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PROTESTOS ARGENTINA
Pessoas participam de um protesto contra o governo do presidente da Argentina, Alberto Fernandez, na Plaza de la Republica, em Buenos Aires, em 12 de outubro de 2020| Foto: JUAN MABROMATA/AFP

Milhares de pessoas protestaram contra o governo de Alberto Fernández na Argentina neste feriado de 12 de outubro, quando se comemora no país o Dia do Respeito à Diversidade Cultural. Não só em Buenos Aires, mas também em outras cidades importantes, como Córdoba, Bariloche, Rosário e Mendoza, argentinos saíram às ruas, a pé ou em carros, carregando bandeiras do país, exigindo que o presidente dê atenção aos temas que mais os afligem – a pandemia de Covid-19 e a crise econômica – em vez de colaborar com o avanço do kirchnerismo sobre a Justiça.

Outros protestos contra Fernández e sua vice, Cristina Kirchner, já tinham ocorrido em julho, agosto e setembro, mas a posição do governo agora é ainda pior por causa dos aumentos de casos de Covid-19, do agravamento da crise econômica, e dos recentes avanços de Kirchner sobre a justiça.

A popularidade do presidente já estava em queda por causa da "quarentena eterna" na capital, mas pela primeira vez, depois de 200 dias de confinamento, os argentinos passaram a ter uma percepção mais negativa do que positiva sobre como a Casa Rosada conduziu a resposta à pandemia, segundo mostrou uma pesquisa da consultoria Poliarquía no fim de semana.

Isso se explica pela explosão de novos casos de Covid-19 no país, especialmente no interior, com mais de 900 mil registrados até esta terça-feira. Estima-se que, ainda nesta semana, a Argentina deve ultrapassar a Colômbia em número de casos de coronavírus, entrando para a lista dos cinco países mais atingidos pela pandemia – atrás apenas da Rússia, Brasil, Índia e Estados Unidos. Um balde de água fria para um governo que foi elogiado por ter decretado quarentena nacional logo após os primeiros casos da doença em seu território e que agora é criticado por ter se precipitado e falhado em promover outras frentes de combate à pandemia além do confinamento.

O impacto econômico do fechamento da economia se refletiu no aumento da pobreza. O Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec) informou que a taxa de pobreza no país chegou a 40,9% da população no primeiro semestre de 2020, com taxa de indigência de 10,5%. A título de comparação, no fim de 2019 os índices eram de 35,5% e 8%, respectivamente. Trata-se de um dos piores registros da história do país.

O Fundo Monetário Internacional, com quem a Argentina vai negociar uma dívida de US$ 44 bilhões, revisou as projeções para a economia do país, mostrando um cenário ainda pior do que já se imaginava. O PIB do país deve cair, segundo o FMI, 11,8% em 2020, quase dois pontos percentuais a mais do que o previsto na metade do ano. A própria Casa Rosada prevê uma retração de 12,1% do PIB neste ano. O desemprego na Argentina ficou em 13% no segundo trimestre, segundo o Indec.

"Tenho medo da inércia, da pobreza, da miséria, da insegurança. É terrível para onde eles estão nos levando e a vice-presidente não fala. Ela está preocupada com sua própria situação", disse um argentino que estava protestando em Buenos Aires.

A reforma judicial e outras empreitadas do kirchnerismo em questões referentes à Justiça também desagradam parte da população. A proposta, enviada por Fernández e aprovada às pressas no Senado, pretende diluir o poder dos juízes de Comodoro Py, os tribunais que julgam todos os processos de corrupção envolvendo Kirchner e seus ex-funcionários, ao aumentar o número de varas. Contudo o governo ainda estuda outras alterações, como o aumento do número de juízes da Suprema Corte argentina.

Mas enquanto o processo está travado na Câmara, onde os oficialistas precisam do apoio da oposição para aprovar a reforma, Kirchner abriu outras frentes para tentar enfraquecer os casos de corrupção pelos quais responde. Uma das tentativas é remover de seus cargos três juízes que foram transferidos para Comodoro Py durante a gestão Macri: dois que julgaram procedentes as acusações contra a vice-presidente e outros kirchneristas e um que deve julgar o processo conhecido como "cadernos de propinas", que acusa Kirchner de chefiar um esquema de corrupção quando era presidente da Argentina. Ela também está tentando remover por via administrativa o procurador-geral interino, Eduardo Casal, de seu cargo, já que ela não conta com a maioria especial no Senado para aprovar outro nome.

Outras pautas também apareceram nos protestos desta segunda-feira, como o pedido pela volta às aulas, uma disputa entre o governo da capital e a Casa Rosada sobre recursos orçamentários, a inação do governo diante das ocupações de terras, que aumentou nos dez meses da presidência de Fernández, e a criação de um observatório para controlar o conteúdo da imprensa e das redes sociais (chamado de Nodio, Observatório Estatal de Desinformação e Violência Simbólica na Mídia e nas Plataformas Digitais).

A toda essa indignação, o chefe de Gabinete de Fernández, Santiago Cafiero, deu de ombros. Disse que aqueles que estão protestando "não são a gente, não são o povo, não são a Argentina" e se identificam "com um partido político que não aceita que perdeu as eleições há um ano".

"Acreditamos no direito de manifestar; faz parte da democracia. Mas também devemos aceitar a diversidade; eles não são a gente, não são todos, não são o povo; a Argentina é muito mais diversa", afirmou à rádio Continental.

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