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Mais de 30 mil soldados paquistanês lançaram uma ofensiva terrestre contra o Al-Qaeda e os principais baluartes do Taleban na fronteira com o Afeganistão neste sábado (17), segundo autoridades, executando o teste mais duro até agora contra o fortalecimento das correntes insurgentes. Os Estados Unidos vinham há tempos incitando o governo paquistanês a conduzir uma operação no Waziristão do Sul e a ação ocorre após ataques executados pelos insurgentes nas duas últimas semanas matarem mais de 175 pessoas no país que tem armas nucleares. Esses episódios ampliaram as pressões para que houvesse uma atuação do Exército.

Desde 2001, o Paquistão conduziu três campanhas mal sucedidas na região, que é o centro nevrálgico da luta dos insurgentes paquistaneses contra o governo local apoiado pelos norte-americanos. A região também é uma base importante para militantes estrangeiros articularem ataques contra forças norte-americanas e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Afeganistão e em outros alvos do Ocidente.

Após meses de bombardeio aéreo, as tropas entraram na região vindos por diversos caminhos neste sábado, dirigindo-se para as bases insurgentes de Ladha e Makeen, entre outros alvos, afirmaram autoridades da inteligência e militares que pediram para não ser identificados em razão da sensibilidade do tópico ou por não terem autorização para conversarem com a imprensa. A expectativa é que operação se prolongue por dois meses.

O porta-voz do Exército do Paquistão, general Athar Abbas, confirmou na tarde deste sábado (horário local) que uma operação terrestre plena estava em andamento e afirmou que o intuito era desmantelar o Taleban no Paquistão. Segundo o oficial, ainda é cedo para discutir que tipo de resistência o Exército encontraria. A Organização das Nações Unidas (ONU) disse que está se preparando para ajudar os civis que fugirem da região. Cerca de 150 mil civis já partiram recentemente, depois de o Exército deixar claro que planejava a ofensiva, mas há cerca de outros 350 mil restantes.

Pelo menos 11 supostos insurgentes foram mortos por bombas lançadas de jatos, enquanto uma bomba atingiu um comboio de segurança, o que matou um soldado e feriu três outros. Um comunicado das tropas militares informou que quatro soldados fora mortos e 12 ficaram feridos nas trocas de tiros na região.

É quase impossível verificar as informações de maneira independente na região, que é amplamente controlada por tribos locais e tem pouca infraestrutura e presença do governo. Estrangeiros pedem permissão para entrar em áreas tribais e poucos jornalistas paquistaneses se arriscam a viajar por lá.

Os militares já disseram que acabaram com rotas de fuga e canais de abastecimento, e estão tentando garantir a segurança da população tribal da região.

Ajmal Khan, um residente de Makeen, afirmou que as pessoas estavam aterrorizadas e que não podiam deixar suas casas por causa de um toque de recolher. "Ouvimos sons de aviões e helicópteros no início desta manhã. Depois, escutamos explosões", disse Khan por telefone. "Também escutamos troca de tiros e parece que o Exército está em confronto com o Taleban", disse.

O Exército deslocou mais de 30 mil soldados para a região, afirmou um militar, que comentou ainda que foram interditados vários caminhos que permitiam o envio de suprimentos ou eram usados como rotas de fuga. Além disso, estão sendo dado suporte a membros de tribos locais para a batalha com os insurgentes.

No começo da semana, o aeroporto da principal cidade próxima, Dera Ismail Khan, foi fechado para voos civis.

Pesquisas recentes mostram grande apoio à ação militar contra os militantes, o que representa uma mudança em relação a alguns anos. Há também apoio político. Mas um conflito sangrento e prolongado pode modificar o cenário.

O porta-voz do Exército chegou a dizer no começo da semana que a ofensiva seria limitada a atacar o território do líder do Taleban no Paquistão, Baitullah Mehsud, uma extensão territorial de cerca de 3.310 quilômetros quadrados. Esta área cobre cerca da metade do Waziristão do Sul. O plano é tomar conta da área, onde se estima que 10 mil insurgentes se juntaram a mais 1.500 militantes estrangeiros, maior parte vinda da Ásia Central.

Desde 2001, as tentativas de desmantelar o Taleban na região terminaram em tréguas que deixaram o Taleban em controle. Desta vez os militares disseram que não haverá acordos, visto que isso poderia retroceder as conquistas alicerçadas desde o início do ano, quando soldados paquistaneses conseguiram sufocar o poder do Taleban no Vale de Swat, outra região ao Noroeste do país.

O porta-voz do Taleban não pôde ser encontrado. As comunicações na região foram interrompidas, tornando difícil o contato com residentes ou testemunhas.

A despeito de às vezes manter relações tensas com os militares paquistaneses, os Estados Unidos estão tentando enviar equipamentos para contribuir com a mobilidade, as lutas noturnas e bombardeios mais precisos da ofensiva, informou uma fonte diplomática norte-americana que pediu para não ter seu nome revelado.

Além de instrumentos para visualização noturna, as forças militares paquistanesas afirmaram que pleiteiam ainda helicópteros Cobra equipados para disparar mísseis, aparelhos para transporte aéreo, munição guiada por lazer e monitores de comunicação celular e satélite.

Mesmo que a operação seja bem sucedida no Waziristão do Sul, muitos dos militantes podem escapar para o Afeganistão ou outras áreas tribais do Paquistão. Especialistas esperam que o episódio seja o início de uma maré contra os militantes.

O Exército considera o inverno, que chega em breve, para determinar o momento da ofensiva. A neve deve bloquear as principais rodovias. Mas também deve servir para os militares, retirando os insurgentes das cavernas, que não são aquecidas.

Embora os militares venham atingindo alvos no Waziristão do Sul nos últimos três meses, eles esperaram até duas semanas atrás para dizer que iriam em frente definitivamente com uma ofensiva terrestre.

O que se seguiu foi uma série de bombardeios que mataram 175 pessoas e demonstraram as habilidades dos militantes em atacar cidades. Um dos ataques envolveu o cerco do quartel-general do Exército, durando 22 horas e deixando 23 pessoas mortas. Nos últimos bombardeios, três ataques suicidas, incluindo um vindo de uma mulher, atingiu uma base da polícia em Peshawar, matando 13 pessoas.

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