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Hospital Universitário Geral Calixto García, em Havana, Cuba, 20 de agosto. Cuba enfrenta pior momento da pandemia, com falta de oxigênio, médicos e colapso nos serviços funerários
Hospital Universitário Geral Calixto García, em Havana, Cuba, 20 de agosto. Cuba enfrenta pior momento da pandemia, com falta de oxigênio, médicos e colapso nos serviços funerários| Foto: EFE/ Ernesto Mastrascusa

Cuba vive um de seus piores estágios da pandemia de Covid-19, com médias de 8 mil casos e 70 mortes por dia, falta de cilindros de oxigênio, medicamentos e médicos, hospitais superlotados e serviços funerários em colapso.

O país caribenho, de 11,2 milhões de habitantes, tem a maior taxa de incidência da doença nas Américas, com 1.173 pessoas infectadas por 100 mil habitantes nos últimos 15 dias, segundo o Ministério da Saúde Pública (Minsap) da ditadura.

Os piores dados de incidência são registrados em três províncias das regiões oeste e central: Cienfuegos (4.877), Ciego de Avila (2.882) e Pinar del Rio (1.751).

Cienfuegos apresenta um "cenário sem precedentes" devido à falta de testes diagnósticos, acúmulo de PCRs sem resultados e o "gerenciamento ineficiente de casos na atenção primária à saúde", de acordo com a imprensa local. De uma população de 406.244 habitantes, cerca de 35 mil pessoas foram afetadas pela Covid-19 informou o jornal 5 de Septiembre.

Nesta província, localizada a 233 km de Havana, a ausência de 446 médicos - de um total de 701 - sobrecarregou o atendimento a ponto de dois profissionais terem que atender 250 pacientes, segundo o jornal.

Um médico do hospital de Cienfuegos falou ao 14ymedio sobre a falta de oxigênio para tratar pacientes de Covid. "Nestes dias, morreram 32, 34 pacientes. À noite faleceram 36 pacientes, dos quais apenas quatro tinham PCR positivo [para coronavírus] no momento da morte. São os únicos registrados como mortos pelo coronavírus, mas na realidade os outros 32 eram pacientes pós-Covid, que não são contados", denunciou.

Ele disse ainda que a província tem em média uma ou duas mortes de mulheres grávidas ao ano, mas que nos últimos quatro dias, houve um falecimento por dia, o que demonstra a gravidade da atual crise.

Aumenta insatisfação dos médicos

A revolta dos médicos cubanos com a situação no país tem aumentado, e nos últimos dias grupos de profissionais de saúde denunciaram as condições precárias de saúde nas redes sociais.

As manifestações dos médicos, consideradas raras no país em que os profissionais de saúde são tidos como orgulho do regime e as críticas são silenciadas, levou a ditadura de Miguel Díaz-Canel a responder, com elogios a esses profissionais nas páginas da mídia estatal, em tentativa de conter a revolta.

Mais de 300 enterros em 17 dias

A cidade de Ciego de Ávila, capital da província de mesmo nome a 440 km de Havana, relatou 155 mortes associadas à Covid-19 em 17 dias e 339 enterros em seu cemitério, mais da metade deles de vítimas do vírus, segundo o jornal local Invasor.

Carlos Cano, um dos administradores do cemitério, disse à publicação que está difícil gerenciar a situação. "Não é uma questão de falhas na construção de lápides e covas, mas do número de mortes. Nunca vimos nada assim antes", afirmou.

A burocracia na emissão de atestados de óbito, atrasos de até quatro horas para a liberação de corpos e outras questões agravam o triste quadro de perda de um ente querido.

O aumento das mortes por Covid-19 e a falta de espaço obrigaram brigadas a ampliar cemitérios no país.

Dados imprecisos sobre mortes

Cuba registrou 4.319 mortes por Covid-19 em 17 meses da pandemia, mas o número pode ser maior. As estatísticas oficiais só incluem pessoas confirmadas com o vírus no momento da morte e ignoram aquelas que morrem antes de terem sido testadas.

O próprio ministro da saúde de Cuba, José Ángel Portal, reconheceu ao jornal Invasor que o relatório diário do Minsap é "impreciso" em termos de número de mortes.

Especialistas também dizem que muitas das vítimas da Covid-19 morrem de doenças relacionadas - geralmente pneumonia - dias ou semanas após testarem negativo, e por isso não são registradas como tendo morrido devido ao vírus.

Este protocolo é "discutível" para o biólogo molecular cubano Amílcar Pérez Riverol, que disse à Efe que a Covid-19 é uma "doença bifásica".

Primeiro há a parte viral, na qual o paciente testa positivo, e depois a parte imunológica, quando ele apresenta doenças relacionadas a uma resposta imunológica desequilibrada do organismo causada pelo vírus, e o paciente já pode testar negativo, explicou o pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

No entanto, ele apontou que em outros países essas pessoas ainda são consideradas vítimas da Covid, pois sua condição clínica deriva de terem sofrido a doença.

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