A expulsão de cerca de mil ciganos romenos e búlgaros da França soou como "déjà vu" para o curitibano Claudio Domingos Iovanovitchi. Desde criança, ele ouve a história do avô, que, expulso da Iugoslávia, desembarcou em Santos nos idos de 1914 e deixou de ser cigano nômade para trabalhar como construtor em Curitiba. Na capital paranaense continuou recebendo os patrícios, que montavam suas tendas no bairro Água Verde. "A polícia os expulsava com frequência", relembra.
Seja onde for, a história dos ciganos é marcada por deslocamentos. Daqueles que se estabeleceram na Romênia e na Bulgária, países que aderiram à União Europeia em 2007, muitos aproveitaram a permissão de mobilidade para buscar uma vida melhor na França.
Movido por uma política agressiva de contenção da imigração, o governo Sarkozy chocou o mundo no último verão europeu incluindo os demais sócios na União Europeia ao estabelecer uma política que explicitou o quanto algumas etnias são indesejadas. Aos ciganos romenos e búlgaros foram oferecidos US$ 416 para cada um que aceitasse sair do país, mais US$ 138 por criança, e muitos acampamentos foram desmantelados. Os entusiastas da integração e mobilidade absolutas dos povos europeus gritaram alto.
Iovanovitchi, que é presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana em Curitiba, ficou indignado pelo desprezo com que foram tratados aqueles com quem se identifica. Por aqui, ele também choca com a falta de políticas públicas para sua etnia. "Dizem que os grupos ciganos ultrapassam os limites do estado, indo além do Rio Paranapanema, e que por isso não devem receber apoio porque logo irão embora", diz. "É descaso."
Ele também reclama do preconceito, expresso na perpetuação da imagem do cigano como ladrão e trapaceiro.
Cita trecho do clássico nacional Memórias de um Sargento de Milícias, que fala na "praga dos ciganos"...
"É um absurdo os estudantes lerem isso para o vestibular."
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