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Protesto em frente à embaixada dos EUA em Bagdá, no Iraque
Protesto em frente à embaixada dos EUA em Bagdá, no Iraque| Foto: AHMAD AL-RUBAYE/AFP

Uma sequência de eventos no fim de 2019 e início de 2020 novamente elevou as tensões entre os Estados Unidos e o Irã. O palco da vez é o Iraque. Entenda o que aconteceu.

EUA x Irã no Iraque

Bombardeio americano no Iraque

Em 29 de dezembro os Estados Unidos conduziram um ataque aéreo contra posições do grupo xiita Kataib Hezbollah (aliado do Irã e ligado ao Hezbollah do Líbano) na Síria e no Iraque, matando 24 membros do grupo que é considerado terrorista pelos EUA desde 2009.

A ação foi uma resposta a um ataque do Kataib Hezbollah a uma base americana no Iraque dois dias antes, que resultou na morte de um civil americano. Isso deixou bem claro que eventuais mortes de cidadãos americanos não serão toleradas pelo governo de Donald Trump, que evitou ações militares agressivas durante a crise no Golfo Pérsico na metade de 2019, tendo preferido adotar sanções econômicas contra o rival Irã após os ataques às instalações petroleiras da Arábia Saudita e a derrubada de um drone americano.

Repercussão no Iraque

Porém, os iraquianos condenaram o bombardeio americano em seu território, já que o Kataib Hezbollah, apesar de obedecer ordens do regime iraniano, é uma das milícias das Forças de Mobilização Popular (FMP), uma organização guarda-chuva patrocinada pelo governo iraquiano da qual fazem parte vários grupos xiitas que lutam contra o autointitulado Estado Islâmico. Os líderes das Forças de Mobilização Popular são figuras influentes na política iraquiana e possuem ligações com uma bancada do parlamento do país, portanto a resposta ao bombardeio americano não tardou a chegar.

A invasão à embaixada

Em 31 de dezembro, centenas de representantes de milícias xiitas do Iraque invadiram a embaixada dos Estados Unidos em Bagdá. Aos gritos de “morte à América”, eles quebraram uma das portas e incendiaram a recepção enquanto diplomatas americanos ficaram presos no interior do prédio. Alguns também jogaram pedras contra militares dos Estados Unidos. O cerco à embaixada durou dois dias e as próprias FMP pediram que os manifestantes se retirassem do local.

Defensor da força paramilitar Hashed al-Shaabi do Iraque durante um protesto na embaixada dos EUA em Bagdá | Foto: AHMAD AL-RUBAYE/AFP
Defensor da força paramilitar Hashed al-Shaabi do Iraque durante um protesto na embaixada dos EUA em Bagdá | Foto: AHMAD AL-RUBAYE/AFP| AFP
Mão do Irã

Segundo o Soufan Center, organização voltada a assuntos de segurança global, a invasão à embaixada americana não enfrentou quase nenhuma resistência das forças de segurança iraquianas, mas ao mesmo tempo os manifestantes evitaram adentrar no centro do prédio e atacar os diplomatas americanos, o que suscita suspeitas de que toda a ação tenha sido cuidadosamente orquestrada pelo regime iraniano. A tendência é que agora os líderes da FMP, tendo mostrado seu poder de mobilização, pressionem ainda mais o governo iraquiano do primeiro-ministro Adil Abdul-Mahdi a expulsar as forças armadas dos Estados Unidos de seu território.

Mais soldados americanos na região
Fuzileiro naval dos EUA reforçando a segurança na embaixada americana em Bagdá, no Iraque, em 2 de janeiro | Foto: Sargento Kyle C. Talbot / Departamento de Defesa dos EUA
Fuzileiro naval dos EUA reforçando a segurança na embaixada americana em Bagdá, no Iraque, em 2 de janeiro | Foto: Sargento Kyle C. Talbot / Departamento de Defesa dos EUA| AFP

Em resposta à invasão, os Estados Unidos anunciaram o envio de mais 750 soldados para a região. Uma fonte oficial do governo afirmou na quarta-feira (1º) que os soldados foram para o Kuwait, que faz fronteira com o Iraque. O secretário de defesa dos EUA, Mark Esper, afirmou que “a movimentação é preventiva em resposta ao aumento dos níveis de ameaças contra civis nas instalações dos EUA”. Atualmente, 14 mil soldados americanos estão na região do Golfo Pérsico.

A morte do major-general Qasem Soleimani.

Mas a retaliação mais severa dos EUA à invasão da embaixada americana veio nesta sexta-feira (3). Trump autorizou um bombardeio em território iraquiano que terminou com a morte do comandante das Forças Quds - unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã -, o general Qasem Soleimani, um dos homens mais importantes do regime iraniano. O Irã já prometeu vingança aos Estados Unidos. Com isso, a Embaixada dos EUA aconselhou que os cidadãos americanos deixem o país imediatamente. O colunista da Gazeta do Povo Filipe Figueredo explica essa história e analisa as implicações do ataque americano neste link.

Iraque, palco de um novo conflito?

Os recentes desenvolvimentos mostram como o Iraque se tornou um campo de disputas entre Irã e Estados Unidos - e sua aliada Arábia Saudita. O país de maioria xiita foi inundado por milícias financiadas pelo Irã após a queda do sunita Saddam Hussein. Em contrapartida, os Estados Unidos continuam sendo um aliado essencial do governo iraquiano na luta contra o Estado Islâmico. Se eventualmente houver uma escalada de agressões entre Estados Unidos e Irã, o Iraque provavelmente será o cenário do conflito.

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