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Líder venezuelano Nicolás Maduro não publica dados sobre inflação, para desconfiança de seus críticos | MIGUEL GUTIERREZ/EFE
Líder venezuelano Nicolás Maduro não publica dados sobre inflação, para desconfiança de seus críticos| Foto: MIGUEL GUTIERREZ/EFE

Há um ano, um litro de leite longa vida integral custava em torno de 30 bolívares na Venezuela. Hoje, o mesmo produto é vendido a 90 bolívares. No mesmo período, um quilo de “carne especial” passou de 350 para 700 bolívares.

Embora o Banco Central tenha deixado, no final de 2014, de divulgar suas estatísticas oficiais sobre inflação, uma certeza, confirmada por economistas locais, instalou-se no país: a chegada da hiperinflação, que, este ano, segundo projeções privadas, poderia superar 120%.

Esta semana, o descontrole econômico foi admitido até mesmo por um ex-ministro do governo Hugo Chávez. Numa declaração que provocou debate acalorado, o ex-ministro do Planejamento Jorge Giordani, um dos arquitetos da economia bolivariana nos tempos de Chávez — ocupou o cargo quatro vezes por cerca de 12 anos — assegurou, em entrevista ao site “Aporrea”, que “as distorções graves que temos (na economia) são uma bomba-relógio”.

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Giordani não falou especificamente sobre a disparada dos preços internos, mas deixou claras suas divergências com a política econômica do governo do presidente Nicolás Maduro. “Não existe direção. Como vierem as coisas, vamos vendo”, alfinetou ele, acusado de “hipócrita” por colegas.

Na opinião de economistas como Orlando Ochoa, “o ex-ministro é um irresponsável, porque a crise começou em 2005, quando Chávez estava vivo”.

“Tecnicamente, já estamos vivendo uma hiperinflação. Quando a taxa de aumento de preços superou 100%, no final do ano passado, o governo deixou de publicar os dados. Para Maduro, o calendário eleitoral é mais importante do que resolver a crise“, lamentou Ochoa, fazendo referência ao próximo pleito legislativo, ainda sem data marcada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), mas que deve ocorrer este ano.

Para ele, em 2015 a inflação do país poderia até mesmo superar 150%. Ochoa afirmou que os problemas começaram em 2005, quando Chávez pediu autorização para utilizar as reservas do BC para “financiar seu projeto de poder”. Foi o início, segundo o economista, “de uma política monetária de emissão de moeda sem controle, que terminou acelerando o aumento de preços”.

“Muito depois chegou a queda do petróleo. Mas esse foi o golpe final, não a origem da crise”, enfatizou o economista.

Em recente entrevista a uma rádio local, o economista Ricardo Hausman, professor na Universidade de Harvard, nos EUA, disse que 2015 será o ano mais difícil da vida de todos os venezuelanos que nasceram depois de 1920.

“Todos os países passam por momentos em sua História em que se metem em problemas. Mas poucos países se metem nesses problemas com a total incompetência, insensatez e doença mental com que está operando este governo. O problema da Venezuela não se pode resolver com medidas técnicas e econômicas. A única forma é com uma mudança política”, opinou Hausman.

Pobreza

De acordo com dados da Universidade Católica (UC), nos últimos 12 meses a inflação acumulada atingiu 120%. No mesmo período, assegurou Luis Pedro España, diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da UC, “o preço dos alimentos aumentou ainda mais”.

“O BC não publica mais a inflação porque não quer assumir a hiperinflação. Nos últimos meses, alguns alimentos como cebola e batata foram reajustados em 600%”, confirmou España.

O economista lembrou, ainda, que o Instituto Nacional de Estatísticas deixou de informar a taxa de pobreza oficial em 2013. Segundo a UC, atualmente 52% dos venezuelanos vivem abaixo da linha da pobreza, superando até os níveis de 1999, ano em que Chávez chegou ao poder.

“Tudo o que o chavismo conseguiu em termos sociais se esfumou, porque não eram melhoras sustentáveis. Era uma ilusão, financiada pelo boom do petróleo”, frisou España.

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