• Carregando...
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa remotamente do East Asia Summit (EAS) na residência estatal de Novo-Ogaryovo, na região de Moscou, 14 de novembro
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa remotamente do East Asia Summit (EAS) na residência estatal de Novo-Ogaryovo, na região de Moscou, 14 de novembro| Foto: Alexey NIKOLSKY / Sputnik / AFP

A reação da Rússia ao anúncio da provável vitória de Joe Biden na eleição presidencial dos Estados Unidos tem sido de silêncio até o momento. O presidente russo Vladimir Putin ainda não se manifestou sobre a declaração de vitória de Biden, feita após projeções da imprensa enquanto a apuração segue em alguns estados e Trump contesta o resultado das eleições.

Biden disse que a Rússia é atualmente “a maior ameaça” à segurança e às alianças dos EUA, em entrevista ao programa de televisão 60 Minutes, antes das eleições, e prometeu combater as agressões russas com o fortalecimento da relação entre Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

O democrata já havia criticado o autoritarismo de Putin em artigo escrito para uma edição de 2018 da Foreign Affairs. No mesmo texto, Biden faz uma defesa do trabalho em conjunto com aliados para frear as agressões militares e outras formas de coerção da Rússia.

Na Rússia, comentaristas pró-Kremlin e autoridades de empresas estatais temem punições por causa da interferência do país nas eleições presidenciais americanas de 2016, relatou o Foreign Policy. Segundo a análise do correspondente do veículo na capital russa, outras pessoas que trabalham com questões dos EUA no governo russo têm uma visão menos drástica e acreditam que Biden impedirá a deterioração das relações entre Moscou e Washington, já que ele seria um presidente que não é marcado por suspeitas de ligações com a Rússia, como foi o governo Trump.

Para essas pessoas, Biden não prestaria tanta atenção à Rússia, porque deve ter maiores preocupações com questões domésticas, como a crise causada pela pandemia, e com a ameaça da China. Mesmo assim, Putin não deve sair da lista de prioridades de um governo democrata.

“Para combater a agressão russa, devemos manter as capacidades militares da Otan afiadas, além de expandir sua capacidade de enfrentar ameaças não tradicionais, como corrupção ‘transformada em arma’, desinformação e roubo cibernético”, disse Biden em artigo para a Foreign Affairs do início do ano. “Devemos impor custos reais à Rússia por suas violações das normas internacionais e apoiar a sociedade civil russa, que corajosamente se ergueu por diversas vezes contra o sistema autoritário cleptocrático de Putin”, acrescentou.

Durante o governo Putin, que já dura mais de vinte anos, o país promoveu diversas ações que atribularam as relações entre Moscou e países do Ocidente. A Rússia entrou em um conflito armado com a Chechênia que provocou milhares de mortes e encerrou a independência do território, que passou a ser controlado pela Rússia; invadiu a Georgia em 2008 e a Ucrânia em 2014, anexando a península da Crimeia. Além disso, Putin dá apoio a líderes autoritários e ditadores pelo mundo, incluindo o vezuelano Nicolás Maduro, o sírio Bashar al-Assad e o bielorruso Aleksander Lukashenko, e supostamente prometeu recompensas pela morte de soldados americanos no Afeganistão. Recentemente, o líder opositor russo Alexei Navalny acusou o Kremlin de estar por trás de seu envenenamento.

Mas alguns analistas apostam em uma postura mais dura de um provável governo Biden comparada aos anos do governo Trump. Para o Global Risk Insights, Putin tem motivos para se preocupar: Biden deve aplicar medidas mais duras para restringir a interferência russa na política americana; impor sanções para desmotivar o envolvimento da Rússia no leste europeu e no Oriente Médio e restaurar as alianças com a União Europeia e a Otan para apresentar uma frente unida contra a agressão russa. No entanto, diz a análise do think tank, se os republicanos conseguirem a maioria do Senado americano, devem fazer oposição a possíveis sanções propostas por Biden, mantendo a linha de Trump em seu mandato.

O que a Rússia pensa

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que acredita que as políticas de Biden em relação ao seu país devem sem similares às do governo Obama. As relações entre as duas nações foram abaladas nesse período, quando Obama impôs sanções contra Moscou por causa da anexação da Crimeia.

Apesar do silêncio sobre as eleições americanas, Putin deu pistas sobre o que pensa sobre Biden. Em outubro, o presidente russo criticou a “forte retórica anti-Rússia” de Biden e disse que Moscou trabalharia com qualquer presidente americano eleito, mas elogiou Trump por dizer que queria laços mais fortes com o seu país.

Putin aprovou, no entanto, comentários de Biden sobre o futuro do tratado de controle de armas nucleares. “O candidato Biden disse publicamente que estava pronto para uma extensão do New Start ou para chegar a um novo acordo para limitar armas estratégicas, e esse é um importante elemento de nossa cooperação no futuro”, disse o líder russo, que em outra ocasião afirmou que não via nada criminoso nas relações entre o filho de Joe Biden, Hunter Biden, com a Rússia ou a Ucrânia.

Centro de confronto

Belarus pode ser um ponto de confronto entre Biden e Putin. A ex-república soviética tem sido palco de grandes protestos após a eleição presidencial de agosto, da qual Lukashenko de declarou vencedor em meio a acusações de fraude. O país é um aliado importante de Moscou, que se comprometeu a enviar ajuda militar e financeira a Lukashenko.

Biden prometeu em outubro que, se fosse vitorioso, iria “expandir significativamente” as sanções, juntamente com países europeus, contra Lukashenko. “Embora o presidente Trump se recuse a falar em seu apoio, eu continuo ao lado do povo de Belarus e apoio as suas aspirações democráticas”, disse o então candidato em comunicado. “Eu também condeno os terríveis abusos de direitos humanos cometidos pelo regime de Lukashenko”.

O Kremlin não deve ficar parado se um governo Biden apoiar os grupos de oposição. Minsk e Moscou podem tentar acabar com os protestos antes de uma posse de Biden em janeiro para impedir um possível auxílio americano ao movimento pró-democracia, avalia Tracey German, pesquisadora de conflito e segurança do King’s College London.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]