ex-presidente do Peru, Alan García. Nós nos juntamos à dor da família e enviamos nossas sinceras condolências. Paz em seu túmulo", tuitou.

O ex-presidente do Equador Rafael Correa, que é acusado de supostamente participar do sequestro de um opositor em 2012, disse que, se Alan García foi injustamente perseguido, seu suicídio é na verdade um assassinato.

"Chega de tanto abuso! Que seu sacrifício sirva para entender que a luta política tem limites. Que você não pode jogar com a honra e liberdade do povo".

Acusações

Alan García foi presidente do Peru duas vezes, de 1985 a 1990 e de 2006 a 2011. Era investigado por dois casos relacionados à Odebrecht. O primeiro está ligado aos aportes de campanha ilegais realizados pela Odebrecht nas eleições presidenciais de 2006, que García venceu. Para isso, a empreiteira brasileira teria pago US$ 200 mil.

O segundo envolve a licitação das obras da linha 1 do metrô de Lima. Em 19 de fevereiro de 2009, García convocou uma reunião ministerial de emergência, no mesmo dia em que havia se encontrado com um operador da Odebrecht, Jorge Barata. Alguns meses depois, García emitiu um decreto concedendo a licitação da obra da linha 1 do metrô de Lima a um consórcio do qual a Odebrecht fazia parte.

A Procuradoria peruana ainda investiga se o pagamento de US$ 100 mil que a Odebrecht fez a García por uma conferência na Fiesp (Federação de Indústrias de São Paulo), em São Paulo, em 2012, está relacionado a pagamentos ilícitos em troca de benefícios à empreiteira brasileira.

García negava as acusações. No começo deste mês, disse, em entrevista ao jornal El Comercio, que não havia elementos para sua prisão. "É tudo especulação. Com especulações não se priva uma pessoa da liberdade. É uma grande injustiça."

Em novembro do ano passado, ele solicitou asilo à embaixada do Uruguai em Lima, mas teve o pedido negado pelo presidente uruguaio Tabaré Vázquez.

Odebrecht no Peru

A construtora brasileira reconheceu que pagou mais de US$ 29 milhões em propinas a funcionários públicos, empresários e políticos peruanos e em contribuições para campanhas eleitorais.

Além de García, outros três ex-presidentes do Peru estão sendo investigados no caso Odebrecht: Alejandro Toledo (foragido nos EUA); Pedro Pablo Kuczynski (preso temporariamente em 10 de abril); e Ollanta Humala (ficou preso por nove meses e agora responde o processo em liberdade).

Mortes ligadas ao caso Odebrecht

Além de García, há a suspeita de que um outro suicídio relacionado ao caso Odebrecht tenha ocorrido em Porto Alegre no final de março.

Apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como suspeito de atuar como doleiro da empreiteira brasileira em pagamentos de propinas, Antônio Claudio Albernaz Cordeiro foi encontrado morto dentro de sua casa na capital gaúcha no último dia (24).

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul trata o caso como suicídio, mas ainda não há confirmação oficial do que aconteceu. Ele chegou a ser preso duas vezes durante as investigações da Lava Jato, em 2016 e em 2018.

​Na Colômbia, houve três mortes relacionadas ao caso Odebrecht, todas por ingestão de cianureto, no fim de 2018.

Um dos mortos foi Jorge Henrique Pizano, testemunha no processo e um dos auditores da obra da estrada Rota do Sol, que teria sido usada para desviar dinheiro. Pouco depois, seu filho Alejandro morreu.

Semanas depois, outra testemunha chave do caso, Jorge Merchán, que foi secretário de transparência durante o governo de Juan Manuel Santos e deporia sobre o caso, também morreu após ingestão de cianureto.

Em janeiro de 2018, José Roberto Soares Vieira, testemunha da Lava Jato no Brasil, foi morto com nove tiros na Bahia. Ele era dono de uma empresa de transportes.

Com informações das agências Folhapress e Estadão Conteúdo.

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