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Incêndio em navio petroleiro atacado nas águas do Golfo de Omã
Incêndio em navio petroleiro atacado nas águas do Golfo de Omã| Foto: ISNA/AFP

A recente tensão militar entre os Estados Unidos e o Irã ressalta uma nova era de conflito, dizem alguns oficiais militares e analistas, em que o poder de um país no cenário mundial não é mais medido apenas pela influência econômica, força militar ou mesmo influência diplomática.

Em vez disso, o uso audacioso da desinformação para influenciar a opinião pública internamente e no exterior permite que países como o Irã e a Rússia consigam ir bem mais além do que suas classes de poder de influência na definição de eventos mundiais.

Para esse fim, especialistas dizem que o Irã colocou em prática lições de guerra híbrida que Moscou testou nos campos de batalha da Ucrânia e mais tarde lançou contra as democracias ocidentais.

"Os ataques do Irã contra petroleiros no Golfo assemelham-se, em suas intenções, às operações de guerra híbridas da Rússia que temos visto na Ucrânia e em outros lugares", disse Nataliya Bugayova, pesquisadora russa do Instituto para o Estudo da Guerra, um think tank americano.

"A Rússia e o Irã usam operações híbridas de guerra para promover seus objetivos mais amplos enquanto tentam ofuscar a realidade e impedir que o Ocidente tome medidas para defender seus interesses", disse Bugayova, acrescentando que o Irã "tem um histórico de aprendizado com a Rússia no campo de batalha".

Nesta nova era de guerra híbrida, os adversários podem ameaçar os interesses de segurança dos EUA e minar a ordem mundial democrática liderada pelos EUA sem recorrer à ação militar direta.

Em vez disso, ao transferir o ônus da escalada de conflitos para os EUA, os praticantes da guerra híbrida testam se os líderes americanos estão dispostos a retaliar com força militar letal as atividades não-letais que se situam em uma “zona cinzenta”.

“Futuros confrontos entre grandes potências podem ocorrer mais frequentemente abaixo do nível do conflito armado. Nesse ambiente, competição econômica, campanhas de influência, ações paramilitares, invasões cibernéticas e guerra política provavelmente se tornarão mais comuns”, escreve o contra-almirante da Marinha dos EUA Jeffrey Czerewko, vice-diretor de operações globais do Estado-Maior Conjunto, em uma avaliação não-confidencial das intenções estratégicas da Rússia divulgada recentemente pelo Pentágono.

Desde 2014, a Rússia tem usado a Ucrânia como um campo de testes para suas modernas doutrinas de guerra, tanto as convencionais quanto as híbridas, fornecendo um estudo de caso para os novos tipos de ameaças à segurança que os EUA e seus aliados ocidentais podem esperar de seus adversários.

O Irã também se voltou para táticas situadas na zona cinzenta para compensar sua própria inferioridade em relação aos EUA em termos de poder militar convencional.

A recente lista de atividades da zona cinzenta de Teerã inclui ataques não convencionais por proxies (agentes que representam os seus interesses), bem como atos de agressão não-letais como a sabotagem de petroleiros e oleodutos.

Em cada ocasião, o Irã mascara suas operações por trás de um véu de propaganda quase plausível – um princípio fundamental da guerra híbrida russa. O mesmo ocorre com o conceito de jogo de vítima – a apropriação de falsas vitimizações para justificar o próprio mau comportamento – que a Rússia frequentemente invoca para justificar sua ofensiva global de guerra híbrida como um contrapeso legítimo contra o suposto imperialismo americano.

"Há certamente paralelos entre as atividades do Irã no Golfo Pérsico e as atividades da Rússia na Ucrânia, no sentido de que ambos estão usando operações clandestinas como parte de um conflito mais amplo", disse Eugene Chausovsky, analista geopolítico especializado na antiga União Soviética do think tank americano de segurança Stratfor.

Os líderes dos EUA e do Irã dizem que não querem a guerra, mas a perspectiva de um conflito acidental está aumentando, alertam especialistas.

Esse prognóstico quase se concretizou em 20 de junho, quando o Irã derrubou um veículo aéreo não tripulado RQ-4A Global Hawk dos EUA com um míssil terra-ar. Autoridades dos EUA protestaram, dizendo que o drone de vigilância estava operando no espaço aéreo internacional sobre o Estreito de Hormuz.

O presidente Donald Trump autorizou ataques aéreos de retaliação, mas supostamente os cancelou faltando apenas 10 minutos para os ataques. Por fim, os EUA optaram por um ataque retaliatório cibernético.

Na quarta-feira, as tensões aumentaram de intensidade quando barcos armados iranianos supostamente atacaram um petroleiro britânico no Golfo Pérsico.

"Esses tipos de operações não convencionais e clandestinas provavelmente só aumentarão", disse Chausovsky.

"Batalha profunda"

Em 2014, os Estados Unidos e a União Europeia impuseram sanções econômicas punitivas a Moscou por sua agressão na Ucrânia. Desde então, as relações entre a Rússia e o Ocidente atingiram o ponto mais baixo desde a Guerra Fria.

Usando guerra cibernética e um império de propaganda armada, a Rússia embarcou em uma guerra híbrida contra as democracias ocidentais. Olhando para trás, está claro que a Ucrânia foi a abertura da guerra da Rússia contra a ordem mundial democrática liderada pelos americanos.

“A liderança russa vê-se em guerra contra os EUA e o Ocidente como um todo”, observa Nicole Peterson, analista de segurança, no documento do Pentágono sobre as intenções estratégicas da Rússia.

“Do ponto de vista russo, essa guerra não é total, mas é fundamental – um tipo de 'guerra' que está em discordância com a compreensão geral de guerra pelos EUA”, acrescentou.

A guerra híbrida é a visão contemporânea do Kremlin sobre uma doutrina militar soviética chamada “batalha profunda”, na qual as operações de combate da linha de frente são apoiadas por outras ações destinadas a espalhar o caos e a confusão dentro do território do inimigo.

Uma ameaça crescente que abrange todos os domínios de combate, a guerra híbrida combina a força militar convencional com outras chamadas atividades da zona cinzenta, como ataques cibernéticos e propaganda, tanto no campo de batalha quanto muito além das linhas de frente.

Um dos atributos mais perigosos da guerra híbrida é que ela transforma em armas muitos elementos básicos da vida cotidiana, incluindo smartphones, redes de mídia social, software de computadores comerciais – e jornalismo.

"Acho que estamos, em geral, caminhando para uma realidade na qual a guerra híbrida será o modus operandi preferencial de estados como Rússia, China, Irã, e não a guerra convencional", Aleksandra Gadzala, consultora independente de segurança e pesquisadora sênior do think tank Atlantic Council, disse ao The Daily Signal.

“O modo como Moscou conduz guerra híbrida evoluiu e se expandiu significativamente desde o Euromaidan [a recente onda de manifestações civis na Ucrânia]. O mesmo pode ser dito sobre a tática chinesa desde que o presidente chinês Xi Jinping assumiu o cargo. Com o Irã não é diferente”, disse Gadzala, referindo-se à revolução pró-ocidente de 2014 na Ucrânia.

"Guerra do homem pobre"

As forças armadas americanas superam as da Rússia. Os gastos com defesa dos EUA em 2018 atingiram US$ 649 bilhões, em comparação com US$ 61 bilhões da Rússia no mesmo ano, de acordo com um relatório de abril do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo.

Economicamente também, a Rússia está longe de ser comparada aos Estados Unidos. O produto interno bruto nominal da Rússia é cerca de metade do PIB da Califórnia – mais ou menos o mesmo nível da Coreia do Sul.

Com isso em mente, a estratégia de guerra híbrida da Rússia é basicamente "a guerra de um homem pobre", de acordo com um relatório do Instituto para o Estudo da Guerra publicado em junho.

“[O presidente russo Vladimir Putin] está suficientemente em contato com a realidade para saber que ele fracassará se tentar recuperar qualquer coisa com uma abordagem de paridade militar convencional com o Ocidente”, observam os autores do relatório. "Putin tem todos os motivos para acreditar que o confronto direto com os militares americanos acabará mal para ele".

Apesar da fraqueza da Rússia na abordagem convencional, no entanto, o país é uma superpotência na abordagem híbrida, com uma capacidade incomparável de controlar a atenção econômica do mundo.

A Rússia transformou informações em armas ao empregar suas organizações de mídia estatais para minar as sociedades ocidentais e as instituições democráticas.

Tirando proveito dos níveis historicamente baixos de confiança dos americanos no jornalismo, a guerra de informação da Rússia é direcionada com precisão ao povo americano através da internet e das mídias sociais. Essas atividades manipulam e inflamam as divisões na sociedade americana – muitas vezes fazendo com que os americanos se voltem uns contra os outros.

“Moldar o espaço da informação é o principal esforço para o qual as operações militares russas, até mesmo as operações militares convencionais, são frequentemente empregadas neste tipo de guerra”, segundo o relatório do Instituto para o Estudo da Guerra. “A Rússia ofusca suas atividades e confunde a discussão para que muitas pessoas desistam e simplesmente digam: 'Quem sabe se os russos realmente fizeram isso? Quem sabe se foi legal?’ paralisando assim as respostas do Ocidente".

Em 19 de junho – um dia antes do ataque do Irã ao drone dos EUA – investigadores internacionais acusaram três russos e um ucraniano de assassinato por causa da participação deles na operação de um míssil terra-ar russo Buk que abateu o voo 17 da Malaysia Airlines em julho de 2014, matando todos os 298 passageiros e tripulantes a bordo.

O míssil foi disparado de dentro do território controlado por separatistas pró-russos, e seu veículo de lançamento móvel pertencia à 53ª Brigada de Defesa Aérea da Rússia e foi enviado de volta à Rússia no dia seguinte, observou o relatório.

Putin rejeitou as acusações, dizendo a jornalistas: "Não há provas da culpa da Rússia pela queda do MH17". "A Rússia tem sua própria explicação do acidente do MH17, mas ninguém está nos ouvindo", disse Putin.

'Tome cuidado'

Os EUA se retiraram do acordo nuclear de 2015 com o Irã em maio de 2018. Desde então, as sanções americanas renovadas têm como alvo os setores financeiro e industrial de Teerã, causando um golpe devastador na economia do país.

Com as exportações de petróleo 90% menores, Teerã está ficando rapidamente sem dinheiro enquanto a inflação dispara. O Fundo Monetário Internacional prevê que a economia do Irã irá diminuir em cerca de 6% este ano – uma reversão abrupta da taxa de crescimento de 4,6% da República Islâmica no ano fiscal anterior.

Analistas dizem que o Irã, sob pressão das sanções dos EUA, intensificou suas atividades da zona cinzenta para forçar os líderes europeus a fazer concessões para as sanções.

O dia 6 de julho foi o fim do prazo de 60 dias imposto pelo Irã às nações europeias para que elas, de alguma forma, aliviassem a pressão das sanções dos EUA. Sem ajuda vinda da Europa, o Irã anunciou em 7 de julho que estava avançando no enriquecimento de urânio, violando os termos do acordo nuclear de 2015. Por sua vez, autoridades dos EUA estão agora ponderando sanções adicionais ao Irã.

"É melhor que o Irã tome cuidado", disse o presidente Donald Trump sobre os recentes acontecimentos.

Em 2015, o Irã e a Rússia assinaram um pacto militar de defesa, evidenciando uma relação militar mais próxima destinada a combater a influência dos EUA no Oriente Médio.

A Rússia fornece ao Irã equipamento militar, incluindo sistemas avançados de mísseis terra-ar. A Rússia também ajudou a construir alguns dos reatores nucleares do Irã.

É claro, dizem alguns especialistas, que a Rússia também se aliou ao Irã na guerra de informação para pintar os EUA como um agressor global.

Falando a repórteres em Jerusalém em 25 de junho, Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança da Rússia e assessor próximo de Putin, disse que a Rússia tinha informações de inteligência para provar que o drone dos EUA estava voando no espaço aéreo iraniano.

Patrushev em seguida desconsiderou a informação de inteligência dos EUA que provava que o Irã foi responsável por uma recente série de ataques a petroleiros no Oriente Médio.

“A Rússia e o Irã estão estreitamente alinhados e trabalham para capacitar e proteger os esforços uns dos outros. Neste caso, o Kremlin tem estado à frente com uma campanha de informação mais ampla apoiando a falsa narrativa do regime iraniano de que o Irã é a vítima e não o agressor”, disse Bugayova, pesquisadora do Instituto para o Estudo da Guerra.

Uma falha híbrida

A Rússia anexou a península da Crimeia, na Ucrânia, em março de 2014. No mês de abril seguinte, agentes de inteligência russos e forças de operações especiais orquestraram uma rebelião separatista na região de Donbas, no leste da Ucrânia, gerando duas repúblicas separatistas.

O Kremlin disse que a tomada da Crimeia em 2014 e o conflito no Donbas foram motivados por revoltas de base criadas e lideradas por ucranianos russos descontentes que acreditavam que o novo governo em Kiev era ilegítimo – o produto de um golpe orquestrado pela CIA para instalar um governo fascista, neonazista e pró-americano em Kiev.

Moscou planejou sua operação em Donbas por anos, e muitas peças já estavam posicionadas antes da revolução da Ucrânia em 2014. Consequentemente, em seus primeiros meses, a ofensiva híbrida da Rússia estava em marcha, saltando por Donbas, tomando cidade após cidade.

Naquela época, o exército regular da Ucrânia estava atrás deles. Desgastado por décadas de corrupção, ele só conseguiu deixar cerca de 6.000 soldados prontos para o combate quando a guerra começou. Assim, para defender sua pátria, ucranianos comuns ocuparam fileiras de unidades de combate civis e irregulares e partiram para as linhas de frente.

Foi um esforço de guerra popular – um exemplo de uma sociedade que não precisava ser empurrada para uma guerra pela propaganda. Pelo contrário, ucranianos de todos os tipos simplesmente pegaram em armas, muitas vezes com pouco ou nenhum treinamento militar formal, e lutaram para defender sua terra natal.

Por fim, essa coalizão das forças regulares e irregulares da Ucrânia interrompeu o avanço separatista russo usando o que a RAND Corp descreveu como “uma campanha de guerra de cerco, potencializando números amplamente superiores da Ucrânia e poder aéreo e de artilharia, para cercar e expulsar os separatistas do terreno fortificado”.

Em julho de 2014, apenas três meses depois do início do conflito, as forças ucranianas haviam retomado 23 dos 36 distritos anteriormente sob o controle russo-separatista. Então, em agosto de 2014, com sua operação híbrida em frangalhos, a Rússia invadiu o leste da Ucrânia.

Finalmente, a Ucrânia pediu a paz após a desastrosa batalha de Illovaisk, na qual unidades russas regulares mataram centenas de tropas ucranianas.

O subsequente cessar-fogo de setembro de 2014 impediu que a guerra aumentasse ainda mais. Um segundo cessar-fogo, conhecido como Minsk II, foi assinado em fevereiro de 2015.

No entanto, do ponto de vista operacional, o plano de guerra híbrido original da Rússia em Donbas foi um fracasso. Em um estudo de 2017, a RAND Corp. concluiu que, no leste da Ucrânia, a Rússia “não conseguiu a impulsão necessária sem recorrer à guerra convencional e à invasão direta”.

"A Ucrânia é um estudo de caso não no pioneirismo de novas abordagens não-lineares, mas no fracasso da guerra híbrida em alcançar os fins políticos desejados para a Rússia", observam os autores do estudo.

Hoje, a guerra no leste da Ucrânia permanece um conflito limitado e convencional. É uma guerra de trincheiras estática, em que os dois campos trocam fogo indireto diariamente – e na qual soldados e civis continuam a morrer. Mais de 13.000 ucranianos morreram até agora devido ao conflito.

Com os dois maiores exércitos de solo remanescentes da Europa ainda trocando fogo diariamente ao longo das linhas de trincheira no Donbas, há sempre a chance de um evento imprevisto – o chamado cenário Franz Ferdinand – dando início a uma cadeia de eventos que leva a um cataclismo muito mais mortal.

Por exemplo, um confronto naval em novembro de 2018 entre a Rússia e a Ucrânia no Mar Negro quase precipitou uma guerra maior.

Fora da zona de guerra do Donbas, a Rússia continua a usar táticas de guerra híbrida em toda a Ucrânia. Consequentemente, quase não há parte da vida ucraniana que não tenha sido afetada.

Os ataques cibernéticos russos atingiram a rede elétrica da Ucrânia, os sistemas de abastecimento de água, o sistema bancário do país (desativando caixas eletrônicos), seu maior aeroporto internacional e o processo eleitoral.

Durante anos, soldados ucranianos relataram ter recebido ameaças e demandas de rendição de seus inimigos russos por mensagens de texto de celulares.

Drones russos destruíram armazéns de armas ucranianos, e agentes russos implementaram um pogrom clandestino de assassinatos em toda a Ucrânia, tendo como alvo importantes agentes de segurança ucranianos e desertores russos.

Erro de julgamento

Ao usar táticas de guerra híbrida, os estrategistas militares russos contemporâneos estão mirando o calcanhar de Aquiles de qualquer adversário democrático – a opinião pública.

O conceito de "domínio da escalada" foi um princípio fundamental da estratégia de dissuasão nuclear da Otan contra a União Soviética. Em teoria, a superioridade militar dos EUA iria naturalmente impedir a União Soviética de entrar em guerra.

O problema com o conceito de domínio da escalada, no entanto, é que a opinião pública americana poderia se voltar contra um conflito bem antes de os militares terem explorado plenamente sua capacidade de causar violência.

Sem o apoio do público, as vantagens materiais dos Estados Unidos não são suficientes para obrigar um adversário a desistir sem lutar.

A opinião pública é "geralmente uma fraqueza de qualquer democracia", disse Vasyl Myroshnychenko, diretor do Ukraine Crisis Media Center, com sede em Kiev. "E uma vez que um poder adversário aprenda a afetar a opinião pública, ele tem a vantagem", disse Myroshnychenko.

No entanto, a guerra híbrida não é uma fórmula única para todos. De fato, o Kremlin adapta suas táticas de guerra híbrida de acordo com as fraquezas de cada adversário.

“As táticas de zona cinzenta da Rússia são mais eficazes quando o alvo está profundamente polarizado ou não tem capacidade para resistir e responder efetivamente à agressão russa”, escreve Czerewko, do Estado-Maior Conjunto, no recente estudo do Pentágono sobre a Rússia.

As atividades da zona cinzenta também não são necessariamente novas, em termos da história da guerra. Embora seja importante notar, muitos especialistas dizem que a guerra híbrida está se tornando a estratégia preferida para a crescente safra de adversários dos Estados Unidos.

Para regimes autoritários como os da Rússia, do Irã e da China – que se apoiam no nacionalismo para manter seu poder –, as táticas de guerra híbrida oferecem uma maneira de pressionar os Estados Unidos para o consumo doméstico enquanto hesitam sobre uma guerra convencional.

“Artimanhas como as que vimos no Irã nas últimas semanas, e as que sempre vemos na Rússia e na China, são típicas de governos fracos que estão ansiosos para demonstrar sua importância internacional e, por extensão, reforçar sua legitimidade internamente”, disse Gadzala, pesquisador do Atlantic Council.

Em alguns aspectos, os velhos paradigmas da justiça da guerra – que incluem métricas consagradas pelo tempo, como a proporcionalidade do uso da força letal – estão sendo desafiados nesta era de guerra híbrida.

Por exemplo, em que ponto um ataque cibernético merece uma resposta militar letal? Ou, é eticamente defensável lançar ataques aéreos letais em retaliação por um ataque a um drone de vigilância?

Agravando esses dilemas éticos, a guerra híbrida é inerentemente projetada para criar confusão no campo de batalha, principalmente no processo de comando e controle, nublando a percepção situacional tanto do pessoal em combate quanto de seus comandantes que controlam de longe o esforço de guerra. Para os militares ocidentais, que preferem ataques precisos com risco mínimo de danos colaterais, esse tipo de confusão pode ser paralisante.

No entanto, líderes russos e iranianos estão brincando com fogo, alertam especialistas.

Na prática, a utilidade da guerra híbrida depende da capacidade de um país avaliar com precisão a tolerância do adversário às provocações na zona cinzenta. Isso não é necessariamente fácil de fazer – especialmente porque os EUA e seus aliados ainda não criaram suas próprias regras sobre quando as atividades não-letais da zona cinzenta merecem uma resposta militar letal.

"A discrepância entre o entendimento de russos e de americanos sobre 'conflito' e 'guerra' continuará a crescer, levando a um maior risco de escalada em situações futuras envolvendo ambas as nações", observa o estudo do Pentágono.

“É imperativo que os EUA estabeleçam uma definição consensual de 'zona cinzenta' e faça uma reavaliação dos velhos paradigmas que definem guerra e paz, à medida que entramos em uma nova era de política internacional que é definida por tons de cinza”, prosseguiu o estudo.

Em seu ataque ao drone dos EUA, o Irã interpretou mal a linha vermelha de Trump e os dois países chegaram à beira da guerra. Por sua vez, o erro de avaliação na decisão da Ucrânia de entrar em combate em 2014 provou ser um erro fatal para o plano de guerra híbrida da Rússia no Donbas.

Os riscos não poderiam ser maiores, dizem os analistas. Se a Rússia, intencionalmente ou não, ultrapassar a linha vermelha dos EUA de tolerância à agressão na zona cinzenta, isso poderia desencadear uma guerra nuclear. E a campanha de atitudes temerárias do Irã contra interesses dos EUA no Oriente Médio caminha sobre o fio da navalha para detonar uma guerra regional.

Os analistas também alertam que o uso de forças proxy pelo Irã é uma grande preocupação. Uma lição da operação da Rússia no leste da Ucrânia é como essas forças podem ser erráticas – e como um elemento descontrolado pode desencadear uma escalada não planejada.

Consequentemente, oficiais dos EUA deixaram clara sua posição, advertindo repetidamente ao Irã que um ataque por um de seus agentes não ficaria impune.

"Se o Irã organiza, treina, equipa e fornece assistência para uma operação e faz tudo exceto puxar o gatilho, eles são responsáveis ​​por essa operação", disse Brian Hook, representante especial dos EUA para o Irã, durante uma coletiva de imprensa por telefone em 24 de junho. "Não fazemos distinção entre o governo do Irã e os seus agentes apoiados com assistência, treinamento e financiamento", disse Hook.

*Nolan Peterson, ex-piloto de operações especiais e veterano de combate no Iraque e no Afeganistão, é correspondente na Ucrânia.

©2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês

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