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Liderando a corrida presidencial na Argentina, Daniel Scioli, candidato da presidente Cristina Kirchner, deverá fazer uma revisão nos subsídios sociais do governo, caso seja eleito.

A informação começou a ser difundida timidamente pelo próprio Scioli às vésperas das primárias, há duas semanas, e foi confirmada à reportagem pelo presidente do banco estatal Província, Gustavo Marangoni.

Dirigente do braço financeiro da província de Buenos Aires, governada por Scioli, Marangoni trabalha com o candidato há 18 anos.

Segundo ele, a Argentina deverá entrar em uma nova etapa na próxima gestão presidencial, que começa em dezembro.

Sob Scioli, segundo diz, é possível esperar pelo menos três mudanças: a redução dos subsídios sociais, a negociação com os chamados fundos abutres e uma maior abertura do país a investidores externos.

A maior parte dos subsídios sociais começou a vigorar na crise de 2001 e, embora a Argentina tenha crescido a taxas de até 8% na última década, continuaram em vigor.

Com isso, uma conta de luz em um bairro nobre da capital, como Palermo, chega a custar menos do que um ingresso de cinema.

Segundo o economista Juan Pablo Ronderos, da consultoria Abeceb, esses benefícios explicam a maior parte do déficit nas contas do governo, que devem chegar ao fim do ano a 7% do PIB.

O mais custoso dos subsídios são os que são dados para reduzir a conta da energia elétrica, que somam despesas de 4% do PIB -ou cerca de US$ 20 bilhões por ano.

“Há pessoas que, quando começou o subsídio, precisavam da ajuda. Mas agora não precisam mais. É necessária uma revisão”, afirma Marangoni.

“Há lugares na província de Buenos Aires em que se pagam tarifas subsidiadas ou simplesmente não se paga nada. Mas o restante da população paga. É preciso agir com o princípio da igualdade.”

Programas sociais voltados para a população mais pobre, segundo indicou Scioli durante a campanha nas primárias, serão mantidos. As despesas nessas rubricas são bem menores do que os subsídios à energia, informa Ronderos. Equivalem a cerca de 0,5% do PIB.

“Há moradores de cidades na província de Santa Fé que pagam cinco vezes mais pela energia do que apartamentos de Puerto Madero [bairro endinheirado da capital Buenos Aires]”, afirma Ronderos. “O déficit fiscal é insustentável e não poderá continuar assim.”

O economista afirma que isso pode representar aumentos de conta de luz de até 1.000% na capital. Mas o assunto não chega aos microfones políticos no período de eleições. Mauricio Macri, principal candidato opositor, prometeu que manterá os benefícios sociais, mas evita falar dos subsídios à energia.

Abutres

Outra diferença, no campo econômico, prometida pela campanha de Scioli, é que haverá negociação com os chamados fundos abutres, que ganharam na Justiça dos EUA o direito de cobrar pela dívida que sobrou do calote do país, em 2001.

O tema é um tabu no governo de Cristina, que transformou a disputa com os abutres em uma bandeira política.

“O ministro da Economia [Axel Kicillof] já disse em um programa de televisão que é preciso negociar. Como falamos aqui: no tango, são necessários dois para bailar, e para negociar também”, afirmou Marangoni.

O objetivo da estratégia “paz e amor” na economia é atrair investimentos estrangeiros, que abandonaram o país após os controles impostos pelo governo Kirchner, além das estatizações.

“Daniel [Scioli] será o primeiro gerador de confiança, e se preocupará com tudo o que tenha que ver com gerar melhores condições para atrair investimentos”, afirmou Marangoni.

Nem mesmo a desaceleração da China e a volta dos capitais aos EUA, com a recuperação da economia americana, derrubam o otimismo do governista.

“Na Argentina há muitos setores para se fazer bons negócios, no setor energético, no setor mineiro, automotivo, petroquímico, de turismo, de infraestrutura. O capital busca negócios”, afirma.

Palavra maldita

Essas são as primeiras definições feitas por Scioli no campo econômico, em uma campanha em que os principais candidatos evitam falar em correções para não perder eleitores.

Apesar de todas as moedas do mundo estarem perdendo valor em relação ao dólar, nenhum dos candidatos afirma que uma desvalorização está à espera na Argentina após a eleição.

O governo de Cristina controla com rigor a taxa de câmbio, a custas de restrições à importação e à compra de moeda estrangeira pelos argentinos.

Marangoni evita falar em “cepo”, palavra que no vocabulário argentino significa controle cambial. “O governo está administrando suas reservas, todos os países do mundo fazem isso.”

E indica que a palavra maldita, desvalorização, está fora do cardápio de Scioli.

“Não vamos fazer uma desvalorização, porque tem consequências gravíssimas. É algo que não tem um fim em si mesmo”, disse.

Para liberar os controles do câmbio -queixa constante de empresários estrangeiros, que se veem impossibilitados de devolver às matrizes os lucros obtidos com a operação no país-, Maragoni diz que Scioli promete gradualismo.

“À medida que entrem mais dólares na Argentina, por meio dos investimentos, será possível flexibilizar a administração de reservas. A palavra-chave da próxima etapa na Argentina é o investimento, e vamos dar todo o incentivo para isso. Nossa intenção é seduzir os investidores”, afirma.

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