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Presidente argentino, Alberto Fernández, na apresentação do projeto que prevê nova tributação no país, em 06 de junho de 2022.
Presidente argentino, Alberto Fernández, na apresentação do projeto que prevê nova tributação no país, em 06 de junho de 2022.| Foto: EFE/Juan Ignacio Roncoroni

Caminhões carregados de alimentos estão nas filas dos postos de gasolina da Argentina, aguardando o abastecimento de diesel. Há dois meses, a falta do combustível prejudica principalmente o setor agropecuário, que é a maior fonte de divisas do país. Agora, a grande preocupação é o risco de faltar trigo para consumo interno e para a exportação.

Segundo a Federação Argentina de Entidades Empresariais de Transporte de Carga (Fadeeac), entre 25 de maio e o último domingo (5), 19 dos 24 distritos argentinos apresentaram problemas de abastecimento de diesel. Além disso, na semana passada, 26% dos caminhoneiros que usam esse combustível na Argentina chegaram a esperar mais de 12 horas nos postos para conseguir abastecer e 31% aguardaram entre 6 e 12 horas na fila.

"O panorama está cada dia mais complicado. A produção agrícola e industrial, que já sofre com atrasos, será ainda mais afetada se a situação atual não for revertida", alerta o presidente da Fadeeac, Roberto Guarnieri. "Não podemos cumprir nossos compromissos em tempo hábil e empregos são perdidos devido à incerteza gerada pela falta de abastecimento normal”, completa.

O presidente da Confederação Argentina de Médias Empresas (Came), Alfredo González, ressalta que a falta de diesel "está colocando em xeque as economias regionais". González também pediu solução urgente das autoridades para evitar que a crise afete ainda mais a alta inflação na Argentina.

Diferença de preços  

Em algumas regiões do país, o problema é ainda maior devido à demanda de motoristas de países vizinhos que abastecem em solo argentino. Isso acontece porque a YPF, empresa privada com controle estatal que abastece 55% dos postos da Argentina, tomou como política atrasar os aumentos de preços necessários. Por isso, há uma diferença de valores em relação ao preço internacional, que, na última semana variou de 35 a 100%.

O país importa 1/3 do diesel que consome. A maioria das refinadoras compra de fora do país apenas o mínimo necessário para cumprir contrato. Já os postos sem bandeira precisam importar de atacado, que especialmente neste momento custa 30% mais. Nesses postos, que representam 20% do mercado, fica mais caro abastecer, então as filas se formam em torno dos estabelecimentos mais baratos.

Pressionado por empresários e produtores, o governo da Argentina prometeu aumentar as importações de diesel para normalizar a oferta.

Falta de combustível pode gerar falta de alimento 

"Não podemos viver nesta situação crítica que gera incertezas e aumento de custos na produção", disse o presidente da Sociedade Rural Argentina, Nicolás Pino, em entrevista ao periódico Clarín.

Além disso, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires prevê redução na área plantada de trigo, devido às condições de seca, o que aumenta as preocupações de especialistas e autoridades.

O trigo, juntamente com o milho e a soja, representa 47% das exportações do país. A Argentina é o 7º maior produtor de trigo do mundo, além de ser o primeiro em exportação de farinha. Mesmo assim, o preço do pão não para de crescer nas padarias argentinas.

Inflação no país 

A Guerra na Ucrânia reforçou um problema que a Argentina já sofre há dez anos. Os argentinos convivem com a alta inflação, que chegou a 50% em 2021. Com o conflito no leste europeu, o salto foi de 16% nos três primeiros meses de 2022, segundo dados oficiais.

A solução proposta pelo presidente argentino, Alberto Fernández, foi enviada ao Parlamento nesta segunda-feira (6). É o projeto de lei que deve criar uma tributação para a “receita inesperada” obtida pelas grandes empresas, como forma de compensar os aumentos acentuados dos preços internacionais.

Segundo ele, o projeto de nova tributação serve, também, para cumprir com o acordo de refinanciamento da dívida de 45 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Insatisfação de empresários 

A novidade, claro, não foi bem recebida pelo empresariado argentino. O presidente da Associação Empresária Argentina (AEA), Jaime Campos, discursou nesta terça-feira (7) no evento de celebração dos 20 anos da entidade, declarando que a nova tributação é um retrocesso. “Temos mais de 160 impostos no nosso país. E, para voltar a crescer e gerar emprego, é preciso reduzir impostos”, reforçou.

Um vídeo gravado pelo presidente argentino para os participantes do evento foi transmitido em um telão. Na gravação, Fernández comentou sobre o novo imposto. "Não conseguimos relacionar nossos produtores de alimentos a todos os argentinos, nem separar totalmente os preços internacionais dos valores internos", disse o presidente, pedindo a compreensão dos empresários.

O líder argentino também falou sobre a fome que vai aumentar no mundo, especialmente em países pobres, devido à guerra na Ucrânia. E explicou que, apesar do conflito poder gerar uma vantagem para a exportação de alimentos produzidos na Argentina, “é uma oportunidade para todos que habitam a terra argentina, e não apenas para um produtor ou empresário”.

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