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Loja depredada em Chicago em agosto de 2020, durante protestos pela morte de George Floyd em Minnesota
Loja depredada em Chicago em agosto de 2020, durante protestos pela morte de George Floyd em Minnesota| Foto: EFE/EPA/ANNE FIELDS

Chicago atingiu uma marca sombria em 2021: o departamento de medicina legal do condado de Cook registrou 836 homicídios, o maior número em 25 anos. O Ano Novo não começou melhor: na semana passada, dois adolescentes de 14 anos foram assassinados em um intervalo de poucas horas; no mesmo dia, uma mulher grávida de 29 anos que estava dentro de um carro foi baleada e morta por dois homens.

Tal violência não é inesperada, dados os problemas da força policial da cidade e as restrições e falta de incentivo enfrentadas pelos policiais de Chicago. O Departamento de Polícia de Chicago tem uma defasagem de mais de mil policiais – isso depois que a prefeitura eliminou mais de 600 vagas na polícia em seus esforços para equilibrar o orçamento da cidade.

O departamento também enfrenta uma crise de recrutamento: apenas 5 mil pessoas se inscreveram na academia de polícia de Chicago no ano passado, enquanto cerca de 30 mil haviam feito inscrições nos anos anteriores. A turma mais recente da academia, que se formou há algumas semanas, representou um acréscimo de apenas 13 novos policiais à força.

Os policiais têm trabalhado em turnos de 12 horas, com poucas folgas. “As pessoas estão tão cansadas... é um esgotamento total... trabalhando assassinato após assassinato, tiroteio após tiroteio”, disse um sargento à rádio WBEZ Chicago.

Em dezembro, o departamento cancelou milhares de dias de folga de policiais depois que ladrões invadiram e saquearam várias lojas no centro da cidade. As prisões por crimes violentos caíram 39% em 2021 em comparação com 2019.

O departamento também está trabalhando sob um decreto federal para reformar o treinamento, as táticas e as práticas atuais, o que levou à redução do policiamento ostensivo.

Outros impedimentos para a ação dos policiais se seguiram ao assassinato de Adam Toledo, de 13 anos, pela polícia. Entre outras restrições, a nova política implementada em maio proíbe perseguições a pé se houver uma distância muito grande entre o policial e o suspeito e se os policiais concluírem que não poderão controlar o suspeito a ser perseguido caso ocorra um confronto.

O moral do departamento continua baixo, pois os policiais temem que um passo em falso ou desinformação veiculada pela mídia possa levar a uma ação disciplinar drástica. “Muitos de nossos policiais não estão efetuando prisões, estão deixando passar crimes que acontecem bem diante dos seus olhos porque não querem ser considerados racistas ou responsabilizados por qualquer tipo de acusação equivocada de brutalidade ou qualquer outra coisa”, disse Raymond Lopez, vereador do 15º distrito de Chicago, em uma recente reunião da Câmara Municipal.

Ainda mais preocupante é a incapacidade da cidade de impedir que suspeitos acusados ​​de assassinato e outros crimes violentos representem uma ameaça contínua. Na segunda-feira, o xerife do condado de Cook, Tom Dart, disse à CBS Chicago que 75% a 80% dos 2,6 mil réus monitorados pelo programa de prisão domiciliar foram acusados ​​de crimes violentos, incluindo “cerca de cem pessoas em monitoramento domiciliar que são acusadas de assassinato”.

Este sistema está sendo analisado mais atentamente desde o ano passado, já que várias pessoas que estão em monitoramento eletrônico cometeram crimes violentos. Até a prefeita progressista de Chicago, Lori Lightfoot, expressou indignação, pedindo ao juiz-chefe Timothy Evans que garanta que os suspeitos por crimes mais violentos não sejam libertados da prisão pelo programa de monitoramento eletrônico enquanto aguardam julgamento (ele negou o pedido).

“Você se sente seguro sabendo desses números? Eles estão de volta às ruas, circulando como se não houvesse nenhuma responsabilização pelos seus atos. É isso que está contribuindo para o nível de audácia [dos criminosos] que estamos vendo em nossas ruas”, disse ela na semana passada.

Mas a prefeita tinha um discurso diferente em 2020. Na onda no fervor revolucionário dos protestos por George Floyd, ela requisitou um corte de US$ 80 milhões do orçamento da polícia de Chicago. Agora a realidade chegou, e ela tem pedido repetidamente ao procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, para que envie agentes do Departamento de Justiça para apreender armas ilegais. “Não podemos continuar a suportar o nível de violência que estamos enfrentando agora”, disse Lightfoot em um discurso recente.

Embora os homicídios em Chicago tenham aumentado pouco em 2021, em 3,2%, esse aumento ocorreu após um aumento de 55% após a repercussão da morte de George Floyd em 2020.

Apesar de toda a conversa sobre igualdade racial, as vítimas dessa violência disseminada são predominantemente negras. No ano passado, houve a maior disparidade registrada em homicídios entre as partes desproporcionalmente brancas e ricas de Chicago e as áreas predominantemente negras e hispânicas no South e West Side. Nos sete distritos policiais com maior ocorrência de crimes, a taxa de homicídios foi 25 vezes maior do que no resto da cidade, onde os assassinatos permaneceram em patamares mais baixos.

O furacão de violência que assola as comunidades negras em Chicago deveria provocar manifestações do Black Lives Matters em todo o país. No ano passado, 84 crianças negras foram mortas somente em Chicago; é um número muitas vezes superior ao de americanos negros desarmados mortos a tiros pela polícia em todo o país.

No entanto, a mídia rapidamente deixará de lado histórias como a de LaNiyah Murphy, a garota de 20 anos dedicada ao ativismo antiviolência que foi morta na semana passada em Chicago, ou os 97% de vítimas de homicídio do ano passado que não eram brancas.

Quer provas de racismo sistêmico? Veja o descaso da grande mídia pelas vítimas de crimes violentos e pelas vozes de seus entes queridos implorando para que a presença da polícia seja restaurada em suas comunidades.

© 2022 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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