• Carregando...
Sargento Ron Strang, que teve parte de sua perna destruída em uma explosão, voltou a caminhar normalmente depois de ter parte do tecido reconstituída | The New York Times
Sargento Ron Strang, que teve parte de sua perna destruída em uma explosão, voltou a caminhar normalmente depois de ter parte do tecido reconstituída| Foto: The New York Times

Método

Matriz extracelular funciona como "malha de sustentação"

Antes da cirurgia, perna de Strang tinha grande depressão

Matrizes extracelulares de porcos, ovelhas e outros animais vêm se ndo utilizadas na última década como uma camada de reforço para ajudar a reparar músculos do ombro, hérnias e outros problemas.

"Cirurgiões pensam nelas como malhas que sustentam as coisas juntas", afirma o pesquisador Stephen Badylak. A maioria deles não compreende o papel da matriz no envio de sinais e no reparo.

"Eles não entendem", completou. "Mas nós também não entendíamos, no começo."

A matriz extracelular é isolada através da remoção de todas as células vivas de um tecido ou órgão, deixando uma intrincada teia tridimensional de proteínas e outros compostos. Remover as células elimina a possibilidade de que o material, de origem animal, seja rejeitado pelo corpo durante a implantação. Mas a matriz provoca uma reação imunológica menos intensa, disse Badylak, o que é necessário para que ela funcione.

"O corpo pode dizer: ‘Isto não sou eu’, mas os sinais que estão ali me dizem que preciso reconstruir aquele tecido", explica o pesquisador.

Nos meses depois que uma bomba no Afeganistão explodiu parte de sua coxa esquerda, o sargento Ron Strang se perguntava se algum dia voltaria a andar normalmente.

A explosão e as cirur­­gias­­ subsequentes deixa­­ram Strang,­­­­ um fuzileiro de 28 anos,­­ com uma grande de­­pres­­são em sua coxa, em que­­ fi­­cava o músculo quadríceps. Ele podia mover a perna para trás, mas com uma­­ parte tão grande do músculo perdida, não conseguia colocá-la para frente. Ele podia andar, mas de forma desajeitada.

Isso foi há dois anos. Hoje ele caminha com facilidade, corre na esteira e está pensando numa carreira pós-exército como policial. "Se você me conhece, consegue perceber que eu manco um pouco", explicou. "Mas qualquer outra pessoa diz: ‘Eu nunca teria adivinhado’."

Há mais uma coisa que as pessoas nunca adivinhariam: Strang cultivou novos músculos graças a uma fina lâmina de material de um porco. O material, chamado matriz extracelular, é o andaime natural que sustenta todos os tecidos e órgãos, tanto em pessoas quanto em animais. Ele é produzido por células, e por muitos anos cientistas achavam que sua principal função era mantê-las na posição correta.

Hoje, porém, pesquisadores sabem que a matriz extracelular também envia sinais para o corpo cultivar e reparar tecidos e órgãos. Armados com esse conhecimento, os novos construtores de corpos vêm usando matriz extracelular de porcos e outros animais para projetar o crescimento de tecido de reposição em seres humanos.

A técnica, mesmo ainda­­ em desenvolvimento, representa uma promessa especial para alguns dos milhares de veteranos das guerras­­ do Iraque e Afeganistão, que foram mutilados por ex­­plosivos e às vezes perde­­ram tantos músculos de um braço ou perna que a ampu­­tação passou a ser a melhor alternativa.

Strang é um dos primeiros casos do que eventualmente será um estudo clínico de 80 pacientes para cultivar músculos de membros. Ele é­­ financiado pelo Escritório de Transição Tecnológica do Departamento de Defesa, mas­­­­ também deverá incluir civis.

"Estamos tentando trabalhar com a natureza, em­­ vez de enfrentá-la", argu­­men­­tou outro pesquisador,­­ Stephen Badylak, diretor-adjunto do­­ Instituto de Medicina Re­­ge­­nerativa da universidade.

O médico é pioneiro nesse tipo de estudo, pois descobriu a propriedades regenerativas há mais de duas décadas. Como parte de seu trabalho num coração mecânico, ele procurava por uma maneira de mover sangue de uma parte do corpo para outra, mas queria evitar materiais sintéticos – que podem causar coágulos.

Cético

Strang estava cético quando se inscreveu para o estu­­do e venceu todos os obstáculos físicos para se qualificar – entre outras coisas, os pacientes precisam ter um pouco de músculo remanescente e nervos suficientes para que o músculo possa funcionar. Mas nesse ponto ele estava disposto a tentar qualquer coisa para conseguir voltar a andar normalmente.

Ainda existe uma grande depressão na perna de Strang, ilustrando vividamente como um pouco de novo tecido muscular pode fazer a diferença.

"Foi impressionante", afirmou ele. "Logo de cara eu consegui dar um passo completo, eu pude dobrar o joelho, chutar um pouco, o bastante para aquele impulso inicial em que a gravidade faz o resto do trabalho." Duas semanas depois, ele estava na floresta, caçando com amigos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]