• Carregando...
In this picture taken on July 12, 2019 a boy is walking on the top of a giant sea wall in northern Jakarta, during sunset. – Indonesia’s capital is being swallowed into the ground at such an alarming rate that experts warn much of it could be submerged by 2050. (Photo by BAY ISMOYO / AFP) / TO GO WITH STORY: Indonesia-environment-social, by Dessy SAGITA
Criança caminha sobre muro de contenção do mar no norte de Jacarta, Indonésia. A capital indonésia está afundando em velocidade alarmante e um terço de sua área pode estar submerso até 2050| Foto: BAY ISMOYO / AFP

A Indonésia construirá uma nova capital na ilha de Bornéu, lar de algumas das maiores reservas de carvão do mundo e habitat de orangotangos. O presidente Joko Widodo procura aliviar a pressão sobre Jacarta, que está superlotada e ameaçada pelo aumento do nível dos mares.

Jokowi, como é conhecido o presidente, disse a repórteres em Jacarta na segunda-feira (26) que a nova sede administrativa estará localizada entre North Penajam Paser e Kutai Kartanegara, em Kalimantan Oriental. A mudança da capital, para cerca de 1.400 quilômetros de distância de Jacarta, ajudará a dispersar a atividade econômica para fora da ilha de Java, a mais populosa do país, disse o presidente.

Jacarta enfrenta o risco de ser submersa pelo aumento do nível dos mares e pelo afundamento de seu solo, agravado pela extração de água subterrânea e pelo peso dos edifícios. Segundo o Fórum Econômico Mundial, Jacarta é uma das cidades que mais estão afundando no mundo: 4 metros nos últimos 30 anos. A situação é pior no norte da cidade, que afundou 2,5 metros só nos últimos dez anos. Modelos científicos preveem que, até 2050, 95% do norte de Jacarta pode estar submerso se as taxas atuais continuarem.

Jokowi manifestou uma urgência não demonstrada por seus antecessores ao pressionar pelo plano de realocação da capital, que vem sendo discutido periodicamente há décadas. Jacarta e sua região metropolitana, lar de cerca de 30 milhões de pessoas, têm sérios problemas de congestionamento e sua poluição está atingindo níveis prejudiciais. Enquanto isso, esforços para descongestionar a cidade tiveram pouco progresso, e dezenas de milhares de carros são adicionados às ruas todos os anos.

Com mais de 15.000 pessoas por quilômetro quadrado em Jacarta - mais de duas vezes a densidade de São Paulo - há pouco espaço para construir mais sem realojar milhares de famílias. Para piorar a situação, dois quintos da cidade estão abaixo do nível do mar e partes dela estão afundando até 20 centímetros por ano.

"Não podemos mais continuar sobrecarregando Jacarta e Java em termos de densidade populacional, congestionamento, poluição e recursos hídricos", afirmou Jokowi. "Jacarta continuará sendo o centro de negócios, comércio e serviços" e o governo está finalizando um plano de 571 trilhões de rupias (cerca de R$ 165 bilhões) para o desenvolvimento da cidade, disse ele.

O trânsito complicado de Jacarta é resultado da enorme importância da cidade para a economia do país. A área metropolitana gera quase um quinto do produto interno bruto anual da Indonésia. Engarrafamentos e problemas de transporte público custam à cidade cerca de 100 trilhões de rupias por ano em perdas econômicas, segundo estimativas oficiais.

  • Motocicletas e carros parados no trânsito durante a hora do rush em bairro de Jacarta, Indonésia, 10 de maio de 2019
  • Área na região de Samboja, Kutai Kartanegara, uma das duas regiões propostas pelo governo para a nova capital da Indonésia, que escolheu uma área da ilha de Bornéu
  • Muro de contenção marítima e uma mesquita abandonada submersa na costa do norte de Jacarta, Indonésia
  • Muro de contenção marítima na costa do norte de Jacarta. Uma das cidades que afundam mais rapidamente no mundo, especialistas alertam que um terço de Jacarta pode estar submerso até 2050 se as taxas atuais continuarem
  • Criança caminha sobre muro de contenção do mar no norte de Jacarta, Indonésia. A capital indonésia está sendo engolida pela solo em velocidade alarmante e poderia estar submersa até 2050

O custo de mudança da capital é estimado em 466 trilhões de rupias (R$ 135 bilhões), se envolver a urbanização de 40.000 hectares de terra para cerca de 1,5 milhão de habitantes, segundo estimativas do Ministério do Planejamento. O custo pode ser reduzido para 323 trilhões de rupias (R$ 93 bilhões) se apenas parte do aparato do Estado for transferida para uma área de 30.000 hectares, informou o ministério em abril.

Jokowi argumentou que mudar a capital ajudará a lidar com a disparidade de renda no arquipélago de mais de 17.000 ilhas. Enquanto Java responde por quase 60% da população da Indonésia e contribui com cerca de 58% do seu produto interno bruto, Kalimantan responde por 5,8% da população e contribui com 8,2% do PIB.

Jokowi promove a nova capital como um símbolo da identidade e progresso indonésios, e espera que o projeto seja uma parte significativa de seu legado. As autoridades falaram sobre a construção de uma cidade moderna, inteligente e verde, que pode servir como capital por um século.

A área escolhida para a nova capital, que ainda não foi nomeada, tem baixo risco de desastres naturais, como enchentes, terremotos, tsunamis e erupções vulcânicas. O governo controla cerca de 180.000 hectares de terra na área, disse Jokowi.

A construção da capital e a infraestrutura de transporte em uma região conhecida por suas florestas tropicais pode levar à perda de cobertura verde na área, disse Petr Matous, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade de Sydney.

"Novas estradas cortando áreas florestais quebram a continuidade da cobertura florestal e normalmente mais desmatamentos e queimadas ocorrem nas proximidades", disse Matous. "Depois que uma cobertura de floresta tropical é destruída e o micro-clima local muda, a probabilidade de incêndios aumenta, o que certamente teria um impacto muito mais negativo na preciosa fauna de Kalimantan Oriental".

O governo planeja iniciar a construção da nova cidade até o final de 2020 e realocar a capital em fases a partir de 2024, segundo o ministro do Planejamento Bambang Brodjonegoro. O projeto será financiado pelo governo e por meio de parcerias público-privadas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]