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Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan
Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan| Foto: Divulgação / Nissan

Ex-presidente da Renault-Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn fugiu de sua casa, em Tóquio, onde estava em prisão domiciliar, após a companhia de segurança privada contratada pela montadora suspender o monitoramento via câmeras. A informação foi dada por três fontes à agência de notícias Reuters no sábado (4). Ghosn diz que se pronunciará publicamente sobre a fuga na próxima quarta-feira (8).

A Nissan havia contratado uma companhia para observar o executivo - que estava em prisão domiciliar aguardando julgamento sob acusação de má conduta financeira - para saber se ele não se encontraria com ninguém envolvido no caso. Mas os advogados advertiram que, caso a companhia não suspendesse o monitoramento, Ghosn apresentaria uma denúncia contra a montadora por violação a direitos humanos.

A companhia, então, suspendeu a vigilância no dia 29 de dezembro. A Nissan não quis comentar o assunto.

A última imagem gravada de Ghosn é exatamente desse dia de dezembro. Ele pode ser visto de relance, deixando a residência pela porta da frente por volta do meio-dia, mas não é possível vê-lo retornando, disseram fontes. A polícia japonesa acredita que ele possa ter deixado a casa nesse momento para se encontrar com cúmplices que o ajudaram.

Naquela noite, um jato privado que deixou o aeroporto de Kansai, em Osaka, às 23h10 chegou à Turquia 12 horas depois. Acredita-se que Ghosn possa ter usado dois jatos durante a fuga.

Na última sexta-feira (3), a empresa de aluguel de aviões MNG Jet disse que um de seus funcionários falsificou registros para remover o nome de Ghosn da documentação dos dois voos - um entre Osaka e Istambul, na Turquia, e outro entre Istambul e Beirute.

Além do grupo de sete pessoas que foram detidas na quinta (2) - formado por quatro pilotos, dois trabalhadores de solo de um aeroporto e um funcionário de transporte de carga -, a polícia turca desconfia que dois estrangeiros estejam envolvidos na fuga, mas o Ministério da Justiça do país não deu mais informações sobre as nacionalidades nem sobre o papel que eles possam ter desempenhado.

O governo libanês recebeu um alerta de prisão da Interpol e disse que vai cumprir suas obrigações. Mas isso não deve significar a prisão de Ghosn, e sim um convite para prestar depoimento. O Líbano também já adiantou que não vai deportar o executivo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Oficiais japoneses dizem que Ghosn teria recebido julgamento justo

Autoridades japonesas, nos primeiros comentários públicos sobre a fuga de Carlos Ghosn, disseram que ele teria recebido um julgamento justo e que fugiu do Japão porque não queria pagar o preço por seus delitos.

"O réu Ghosn quebrou sua própria promessa de que definitivamente compareceria perante o tribunal e fugiu do país. O que isso mostra é simples: ele não queria se submeter ao julgamento dos tribunais de nossa nação e procurou evitar a punição por seus próprios crimes ", disse o vice-procurador de Tóquio Takahiro Saito. "Não há espaço para justificar tal ação."

Até este domingo (5) nenhum funcionário do governo japonês responsável pelo caso Ghosn havia comentado o assunto, deixando o campo aberto para o ex-presidente da Nissan Motor Co. e seus defensores atacarem o sistema judiciário.

Ghosn disse que em 31 de dezembro foi "mantido refém por um sistema judicial japonês fraudulento, onde se presume culpa, a discriminação é desenfreada e direitos humanos básicos são negados". Um de seus advogados de defesa, Takashi Takano, disse no sábado (4) que os réus no Japão não recebem um julgamento justo, em parte porque os suspeitos podem ser mantidos por semanas ou meses atrás das grades para interrogatórios sem a presença de um advogado.

Ghosn foi preso no Japão em novembro de 2018, acusado de ocultar parte de seu patrimônio. Ele ficou meses na prisão até conseguir em um acordo de US$ 14 milhões (cerca de R$ 56 milhões), migrar para a prisão domiciliar. Apesar de as acusações da promotoria japonesa terem sido feitas 13 meses atrás, ainda não havia perspectiva de um julgamento em Tóquio.

Advogado de Ghosn se diz traído

Takashi Nakano, principal advogado de Ghosn, escreveu post em blog dizendo que a princípio ficou com raiva e se sentiu traído da fuga do seu cliente, mas que entendeu a preocupação de Ghosn em não ter um julgamento justo no Japão.

"Eu fui traído, mas aquele que me traiu não foi Carlos Ghosn", disse o advogado, completando que a raiva com seu cliente acabou se tornando outra coisa. Takano comentou que Ghosn foi proibido de ver sua esposa e que o ex-executivo tinha preocupações se seria julgado com justiça por conta dos vazamentos dos promotores do caso para a imprensa local.

O advogado falou que nunca se sentiu tão traído pelo sistema judiciário japonês na forma como foi conduzido o caso de Ghosn, citando as várias restrições impostas ao ex-executivo da montadora japonesa na sua prisão domiciliar.

Takano escreveu que a grande maioria das pessoas não conseguiria realizar uma fuga como a de Ghosn, mas que se pudessem "eles certamente tentariam".

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