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Manifestante sudanesa caminha perto de pneus em chamas enquanto forças militares tentam dispersar uma ocupação de manifestantes em frente à sede do Exército na capital, Cartum, 3 de junho
Manifestante sudanesa caminha perto de pneus em chamas enquanto forças militares tentam dispersar uma ocupação de manifestantes em frente à sede do Exército na capital, Cartum, 3 de junho| Foto: ASHRAF SHAZLY / AFP

Um confronto entre forças de segurança e manifestantes que ocupam parte da capital do Sudão, Cartum, aconteceu nesta segunda-feira (3), quando um intenso tiroteio foi ouvido na cidade. Um grupo de médicos ligados ao protesto disse que pelo menos 30 pessoas foram mortas.

Uma grande parcela da sociedade sudanesa participa de um protesto passivo em Cartum desde 6 de abril, poucos dias antes de os militares derrubarem o presidente Omar Hassan al-Bashir, que liderou o país por 30 anos. Dezenas de milhares de manifestantes permaneceram no local desde a expulsão de Bashir para exigir o controle civil sobre o período de transição neste país norte-africano de 40 milhões de habitantes.

O chamado Conselho Militar de Transição (CMT) não aceitou essas demandas, insistindo em manter a autoridade final durante o período interino que, segundo eles, levará a um governo liderado por civis.

A repressão ocorrida nesta segunda-feira, realizada por tropas paramilitares do Estado, parece ter, pelo menos, dispersado a ocupação, se não completamente, queimando muitas de suas tendas e palcos na ação. Os manifestantes estiveram pacíficos desde que ocuparam as ruas em frente à sede do exército do Sudão há dois meses.

Relatos de testemunhas e transmissões ao vivo em programas de televisão mostraram cenas de derramamento de sangue, e o grupo de médicos disse que os hospitais receberam centenas de feridos.

"Os manifestantes que participam de uma ocupação diante do comando geral do Exército estão enfrentando um massacre em uma tentativa traiçoeira de dispersar o protesto", disse em comunicado o grupo organizador dos protestos. "Pedimos uma ampla desobediência civil para derrubar o traiçoeiro e assassino conselho militar e finalizar nossa revolução".

O CMT, liderado pelo tenente-general Abdel Fattah al-Burhan, passou as últimas semanas visitando os líderes do Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, que fizeram grandes contribuições financeiras para sustentar a economia do Sudão durante a transição.

Shams al-Deen al-Kabashi, porta-voz do conselho, reconheceu a operação em declarações televisionadas, mas disse que os militares estavam atacando apenas uma área dos protestos, apelidada de "Colômbia" por manifestantes por causa do grande uso de drogas que acontece lá. Kabashi afirmou que os confrontos na ocupação principal foram resultado de manifestantes da "Colômbia" buscando refúgio lá.

A área "Colômbia" está sob uma ponte que atravessa o Nilo bem perto da ocupação. Vídeos postados nas mídias sociais mostraram tropas paramilitares atirando contra manifestantes em vários pontos da cidade de Cartum, da área ao redor da ocupação até os bairros do outro lado do Nilo.

Burhan e seu vice, o general Mohamed Hamdan Dagalo, comumente chamado pelo nome de Hemedti, foram fundamentais durante os anos de Bashir no recrutamento de jovens combatentes sudaneses para reforçar a ofensiva militar dirigida por Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos no Iêmen.

Hemedti comanda um braço de segurança do Estado chamado de Rapid Support Forces ou RSF, que é famoso por seu papel em um suposto genocídio na região de Darfur, no Sudão, há mais de uma década. Muitos relatos consideram o RSF como os responsáveis por levar a cabo a repressão em Cartum nesta segunda-feira.

Governos ocidentais foram rápidos em condenar a violência, embora eles tenham oferecido pouco em termos de uma reação concreta.

"A responsabilidade recai sobre o CMT", escreveu a embaixada dos EUA em Khartoum no Twitter. "O CMT não pode liderar responsavelmente o povo do Sudão."

"Não há desculpa para esse tipo de ataque", escreveu Irfan Siddiq, embaixador do Reino Unido. "Isso. Deve. Parar. Agora."

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