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Voluntários americanos carregam veículos com caixas de alimentos para doação| Foto: Frederic J. BROWN / AFP

Durante a pandemia de Covid-19, mais pessoas podem morrer de fome do que da própria doença, alertou a ONG Oxfam. Até o fim de 2020, o número de mortes relacionadas à fome no mundo chegará a 37 mil por dia. A previsão consta no relatório da Oxfam, divulgado na quarta-feira (8), com base em dados das Nações Unidas (ONU). Em 2019, as mortes diárias em razão da crise alimentar chegaram a 25 mil, mas os efeitos da pandemia devem ampliar em 12 mil o total diário neste ano, uma alta de 48%.

O estudo identifica que os casos mais graves se concentram em nove países e uma região onde vivem 65% da população global em situação de crise alimentar. A maior parte está em áreas de conflito, na África e no Oriente Médio, onde a crise interrompeu colheitas, o suprimento de alimentos e o envio de remessas.

No Iêmen, que vive uma guerra civil, as remessas caíram 80% - cerca de US$ 253 milhões - nos primeiros quatro meses de 2020, como resultado da perda maciça de empregos no Golfo. O fechamento de fronteiras e de rotas de fornecimento levaram a escassez de alimentos e aumentos no preço dos alimentos no país, que importam 90% de seus alimentos.

Brasil, Índia e África do Sul também terão de lidar com aumento da fome porque muitas pessoas perderam seus empregos com o fechamento das economias. Especificamente sobre o Brasil, a Oxfam citou como preocupante o fato de que apenas 10% do apoio financeiro prometido pelo governo federal havia sido distribuído até o final de junho.

Na Índia, os comerciantes não conseguiram chegar até comunidades tribais durante a alta temporada de colheita de produtos florestais, privando até 100 milhões de pessoas de sua principal fonte de renda no ano.

Insegurança alimentar

Em 2019, a insegurança alimentar afetou a vida de 821 milhões de pessoas - quatro vezes a população do Brasil. Com a pandemia, mais 122 milhões podem entrar na estatística, chegando a mais de 900 milhões de indivíduos em situação de extrema vulnerabilidade.

Em seu relatório, a Oxfam cita ações necessárias para reduzir a insegurança alimentar no mundo. Uma delas é financiar o envio de ajuda humanitária da ONU, considerada fundamental para garantir a vida e a subsistência de milhões em países pobres. Em um contexto de recrudescimento do nacionalismo, a Oxfam considera as ações multilaterais coordenadas. Um segundo ponto é o fortalecimento de sistemas alimentares, deixando-os mais sustentáveis e menos suscetíveis a interrupções como fechamento de fronteiras.

Neste ano, o FMI prevê queda de 4,9% na economia global, o que acabaria com 300 milhões de empregos em tempo integral e dificultaria o acesso à renda para outros 2 bilhões de trabalhadores informais em todo o mundo.

Em junho, a ONU estimou que a pandemia jogaria mais 49 milhões de pessoas na pobreza extrema. "O número de pessoas expostas a uma grave insegurança alimentar vai crescer rapidamente. A queda de um ponto porcentual no PIB global significa mais 700 mil crianças desnutridas", disse António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.

Os países em desenvolvimento são particularmente afetados pelo confinamento em razão da dependência que têm da economia informal. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 1,6 bilhão dos 2 bilhões de trabalhadores informais serão afetados pelas restrição de movimento, a maioria em países da América Latina, Ásia e África.

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