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Estudantes universitários se protegem durante enfrentamento com a Polícia e a Guarda Bolivariana na entrada da Universidad Central de Venezuela, em Caracas, 14 de novembro de 2019
Estudantes universitários se protegem durante enfrentamento com a Polícia e a Guarda Bolivariana na entrada da Universidad Central de Venezuela, em Caracas, 14 de novembro de 2019| Foto: Yuri CORTEZ / AFP

No momento em que as crises que explodiram em países da América do Sul ganham atenção, a crise da Venezuela acabou ficando em segundo plano. Em uma tentativa de manter a pressão sobre o regime chavista na Venezuela, o presidente interino Juan Guaidó convocou seus apoiadores a saírem às ruas de todo o país no próximo sábado, 16. "O dia 16 de novembro será uma vitória se todos sairmos às ruas. Será uma demonstração de que não nos acostumamos à crise e que não conseguiram nos derrotar", disse Guaidó na semana passada.

Depois de tentativas frustradas de derrubar o regime do ditador Nicolás Maduro e convocar novas eleições, a tarefa de Guaidó de manter os venezuelanos e a comunidade internacional engajadas se torna mais difícil. "Está claro para o Guaidó que o empenho que os Estados Unidos tiveram para tentar uma mudança rápida no país já não existe", disse à Gazeta do Povo Antônio Jorge Ramalho da Rocha, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). "Também está claro para Guaidó que hoje ele é uma influência política decadente na Venezuela", disse.

O principal defensor nos EUA de uma intervenção mais dura na Venezuela era o conselheiro de segurança John Bolton, que foi demitido por Trump em setembro.

Resta saber se o líder da oposição ao regime chavista ainda tem a capacidade de mobilizar uma grande quantidade de pessoas. "A tendência é que Guaidó perca cada vez mais a capacidade de convocação. Quanto mais o tempo passa, mais o governo de Maduro vai ter condições de controlar a situação".

Algumas análises são mais otimistas. Benigno Alarcón, diretor do Centro de Estudos Políticos e de Governo da Universidad Católica Andrés Bello, disse em entrevista à rádio venezuelana Exitos que a manifestação popular que ocorreu na Bolívia pode oxigenar os protestos e dar mais razões para os venezuelanos saírem às ruas. "O protesto pacífico é o que dá resultados", disse Alarcón, ressaltando que os governos democráticos são muito sensíveis a protestos, "mas isso não ocorre em governos autoritários, que ficam no poder pela força".

Em preparação à marcha de sábado, algumas mobilizações já tiveram início na capital. Nesta quinta-feira (14), uma manifestação terminou em enfrentamento entre estudantes e membros da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) e da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) em Caracas. Após uma reunião de movimentos estudantis com Juan Guaidó, os estudantes foram à Universidad Central de Venezuela (UCV), onde batalhões de choque da PNB estavam posicionados para impedir a mobilização dos jovens, que reclamavam sobre as condições precárias das universidades do país.

Os estudantes tentaram dialogar com os policiais e pediram que eles não deixassem de reconhecer o governo do ditador Nicolás Maduro, segundo o jornal Efecto Cocuyo. No entanto, os agentes lançaram gás lacrimogêneo contra os universitários, que então responderam tentando atravessar a barreira policial e atirando pedras e garrafas.

Marcha chavista e "Operação Centurión"

Também está convocada para o sábado uma marcha do chavismo contra o "imperialismo" e em apoio ao ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, que renunciou após vencer uma eleição com suspeitas de fraudes e se exilou no México.

Preocupado com as marchas populares que terminaram com a saída de Evo Morales do poder, Maduro deve responder à manifestação da oposição com toda a sua máquina repressiva. Em artigo no Infobae, o comentarista Laureano Pérez Izquierdo afirma que a ditadura venezuelana tentará criar cenários de conflito e violência nas manifestações, e tem um plano que recebeu o nome de "Operação Centurión".

"Teremos 321.433 fuzis que estão sendo distribuídos por vias seguras da Força Armada Nacional Bolivariana para nossos milicianos", afirmou Maduro na terça-feira, referindo-se à Milícia Bolivariana, grupo de ativistas civis pró-chavismo.

Os principais acessos a Caracas estarão bloqueados e serão cortadas as comunicações e a internet. Também haverá racionamento de gasolina e de eletricidade, segundo o Infobae.

Maduro ordenou na terça-feira que a Assembleia Nacional Constituinte (o Parlamento chavista) reformasse a lei da Força Armada Nacional Bolivariana para que desse classificação constitucional à designação das milícias como militares. Ou seja, as milícias passam a assumir funções de ordem pública, segundo o El Universal.

Segundo reportagem no Infobae, o ex-líder venezuelano Hugo Chávez ordenou várias modificações às normas que regem as forças armadas, mas nunca conseguiu converter a milícia em um componente legal militar. Atualmente, a FANB é constituída por Exército, Armada, Aviação e Guarda Nacional.

Comissão Eleitoral

A Assembleia Nacional (AN), o parlamento liderado por Guaidó, avançou nesta semana no esforço de renovar o Poder Eleitoral venezuelano. Deputados da oposição e do chavismo - que recentemente retornaram à AN - instalaram na quarta-feira o Comitê de Postulações Eleitorais. A comissão responsável pela medida é formada por sete deputados opositores e quatro chavistas. Alguns deputados de oposição rechaçaram a formação da comissão com o chavismo.

O professor Antônio Jorge Ramalho da Rocha acha difícil que o chavismo abra mão do controle de órgãos centrais e que reconheça qualquer órgão em que não tenha a maioria. "A estratégia é dividir [a oposição] para governar. E criar um fato que eles possam apresentar no ambiente internacional como algo favorável a si", afirmou.

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