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Polícia em conflito com manifestantes da oposição durante um protesto contra o governo de Nicolas Maduro, em Caracas, em 23 de janeiro de 2019 | YURI CORTEZ/AFP
Polícia em conflito com manifestantes da oposição durante um protesto contra o governo de Nicolas Maduro, em Caracas, em 23 de janeiro de 2019| Foto: YURI CORTEZ/AFP

Pelo menos 40 pessoas morreram e mais de 850 foram presas por forças de segurança do regime chavista na última onda de repressão a protestos, entre 21 e 26 de janeiro, segundo informou o porta-voz do Alto Comissariado para Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Rupert Colville. Dentre os presos, 77 são menores de idade, alguns deles com apenas 12 anos.

Só em 23 de janeiro, dia da grande mobilização anti-Maduro que terminou com a juramentação do deputado Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, o número de prisões chegou a 696, de acordo com Colville. A ONG venezuelana Foro Penal já vinha alertando para um número de prisões superior a 700 durante a última semana de protestos.

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O porta-voz da ONU também informou que das 40 vítimas fatais, 26 foram assassinadas pelas forças do governo, 5 morreram em invasões de casa e 11 durante assaltos. Como noticiou o site venezuelano Efecto Cocuyo, entre as vítimas estão estudantes, uma dona de casa, uma engenheira e um coroinha.

A mais recente onda de repressão do regime de Nicolás Maduro contra a população ocorre em um momento em que a oposição conseguiu reunir forças para, mais uma vez, mobilizar os venezuelanos, que já estavam desanimados pela falta de insumos básicos, pela fome, por doenças e pela violência das forças de segurança nacionais.

A primeira destas mortes foi registrada em 21 de janeiro, quando um grupo de pessoas iniciou um pequeno protesto em apoio a militares do quartel de Cotiza que haviam se rebelado contra Maduro e se declararam a favor de Guaidó. Nicar Bermúdez Muñoz, de 32 anos e mãe de uma menina de seis, foi morta enquanto estava assistindo à manifestação. Segundo relatos de vizinhos, ela tinha ido levar o lixo para fora de casa e quando voltava foi abordada por dois homens em motos que lhe pediram o celular e deram um tiro em sua cabeça. Eles acreditam que os assaltantes sejam membros da milícia civil armada de Maduro.

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Guaidó pediu que a ex-presidente do Chile e Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, faça uma visita ao país para constatar a situação de violência em que estão vivendo os bairros populares. Segundo Colville, a comissão está analisando uma viagem dela a Caracas, mas, segundo informou o jornal Estado de S. Paulo, Bachelet quer garantias de que tenha acesso livre à sociedade civil e ONGs locais.

Protestos marcados para esta semana

Motivada pelo grande número de pessoas que atenderam às manifestações de 23 de janeiro - centenas de milhares de venezuelanos, talvez – a oposição marcou novos protestos para esta semana. O primeiro será nesta quarta-feira (30). Guaidó pediu que as pessoas saíssem às ruas por duas horas, das 12h às 14h (horário local), para dizer não a Maduro e pedir que as Forças Armadas “se coloquem ao lado do povo”. Ter o respaldo do exército é essencial para que a oposição consiga cumprir os objetivos de cessar a usurpação por parte de Maduro e realizar a transição para a democracia.

O segundo protesto ocorrerá no sábado (02) e Guaidó espera que seja uma mobilização tão grande quanto a de 23 de janeiro. A data marca o fim do prazo dado pela União Europeia para que o regime convoque eleições presidenciais.

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Mas Miraflores já está se articulando para minar as novas convocações. Uma das estratégias é atrapalhar as comunicações com cortes do sinal de internet nas vésperas e dias de protestos, como já foi registrado nesta terça-feira. Na Venezuela, o regime controla as telecomunicações.

"Aqui, na nossa Redação, temos de lidar com queda da internet e da página com frequência, por isso temos também um endereço fora do país para ativa-la desde fora", conta à reportagem a chefe de Redação do site Efecto Cocuyo, Josefina Ruggero. 

As redes sociais e a internet no geral são meios importantes de comunicação para a oposição, que não conta com a cobertura dos tradicionais meios de comunicação, especialmente na televisão. Guaidó frequentemente usa as redes sociais para convocar protestos e se comunicar com seus apoiadores.

Caracas segue vivendo dias de anormalidade. Apesar de serem dias úteis, o comércio funciona em horários limitados. À noite, há pouca gente caminhando, e muitos restaurantes e bares estão fechados. Motos com oficiais da Guarda Nacional Bolivariana com escopetas em punho fazem a ronda pelos bairros do leste. 

Em Baruta, de classe média, houve dois apagões em três dias e falta internet. Há várias estações de metrô fechadas, obrigando os pedestres a caminharem até as próximas.

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